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Pix parcelado: os impactos esperados e as reações provocadas pela nova era da ferramenta

No promissor caminho de aperfeiçoamento, a única preocupação é relacionada à investigação aberta pelos Estados Unidos

Por Felipe Erlich Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 10 ago 2025, 08h00

O Pix, sistema de pagamentos que transformou a forma como os brasileiros movimentam dinheiro, está prestes a ganhar uma nova funcionalidade: o parcelamento. Prevista para ser regulamentada pelo Banco Central em setembro, a novidade adiciona ao Pix o pagamento em prestações, um dos principais atrativos dos cartões de crédito. Além de acirrar a concorrência com gigantes como Visa e Mastercard, a iniciativa desperta a atenção internacional. Em julho, os Estados Unidos incluíram a modalidade em uma investigação sobre práticas comerciais desleais. Em resposta, o presidente Lula afirmou que, “se o Pix tomar conta do mundo, os cartões de crédito irão desaparecer”. Exageros à parte, é fato que a ofensiva dos Estados Unidos surgiu às vésperas de uma mudança que pode, sim, representar ameaça real a essa concorrência.

O parcelamento de transações via Pix já é oferecido, de forma independente, por algumas instituições financeiras há algum tempo. Pioneiro na modalidade, o Banco do Brasil movimentou 1,5 bilhão de reais desde dezembro de 2022, valor modesto diante dos mais de 5 trilhões de reais transacionados anualmente em Pix à vista pela instituição. Não por acaso, o próprio setor bancário solicitou ao Banco Central uma padronização, como forma de tornar a prática mais transparente e acessível ao consumidor.

DESAFIO - O dinheiro de plástico: bandeiras tradicionais vão sofrer
DESAFIO - O dinheiro de plástico: bandeiras tradicionais vão sofrer (//Getty Images)

Hoje, na ausência de regras claras, algumas instituições chegam a usar a fatura do cartão de crédito do cliente como base para o parcelamento do Pix, mas essa solução é considerada inadequada pelo BC. Com a nova regulação, o Pix parcelado passará a ser, de fato, um novo produto financeiro. O parcelamento será vinculado à análise de crédito pessoal do cliente e as taxas de juros ficarão a cargo de cada banco, de acordo com o perfil de risco do pagador. Tudo isso sem cobrança de tarifas adicionais e sem a intermediação das operadoras de cartões.

O Pix parcelado tem, de fato, potencial para se firmar como uma alternativa relevante ao cartão de crédito. “O objetivo não é eliminar nenhum meio de pagamento, mas ampliar as opções disponíveis para a população”, afirma Breno Lobo, chefe adjunto do Departamento de Competição e Estrutura do Mercado Financeiro do Banco Central. A expectativa, também compartilhada pela Federação Brasileira de Bancos, é de que a nova funcionalidade impulsione ainda mais a já ampla adesão ao Pix. Até junho de 2025, mais de 168 milhões de brasileiros já haviam feito ou recebido ao menos uma transação instantânea. Hoje, o sistema lidera com folga entre os métodos de pagamento no país: 46% da população usa a ferramenta como principal forma de transação, mesmo tendo sido lançada há menos de cinco anos. Os cartões de débito e crédito, apesar de décadas de presença no mercado, são os preferidos de apenas 17% e 11% dos usuários, respectivamente.

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SEM FRONTEIRAS - Krugman: tecnologia é exemplo para o mundo
SEM FRONTEIRAS – Krugman: tecnologia é exemplo para o mundo (Horacio Villalobos/Getty Images)

O Banco Central acredita que as compras feitas por meio do Pix parcelado tendem a ter preço igual ou inferior para os consumidores em relação às realizadas com cartão de crédito. A expectativa se baseia na ausência de tarifas adicionais — como as cobradas pelas maquininhas — e no recebimento instantâneo dos valores pelos comerciantes, o que pode estimular o oferecimento de descontos. “Varejistas pagam caro para aceitar cartões de crédito”, afirma Ana Paula Tozzi, diretora-executiva da AGR Consultores. Para ela, a entrada do Pix parcelado promete aquecer a concorrência: “As operadoras e bandeiras de cartão vão ter que melhorar suas condições”. Apesar do cenário desafiador, a Mastercard demonstra confiança em sua capacidade de adaptação. “Assim como o mercado de pagamentos evolui rapidamente, o cartão de crédito acompanha essas mudanças”, declarou a empresa em nota. A Visa preferiu não se manifestar.

arte Pix

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No promissor caminho de aperfeiçoamento da ferramenta, a única preocupação é relacionada à investigação aberta pelos Estados Unidos. “Os americanos podem concluir que as empresas do país são incapazes de competir com o Pix e que a ferramenta estaria distorcendo o mercado”, afirma um ex-diretor do Banco Central que hoje atua na iniciativa privada. Os bancos brasileiros reforçam que o Pix não é um produto comercial, como os cartões, mas um sistema público de pagamentos, acessível a todas as instituições financeiras. Ainda assim, há temor de que a pressão resulte em sanções contra o país. A solução criada pelo Banco Central preocupa mesmo a concorrência e vem conquistando reconhecimento internacional. Em artigo recente, o Nobel de Economia Paul Krugman afirmou que o Brasil pode ter inventado o futuro do dinheiro. “Outros países podem, sim, aprender com o sucesso do Brasil no desenvolvimento de um sistema de pagamentos digital”, disse. De fato, o Pix já se consolidou como uma inovação inquestionável — e sua próxima evolução promete acelerar ainda mais a transformação do sistema financeiro brasileiro.

Publicado em VEJA de 8 de agosto de 2025, edição nº 2956

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