Os escândalos que levaram à demissão do CEO do Uber
Kalanick promete voltar melhor: 'Preciso trabalhar no Travis 2.0 para que ele se torne o líder que a companhia precisa e vocês merecem'
O presidente-executivo do Uber, o controverso Travis Kalanick, se licenciou do cargo no começo desta semana. O afastamento dele acontece após uma série de escândalos que ameaçam a reputação da empresa, como denúncias de assédio sexual, roubo de informação empresarial, ações trabalhistas de motoristas, além da suspeita de ter criado um sistema para fraudar a fiscalização em mercados onde o serviço era proibido.
Os sinais de que algo ia mal na empresa avaliada em 70 bilhões de dólares começaram em fevereiro, quando a engenheira Susan Fowler, ex-funcionária da companhia, denunciou um caso de assédio sexual e a péssima gestão da companhia.
Veja algumas polêmicas envolvendo o Uber:
Assédio sexual
Em seu relato, a engenheira Susan conta que procurou o RH do Uber para denunciar o colega que a assediava e foi aconselhada a mudar de setor ou a permanecer na mesma área, sabendo que poderia ser mal avaliada pelo chefe. Segundo ela, o RH informou que não podia fazer nada contra o assediador, pois ele era um funcionário bem avaliado.
Crise de valores
Em março, logo após a denúncia de Susan, o então presidente do Uber, Jeff Jones, saiu da companhia alegando que não podia continuar numa empresa que tinha valores incompatíveis com os seus. “As crenças e a abordagem de liderança que guiaram minha carreira são inconsistentes com o que vi e vivenciei na Uber, e eu não posso mais continuar como presidente do negócio”, escreveu ele ao se desligar do cargo.
Discussão com motorista
Kalanick foi filmado discutindo com um motorista do Uber, que disse a ele que a empresa estava falindo. O episódio repercutiu mal e o executivo foi obrigado a pedir desculpas aos motoristas e passageiros e prometer que seria um líder melhor.
“O vídeo é um reflexo do que sou, e as críticas que recebemos são um lembrete claro de que devo mudar fundamentalmente como líder, e amadurecer”, disse ele na ocasião.
Fraude na fiscalização
Reportagem do The New York Times revelou que o Uber desenvolveu um sistema para driblar a fiscalização de trânsito nas cidades onde o uso do aplicativo não estava legalizado. A companhia anunciou logo depois que estava proibindo a utilização desse programa.
Espionagem industrial
A Waymo, divisão de carros autônomos da holding do Google, acusa o Uber de roubar tecnologia. A empresa negou, mas demitiu o principal engenheiro de sua divisão de carros inteligentes.
Investigação de assédio
Na semana passada, o Uber divulgou o primeiro relatório da investigação contratada para apurar os casos de assédio na empresa. Conduzida pelo escritório de advocacia Perkins Cole, a investigação analisou 215 queixas de assédio registradas desde 2012. A empresa decidiu demitir 20 funcionários com base nas investigações.
Estupro na Índia
A empresa demitiu o presidente da região Ásia-Pacífico, Eric Alexander, que acessou de forma ilegal a ficha médica de uma mulher estuprada por um motorista do Uber na Índia.
Segundo o The New York Times, Alexander estava convencido de que o caso de estupro era uma armação da Ola, um dos maiores concorrentes da Uber na Ásia, para atrapalhar a expansão da companhia na região. Ele teria passado meses na Índia conduzindo sua própria investigação.
Uber 2.0
No e-mail em que informa sua licença aos funcionários, Kalanick promete voltar melhor. “Para que o Uber 2.0 possa ter sucesso não há nada mais importante do que dedicar meu tempo à construção de um time de líderes. Mas, se vamos trabalhar nesse Uber 2.0, eu preciso trabalhar no Travis 2.0 para que ele se torne o líder que a companhia precisa e que vocês merecem.”