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O que explica a escalada do dólar, segundo o mercado financeiro

Alta acumulada no ano é da ordem de 17%. Fatores externos, como a tensão geopolítica, e internos, como o risco fiscal, são os motivos da disparada

Por Camila Pati, Luana Zanobia 23 out 2024, 09h58

Uma combinação de fatores internos e externos explica a volatilidade da moeda norte-americana, segundo economistas e interlocutores do mercado financeiro. Neste ano, a alta acumulada é da ordem de 17%. Se no começo do ano o dólar era negociado a R$ 4,85, agora é preciso desembolsar cerca de R$ 5,70 para cada dólar. Nesta quarta-feira, 23, a moeda americana abriu o dia mais uma vez em alta, vendida a R$ 5,72 por volta das 10h. 

No campo externo,  o aumento das tensões geopolíticas, especialmente no Oriente Médio, combinado com a incerteza nas eleições dos EUA, está pressionando o dólar para cima. A possível reeleição de Donald Trump, conhecido por políticas protecionistas, gera preocupações sobre um impacto inflacionário  nos Estados Unidos, levando o Federal Reserve a manter juros elevados. “O mercado aguarda as próximas movimentações do Federal Reserve, que poderão influenciar ainda mais o cenário cambial e econômico global”, João Kepler, CEO da Equity Fund Group.

Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank,  explica que o mercado enxerga uma gestão Trump como potencialmente mais inflacionária. “Trump  é mais expansionista, o que significa cortes de impostos e injeção de dinheiro na economia, tornando suas ações mais inflacionárias em comparação a Kamala Harris”, explica.

Por isso, está gerando a expectativa de que os cortes nas taxas de juros nos EUA sejam menores ou que os juros permaneçam elevados por mais tempo.  “isso está fazendo com que as treasuries subam lá fora, você pode ver nos últimos dias, e o dólar também está se valorizando, as moedas emergentes estão se desvalorizando”, diz o analista do Andbank.

No entanto, é o cenário interno,  com as incertezas sobre a capacidade do governo brasileiro de cumprir as metas fiscais, que responde pela maior parte, pela  volatilidade do câmbio. Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos explica que o aumento significativo do dólar em 2024, especialmente frente ao real, é impulsionado principalmente por incertezas fiscais e econômicas no Brasil. Ele destaca que, apesar de os Estados Unidos terem iniciado um ciclo de cortes de juros, o que normalmente aliviaria a pressão sobre o dólar, a saída de capitais do Brasil tem sido intensa devido à falta de clareza nas contas públicas. “Entre janeiro e setembro, o país viu a saída de mais de US$ 52 bilhões, refletindo a preocupação dos investidores com a capacidade do governo de cumprir suas metas fiscais e controlar o crescente endividamento”, afirma.

O ruído que vem de Brasília aumentaram também tem aumentado a percepção de risco entre os investidores.. As medidas de ajuste fiscal, incluindo congelamentos orçamentários, tentaram conter esses receios, mas o impacto no mercado  financeiro ainda é incerto.  “Esses elementos combinados — incertezas fiscais, políticas e movimentos globais de juros — estão contribuindo para a alta contínua do dólar, que pode se estender nos próximos meses caso essas variáveis não sejam controladas”, afirma.

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