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Petrobras: PF vê prejuízo em negócio com empresa da Odebrecht

Venda da petroquímica Triunfo para a Braskem gerou perda de até R$ 191,2 milhões, segundo relatório da Polícia Federal no âmbito da Operação Lava Jato

Por Felipe Machado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 fev 2018, 11h36 - Publicado em 8 fev 2018, 09h59

Um laudo preparado pela Polícia Federal, no Paraná, levanta suspeita sobre o valor de venda da Petroquímica Triunfo, da Petrobras, para a Braskem, do grupo Odebrecht, em 2009. De acordo com o documento, a negociação teria provocado um prejuízo para a estatal entre 144,4 milhões de reais e 191,2 milhões de reais. O relatório, feito por um perito criminal federal, foi incorporado a uma investigação que corre em segredo de Justiça e está no âmbito da Operação Lava Jato.

Segundo fontes, o inquérito começou em 2014, com denúncias dos ex-sócios da Petrobras na Triunfo. A estatal detinha na companhia, localizada no Rio Grande do Sul, uma fatia de 84,4%, por meio da sua subsidiária Petroquisa. O restante pertencia à Petroplastic, companhia da família Gorentzvaig.

Em 2008, antes do negócio com a Braskem, a Petrobrás tinha recebido uma oferta da Petroplastic para comprar a Triunfo por 355 milhões de reais. Mas a venda não foi fechada porque a estatal justificou que a sócia teria perdido o prazo para concluir a transação. O argumento da família era que o processo de avaliação da empresa ainda não tinha sido concluído. O caso foi parar na Justiça e, logo em seguida, a estatal iniciou conversas com a Braskem, de quem também era sócia, para fazer a incorporação da Triunfo por cerca de 250 milhões de reais, valor bem abaixo da oferta dos Gorentzvaig.

Nessa época, já era pública a estratégia de Braskem e Petrobras de assumir relevância mundial no setor petroquímico. Para isso, a estatal repassaria à empresa do grupo Odebrecht uma relação de ativos na área, que incluía, além da Triunfo, a Central Petroquímica do Sul (Copesul), a Petroquímica Paulínia, a Ipiranga Química e a Ipiranga Petroquímica.

Com a incorporação da Triunfo, a Braskem conseguiu o controle do Polo Petroquímico do Sul. Mais tarde, em 2010, também passou a controlar o Polo Sudeste, ao incorporar a Quattor, antiga Suzano Petroquímica. A compra dessa última empresa pela Petrobras, em 2007, também está sendo investigada pela Polícia Federal.

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O valor pago, 2,7 bilhões de reais, foi considerado alto, por estar muito acima do preço mínimo, conforme delação de Paulo Roberto Costa. “Como praxe, seria esperado que o preço de aquisição fosse próximo do mínimo, afim de atender aos interesses comerciais da Petrobras”, explicou o ex-diretor, na delação. Procurada, a Suzano Holding afirmou em nota que “toda a transação para venda da empresa atendeu a todos os requisitos legais. A avaliação dos ativos e a definição do valor da operação foi suportada por análises independentes feitas por bancos de primeira linha”.

Valores

No negócio envolvendo a Triunfo, a diferença entre as propostas levou os peritos da Polícia Federal a recalcular o valor da empresa com base em relatórios de bancos. Foram usadas as análises do UBS Pactual, contratado pela Petrobras para o negócio, e do Bradesco BBI, por parte da Braskem. O laudo incorpora ainda relatório do Santander, de 2007, encomendado pela Petrobras na negociação com a Petroplastic, que avaliava em Triunfo em 355 milhões  de reais.

O resultado do laudo é que houve subvalorização dos ativos da Triunfo. Os peritos dizem que a Petrobras teria negligenciado relatórios de avaliação feito pelo banco que ela própria contratou em benefício do relatório emitido pelo Bradesco BBI, que fez o cálculo para o comprador.

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“Os relatórios demonstravam um cenário mais desafiador, em grande parte pela iminência de uma crise mundial e por aspectos inerentes ao negócio. No entanto, constatou-se que o relatório usado para a tomada de decisão (Bradesco BBI) foi feito com excessivo viés de baixa”, afirmam os peritos, no documento.

Segundo eles, com base num fluxo de caixa reduzido, o Bradesco BBI chegou num valor da empresa de 249 milhões de reais enquanto os cálculos da perícia apontam para valores entre 393 milhões de reais e 440 milhões de reais.

Versões das empresas

Em nota, o Bradesco BBI disse que “prestou serviço de avaliação técnica à parte interessada na compra”, no caso a Braskem. Isso significa que o banco não participou de toda a negociação, mas só fez os cálculos de preço da empresa.

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A Braskem explicou que, em razão do acordo de leniência, assumiu o compromisso de cooperar com as autoridades. “Em relação especificamente a esse assunto (Triunfo), a empresa já se manifestou no processo de investigação, que corre sob segredo de Justiça. Com base em avaliações societárias e econômico-financeiras juntadas ao processo, a Braskem não identificou nenhuma irregularidade.”

Fontes do setor afirmam que a Braskem contratou relatório do economista Gustavo Franco para comprovar que não houve nenhuma irregularidade na incorporação da Triunfo e nos cálculos de preços dos ativos.

A Petrobras disse, também por meio de nota, que as autoridades públicas que conduzem as investigações da Operação Lava Jato e o Supremo Tribunal Federal reconhecem que a empresa é vítima de todos os fatos revelados pela operação. “A Petrobras segue colaborando com as autoridades e buscará o ressarcimento de todos os prejuízos causados em função dos atos ilícitos cometidos contra a companhia.” Ao contrário do passado, hoje a estatal segue o caminho inverso e tenta vender sua participação na Braskem.

Em uma guerra jurídica contra a Petrobras, a família Gorentzvaig acredita na recuperação da Triunfo. Auro Gorentzvaig acusa a estatal de “expropriar” a petroquímica da família em benefício da Braskem. Ele diz que há na Justiça ação movida pelo pai, Boris, que morreu em 2012. “A ação nos leva de volta ao mercado; pedimos a retomada de market share.”

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