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“Os militares começaram bem e acabaram mal”, alerta Guedes

Em conversa com o presidente Bolsonaro, o ministro reclamou das interferências dos generais na área econômica do governo

Por Thiago Bronzatto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 abr 2020, 17h49 - Publicado em 25 abr 2020, 17h44

Preocupado com os efeitos do coronavírus em seu governo, o presidente Jair Bolsonaro trocou a agenda liberal por um plano de investimento estatal. A ideia é fazer tudo aquilo que o ministro Paulo Guedes, o “Posto Ipiranga”, abomina: aumentar os gastos públicos para expandir as obras de infraestrutura no país. Essa nova estratégia foi anunciada nessa terça-feira, 22, pelo ministro-chefe da Casa Civil, general Walter Braga Netto, sem a presença do chefe da equipe econômica.

Nas últimas semanas, Guedes percebeu as investidas de Braga Netto na área econômica e reclamou com o presidente. Relembrando a época do regime militar no país, o ministro disse: “Os militares começaram bem e acabaram mal. Acabaram mal porque não privatizaram as empresas. Não abriram a economia. Não fizeram a transformação do Estado que nós queremos fazer”. Bolsonaro ouviu atentamente o seu “Posto Ipiranga”. Mas, poucos dias depois, o presidente deu aval para o chefe da Casa Civil e o ministro de Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, colocar em prática um plano reciclado da década de 1970.

O conflito entre a equipe econômica e a ala militar ocorre desde o início do governo Bolsonaro. Em março do ano passado, o empresário Salim Mattar, secretário especial de Desestatização, disse a VEJA que o ministério da Ciência e Tecnologia, comandada pelo astronauta Marcos Pontes, estava relutante em privatizar o Correios. “Ele (Marcos Pontes) tem cinco estatais (Correios, Correiospar, Telebras, Finesp e Ceitec) e não quer privatizar nenhuma delas”, afirmou.

Naquela época, a expectativa era arrecadar em quatro anos até 1 trilhão de reais com a venda e desinvestimentos de companhias públicas. Mas a realidade se impôs – e, até hoje, nenhuma “joia da coroa” foi negociada. A EBC, que o presidente prometeu fechar, continua de portas abertas, gerando despesas. Para piorar, em novembro do ano passado, foi criada uma nova estatal do setor aéreo, a NAV Brasil, com o apoio do Ministério da Defesa e de alguns militares. Guedes até tentou impedir nos bastidores essa façanha, mas não conseguiu e ainda acabou criando rusgas com o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, responsável pelas articulações políticas do projeto no Congresso.

Para os militares, certas estatais são inegociáveis, porque são consideradas estratégicas para o Brasil. Dentre elas, estão o Correios, a EBC e a Amazul, de tecnologia nuclear. Há também uma resistência de alguns políticos em relação às privatizações, que têm apaniguados espalhados em diversas empresas públicas como a Eletrobras. O presidente do Congresso, Davi Alcolumbre, faz coro com os seus colegas senadores ao dizer que é contra a capitalização da companhia elétrica.

Driblar esses obstáculos já era difícil para a equipe de Guedes. Agora, com a pandemia e o plano estatizante de Braga Netto, ficou ainda mais desafiador. No início deste mês, o ministro disse a VEJA que “teve que mudar a sua agenda” por causa do coronavírus, mas que não desistiu das suas propostas de reformas estruturantes, de longo prazo. Agora, caberá a ele convencer o presidente que não há milagre econômico.

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