Enquanto o Brasil eleva sua taxa de juros, aumentando a Selic de 10,50% para 10,75% em resposta às pressões inflacionárias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz um apelo global para aliviar as condições financeiras dos países em desenvolvimento. Em seu discurso durante a reunião ministerial do G20, nas Nações Unidas, Lula destacou as desigualdades gritantes que as economias emergentes enfrentam no acesso ao financiamento internacional, em comparação com os países ricos.
A mensagem de Lula é clara: as altas taxas de juros impostas ao Sul Global são insustentáveis e impedem o crescimento econômico. O presidente não se refere às taxas de juros domésticas, mas ao custo do financiamento externo, onde as nações em desenvolvimento enfrentam encargos muito maiores do que suas contrapartes desenvolvidas. Esses custos incluem os juros sobre empréstimos de instituições como o FMI e o Banco Mundial, bem como as condições aplicadas ao emitir títulos no mercado internacional.
Esse elevado custo se deve ao chamado prêmio de risco, que reflete a percepção dos credores internacionais sobre a maior probabilidade de inadimplência e instabilidade econômica em países emergentes. O risco percebido é influenciado por fatores como a instabilidade política, a volatilidade cambial e a dependência de commodities, que tornam os mercados desses países mais voláteis. Isso faz com que, por exemplo, o Brasil pague taxas de cerca de 6,5% ao ano por seus títulos soberanos denominados em dólares, enquanto nações como Estados Unidos ou Alemanha pagam taxas próximas a 2%.
Embora o financiamento externo e as taxas de juros domésticas sejam determinados por diferentes forças, há uma relação entre elas. A Selic, a taxa de referência do Brasil, é um importante termômetro da saúde econômica do país. Quando o Banco Central eleva a Selic, como fez recentemente, pode tornar os investimentos no Brasil mais atrativos, atraindo capital estrangeiro. No entanto, essa elevação também sinaliza aos investidores que o país está combatendo pressões inflacionárias e, possivelmente, instabilidade econômica. Isso pode aumentar o prêmio de risco, elevando o custo de financiamento externo.
Se o mercado identifica que o Brasil enfrenta desafios econômicos graves, o país pode ver seus custos de captação de recursos no exterior aumentarem ainda mais, agravando o ciclo de endividamento. “As taxas de juros impostas a países do Sul Global são muito mais altas do que as aplicadas às nações desenvolvidas”, destacou Lula, refletindo a frustração de muitas economias emergentes que lutam para financiar infraestrutura, saúde e políticas sustentáveis sem cair em uma armadilha de endividamento.
O endividamento, como enfatizou o presidente brasileiro, já estrangula a capacidade de investimento em áreas críticas. Em 2022, a diferença entre o que o Sul Global pagou a credores externos e o que recebeu em termos de novos investimentos foi de US$ 49 bilhões, ilustrando um sistema financeiro global que parece estar drenando recursos das nações que mais necessitam deles. “Há mais dinheiro saindo do que dinheiro entrando”, reiterou Lula, clamando por uma reforma urgente na arquitetura financeira internacional.
Lula, ao convocar reformas nas instituições multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, propôs que as juntas executivas dessas entidades aumentassem sua representatividade. Hoje, 25 assentos decidem o futuro econômico de mais de 190 países, uma configuração que, segundo Lula, favorece os interesses dos credores ricos em detrimento das necessidades urgentes das economias mais vulneráveis.