Pesquisa mostra que o pilar social é o elo mais frágil do ESG
Quatro em cada dez empresas brasileiras adotam a agenda, mas a integração dessas práticas com a formação de jovens talentos e inclusão social ainda é mínima
Apesar do crescente discurso em prol de práticas sustentáveis, o avanço do ESG (ambiental, social e governança) no Brasil continua modesto e, em particular, o pilar social permanece o mais frágil. Enquanto o país tem se destacado em áreas ambientais, como a expansão das energias renováveis, a inclusão social e a equidade nas corporações ainda não estão plenamente integradas a essas agendas. O pilar social, frequentemente ofuscado por iniciativas ambientais mais visíveis, tende a receber menos atenção.
Dados recentes mostram que quatro em cada dez empresas no Brasil adotam alguma forma de prática ESG, mas a integração dessas políticas com o desenvolvimento de jovens talentos e a inclusão social é mínima. Segundo uma pesquisa do Espro, apenas 22% das empresas integram programas de aprendizagem com suas agendas de ESG. Isso destaca a baixa percepção do “S” do ESG como parte integrante de uma estratégia corporativa sustentável. Apesar de 72% das empresas identificarem a contratação de jovens aprendizes como uma ferramenta de inclusão social, poucas enxergam isso como um movimento estratégico de longo prazo dentro de suas políticas ESG.
Essa desconexão evidencia como o pilar social, em particular, tem avançado pouco, muitas vezes sendo tratado como um item secundário e menos associado ao marketing das empresas, ao contrário das áreas ambientais, que frequentemente ganham destaque por serem mais facilmente “vendáveis” ao público e investidores. O foco na governança ambiental acaba dominando as discussões, deixando o social relegado a um papel periférico.
Nos Estados Unidos, o ESG enfrenta uma crise ainda mais profunda. A politização do tema e o aumento de casos de greenwashing — quando empresas exageram ou fabricam compromissos sustentáveis — têm minado a confiança na agenda ESG. Exemplos notórios, como o da ExxonMobil, que foi criticada por promover marketing verde enquanto continuava a investir pesadamente em combustíveis fósseis, e o do Wells Fargo, acusado de manipular suas iniciativas sociais enquanto financiava projetos ambientalmente prejudiciais, ilustram essa erosão de credibilidade. Essa tendência criou uma divisão no setor financeiro dos EUA, com vários estados impondo restrições a fundos de investimento que utilizam fatores ESG em suas decisões. Como consequência, grandes empresas estão reduzindo suas metas ESG para evitar acusações de engano ou retaliações.
Essa reação nos EUA não apenas desacelera o movimento ESG, mas também ameaça sua legitimidade global. O fenômeno do greenwashing expõe a fragilidade de uma agenda que, sem ações concretas e comprometidas, se transforma em mero discurso.
Enquanto isso, no Brasil, a falta de integração do pilar social dentro do ESG sugere que as corporações estão longe de entender e aplicar a responsabilidade social em sua plenitude. O avanço limitado do ESG no país não está apenas atrelado à dificuldade de implementação, mas também à baixa percepção de que esses programas podem gerar valor real, tanto econômico quanto social.
O futuro do ESG, seja no Brasil ou nos Estados Unidos, dependerá de uma verdadeira mudança de mentalidade. Para além das promessas ambientais e da governança corporativa, será necessário que as empresas compreendam a importância de promover uma inclusão social genuína, não apenas como uma obrigação legal ou uma tática de marketing, mas como um componente vital para a sustentabilidade de longo prazo. O desafio está em transformar o pilar social de uma promessa abstrata em ações que realmente impactem positivamente as comunidades e o desenvolvimento dos talentos do futuro.