Para onde vai o dólar, após acumular uma queda de 12% neste ano?
Economistas se dividem em relação à trajetória da moeda americana e projeções se estendem de 5,30 reais a 6 reais até dezembro

Duas fotografias resumem o comportamento do dólar em 2025. A moeda americana fechou o ano passado cotada a 6,18 reais para venda. O câmbio continuou acima dos 6 reais nas primeiras semanas do ano, pressionado pela desconfiança dos investidores estrangeiros quanto às promessas do governo Lula de que conteria o rombo fiscal. Mas, após um repique no início de abril causado pelo tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o dólar apresentou um recuo consistente. Nesta quarta-feira, 2, a moeda encerrou o dia em baixa de 0,75%, cotada a 5,42 reais para venda. Com isso, já acumula uma queda de 12% neste ano. A dúvida, agora, é se a baixa continuará, ou se a trajetória se inverterá.
Por ora, a média do mercado aposta que o real voltará a se desvalorizar frente à moeda americana. Pelo menos, é o que mostra o último Boletim Focus do Banco Central. Segundo o relatório, os agentes financeiros estimam que o ano termine com o câmbio a 5,70 reais. É verdade que esta foi a terceira semana consecutiva de corte das projeções. Há um mês, por exemplo, o Focus apontava que o dólar fecharia dezembro em 5,80 reais.
Para avaliar o rumo da divisa, é necessário primeiro entender o que contribuiu com a desvalorização até agora. Segundo os especialistas, três fatores ajudam a explicar a queda do dólar. O primeiro é o patamar elevado da Selic, hoje em 15% ao ano, frente à faixa de 4,25% a 4,50% estabelecida pelo Federal Reserve para a taxa básica dos Estados Unidos.
O segundo fator é a flexibilização da política comercial americana. Após chacoalhar o mundo em 2 de abril com o anúncio de sobretaxas às importações que variavam de uma alíquota mínima de 10% até os mais de 200% aplicados aos produtos chineses, Trump recuou diante da pressão das empresas americanas, que temiam uma explosão de custos, e congelou a vigência da medida por 90 dias. Nesse intervalo, se dispôs a negociar concessões a países que facilitassem a entrada de produtos americanos. Por último, a situação fiscal do Brasil está melhor do que o esperado no curto prazo, embora haja preocupações com o futuro.
André Galhardo, economista-chefe da consultoria Análise Econômica, lembra que é difícil fazer projeções para o câmbio, porque é uma variável fortemente influenciada por questões políticas internas e externas. Ele afirma, porém, que as condições atuais apontam para a continuidade da queda da moeda americana.
“Existe espaço para uma desvalorização do dólar nas próximas semanas, mas não significa que a queda vai se confirmar”, diz. Com base na taxa real de câmbio (isto é, descontada a inflação), na expectativa de longo prazo dos juros (considerados os contratos futuros com vencimento em janeiro de 2031), e o diferencial da taxa de juro real, Galhardo avalia que o dólar pode chegar a 5,30 reais.
“Mas há riscos no horizonte. Há conflitos geopolíticos como o do Irã, que pressionam o preço do petróleo, e daqui a sete dias vence o prazo para a suspensão do ‘tarifaço’ de Trump”, sublinha. Desde que as sobretaxas foram suspensas em meados de abril, os Estados Unidos conseguiram fechar apenas três acordos, e não há clareza sobre se as tarifas recíprocas serão retomadas de fato.
Rafael Cardoso, economista-chefe do Daycoval, a atual volatilidade dos cenários doméstico e internacional dificulta estabelecer uma projeção para o dólar. “Globalmente, o dólar perdeu valor importante nos últimos meses. E temos a questão no nosso diferencial de juros, que está em um patamar elevado”, diz.
Para parte dos economistas, a principal preocupação é a deterioração das contas públicas. Essa é uma das razões para que Carlos Lopes, economista do banco BV, esteja menos otimista com o câmbio. A instituição mantém uma projeção de 6 reais para o dólar até o fim do ano.
“É um ano complicado do ponto de vista geopolítico e ainda há as questões das tarifas de comércio”, diz Lopes. “Localmente, tem uma percepção de piora do risco fiscal no longo prazo. Esses são fatores de pressão ao câmbio.”