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Países já pré-compraram 5 bilhões de doses da vacina da Covid-19

Na corrida do bilhão, 10 consórcios farmacêuticos apontam capacidade de produzir 13,8 bilhões de doses de vacina e a China nem está contabilizada

Por Josette Goulart Atualizado em 11 set 2020, 22h24 - Publicado em 11 set 2020, 18h32

Se todas as farmacêuticas do mundo que já fecharam algum tipo de acordo para a venda de vacinas contra a Covid-19 produzirem tudo o que elas dizem que são capazes de até o fim de 2021, daria para aplicar duas doses de vacina para quase o planeta inteiro. Dados compilados pela empresa Airfinity, publicados pela revista Nature e atualizados por VEJA junto aos sites das companhias mostram que dez dos principais consórcios farmacêuticos na corrida do imunizante teriam capacidade de produzir 13,8 bilhões de doses até o final do ano que vem. Juntas, elas já têm pedidos fechados e anunciados de quase 5 bilhões de doses. Dezenas de bilhões de dólares já foram injetados nos estudos. Os dados não refletem o potencial da China, já que apenas a chinesa Sinovac tem pré-ordens anunciadas. O que está por trás destes números é uma corrida desenfreada dos países, e das empresas, sobre quem chega primeiro em uma solução para a pandemia.

Os chineses, que começaram a estudar a vacina em fevereiro, estão mais avançados nos testes e duas empresas anunciaram que aplicaram milhares de doses em cidadãos chineses como parte de um programa de testes de emergência da vacina permitido pelo governo da China. A Sinovac, que tem parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo, informou que 90% de seus funcionários receberam a vacina e que ela é eficaz.

Nesta corrida do bilhão, quem parecia estar na frente era a AstraZeneca que em parceria com Universidade de Oxford estuda um imunizante com 2,5 bilhões de doses pré-compradas. O Brasil adquiriu o direito de ter 100 milhões de doses e uma medida provisória abriu um orçamento de quase 1,5 bilhão de reais para pagar pela tecnologia. A União Europeia comprou o direito de 400 milhões de doses, a Índia tem autorização para produzir 1 bilhão. Mas, nesta semana, todos tomaram um balde de água fria com o anúncio da suspensão dos testes por conta de uma paciente que teve reações adversas sérias. A paciente já recebeu alta e os testes devem ser retomados na próxima semana. Mas o alerta foi dado. Algumas vacinas podem se mostrar ineficazes.

Os chineses têm poucos acordos anunciados de pré-compra da vacina. Um dos principais é justamente com o Instituto Butantan, que prevê a produção aqui no País. Além de abastecer o país, o governo de São Paulo também tem autorização para vender para outros países da América do Sul. Na China, a Sinovac tem uma capacidade de produzir apenas 350 milhões de doses. Já as outras duas empresas chinesas que possuem vacinas em estágio avançado de testes, a Sinopharm e a CanSinoBio, sequer estão na lista da Nature. Mesmo em seus sites, não é possível saber suas capacidades de produção e não há acordos de venda já anunciados.

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Das quase 5 bilhões de doses vendidas, a maior parte foi vendida para países ricos e nestes números não há nenhuma venda significativa para a China. Apesar da sensação de que os Estados Unidos já compraram tudo, na verdade, quem mais fez aquisições foi o Reino Unido. Foram tantos acordos feitos que, se todas as vacinas funcionarem, poderiam ser aplicadas 5 vezes em cada britânico.

Entre os países mais pobres, a expectativa da Organização Mundial da Saúde é que as doses sejam distribuídas pela plataforma COVAX, coordenadas por organizações como Gavi (que tem como principal financiador a fundação Bill e Melinda Gates), a CEPI (Coalition for Epidemic Preparedness Innovations) e a Unicef. A plataforma reúne 172 países, sendo 92 de países pobres que receberão a vacina quase de graça por meio do financiamento de outros países e do setor privado. Por enquanto, a COVAX comprou apenas 300 milhões de doses. O objetivo, no entanto, é chegar a 2 bilhões de doses para serem distribuídas em dois anos.

As empresas que estão nesta corrida, por ordem de capacidade de produção, são: AstraZeneca, Sanofi/GSK, Novavax, Pfizer/BioNTech, Janssen Cilag, CureVac, Moderna, Sinovac, Valneva e Gamaleya. Este último é o laboratório russo que firmou parcerias para fazer os estudos da vacina com os estados da Bahia e Paraná, aqui no Brasil. Atualmente, nove vacinas estão na fase 3 dos estudos, que é a fase mais adiantada. Cerca de 35 imunizantes são considerados promissores. Mas, ao todo, 321 estão sendo estudadas. Se mais azarões começarem a entrar para valer no páreo, a corrida do bilhão vira a corrida do milhão.

 

 

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