Estudo aponta tombo do PIB e milhões de empregos perdidos com fim da escala 6 x 1
Reduzir a jornada em um país de renda média como o Brasil pode se transformar em um pesadelo estatístico

A ideia de trabalhar menos pelo mesmo salário tem apelo quase universal. Na superfície, soa como um avanço civilizatório: mais tempo livre, melhor qualidade de vida e, quem sabe, até ganhos de produtividade com empregados mais descansados. Mas, quando aplicada de forma descolada da realidade econômica, essa utopia pode se transformar em um pesadelo estatístico. Um novo estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) joga um balde de água fria na proposta que tramita no Congresso Nacional de reduzir a jornada de trabalho semanal para 40 horas, com o possível fim da escala 6×1 — aquela em que o trabalhador atua seis dias e folga um.
Segundo a Fiemg, em um cenário sem qualquer ganho de produtividade, a proposta poderia provocar uma queda de até 16% no Produto Interno Bruto (PIB), o que significa um tombo de aproximadamente R$ 2,9 trilhões no faturamento dos setores produtivos. Isso equivaleria a apagar da economia brasileira, em termos nominais, o PIB de dois Chiles. Ainda nesse cenário, o impacto sobre o emprego seria uma perda de até 18 milhões de postos de trabalho. A massa salarial, por sua vez, encolheria em R$ 480 bilhões — dinheiro que deixaria de circular em consumo, investimento e arrecadação tributária.
Mesmo em um quadro ligeiramente mais otimista, com um ganho hipotético de 1% na produtividade média da força de trabalho, os efeitos continuam severos: 16 milhões de empregos perdidos e redução de R$ 428 bilhões na renda dos trabalhadores. Não há mágica econômica capaz de compensar esse salto no custo da mão de obra sem uma contrapartida significativa em eficiência ou automação. A lógica é simples: menos horas trabalhadas significam menos produção, a não ser que cada hora seja muito mais produtiva — o que não é o caso do Brasil atual.
Comparações internacionais ajudam a colocar o debate em perspectiva. A jornada semanal média de trabalho no Brasil, hoje em torno de 40,5 horas, já é inferior à média global e só supera a de países ricos da Europa e da América do Norte, onde os ganhos de produtividade são muito superiores. Em economias maduras, a redução da jornada é sustentada por uma combinação de capital intensivo, inovação tecnológica e sistemas de bem-estar robustos. O Brasil, por outro lado, ainda luta com baixa qualificação da força de trabalho, uma produtividade estagnada há décadas e um mercado de trabalho que abriga quase 40% de informais.
No Brasil, a redução da jornada, sem o devido preparo, poderá acabar custando mais aos trabalhadores do que aos empresários — com menos vagas, salários mais baixos e mais instabilidade.
A proposta em discussão, embora bem-intencionada, ignora essa realidade. O Brasil não está em uma posição que lhe permita importar modelos trabalhistas de países escandinavos ou da Alemanha sem ajustes estruturais profundos. Reduzir a carga horária por decreto, sem um plano consistente para elevar a produtividade — por meio de educação, digitalização e investimento — é o equivalente econômico a colocar o carro na frente dos bois.