O setor privado pode contribuir mais no planejamento urbano
Há modelos inspiradores no Brasil e no exterior com foco no longo prazo

Olhando para as cidades brasileiras, vejo que os principais desafios, como mobilidade, saneamento, habitação, educação e segurança, são reflexos de um planejamento inadequado ou tardio. Ao falharmos em alinhar o desenvolvimento das cidades com o crescimento populacional, geramos um déficit urbano que repercute em diversas áreas. De acordo com o IBGE, foram registrados 970 000 casamentos no Brasil em 2022. Somado ao aumento natural da população, isso reforça a necessidade de moradias.
Mas a infraestrutura urbana e a oferta habitacional não acompanham a demanda. Como consequência, surgem moradias irregulares e informais, sem os requisitos básicos de habitabilidade e segurança, impondo uma sobrecarga aos serviços públicos. A lentidão na aprovação de projetos e a complexidade das regulações afetam o setor de construção civil e retardam a oferta de soluções seguras e regulamentadas. Mas a iniciativa privada tem um papel fundamental na oferta de moradias, especialmente para as faixas de renda mais baixas, em que a demanda é maior.
Curitiba, eleita em 2024 a comunidade mais inteligente do mundo, é exemplo de planejamento urbano com continuidade e coesão. Independentemente das mudanças de administração, a cidade mantém um plano de longo prazo e assegura uma lógica de desenvolvimento que transcende ciclos eleitorais.
“Para atender à busca por moradia é vital simplificar, padronizar e agilizar regras”
Um exemplo dessa estratégia foi a criação do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) em 1965. Responsável por transformar a identidade da cidade, o IPPUC idealizou marcos importantes, como o Teatro do Paiol, o primeiro calçadão do Brasil (Rua XV de Novembro) e o emblemático Jardim Botânico. Como um órgão autônomo, o IPPUC formula e acompanha a implementação de projetos, assegurando que as políticas públicas tenham visão integrada e de longo prazo. Maringá, também no Paraná, apesar de ser uma cidade jovem, já tem 400 000 habitantes e se destaca por contar com o Codem, conselho com participação de cidadãos que ajuda no planejamento em linha contínua.
No exterior, há modelos inspiradores. Nos Estados Unidos, os planos são aprovados em meses, permitindo uma rápida execução. Os órgãos reguladores estabelecem normas claras e acessíveis para que o setor privado possa planejar e construir sem demoras excessivas. Esse sistema, além de ágil, é baseado em previsões de crescimento demográfico, pela taxa de natalidade e pela imigração, para que a infraestrutura seja desenvolvida antecipadamente.
Simplificação, padronização e agilização das regras é essencial para atender à crescente demanda por infraestrutura habitacional e urbana. Essa mudança facilita a atuação do setor privado em projetos de moradia e mobilidade, com soluções seguras e acessíveis, contribuindo para a qualidade de vida das populações, especialmente as mais vulneráveis.
*Eduardo Fischer é presidente do grupo MRV&CO, uma plataforma de soluções habitacionais composta de cinco empresas: MRV, Sensia, Urba, Luggo e Resia
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Publicado em VEJA, janeiro de 2025, edição VEJA Negócios nº 10