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Poder em xeque: como o cerco judicial à Meta pode transformar as redes

Caso tem potencial para redefinir limites legais para gigantes da tecnologia

Por Felipe Erlich Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 abr 2025, 08h00

Na segunda-feira 14, Mark Zu­cker­berg, o presidente do grupo Meta e um dos homens mais poderosos do mundo, testemunhou no que talvez seja o julgamento mais importante da história de seu império digital. A Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos (FTC, na sigla em inglês) acusa o conglomerado de monopólio no segmento de redes sociais, e quer forçar a Meta, dona do Facebook, a se desfazer das redes Instagram e Whats­App — cujas compras, paradoxalmente, foram autorizadas pela FTC há mais de uma década. A mudança de postura da autarquia federal americana é notável. “Eles decidiram que a competição era difícil demais e seria mais fácil comprar seus rivais do que competir com eles”, disse um advogado da FTC. De fato, em 2008 Zuckerberg escreveu um e-mail interno dizendo que é melhor comprar concorrentes do que competir, o que só reforça o seu modus operandi. A compra do Instagram, que movimentou 1 bilhão de dólares, foi chancelada pelos reguladores em 2012. Já o WhatsApp acabou sendo adquirido pela Meta em 2014, por 19 bilhões de dólares. Por mais que seu resultado seja incerto, o julgamento pode redefinir o futuro do gigante tecnológico e provocar impacto profundo em todo o mercado digital, estabelecendo novos limites às big techs.

arte Meta

A Meta argumenta que comprou os aplicativos de compartilhamento de fotos e troca de mensagens para desenvolvê-los em paralelo ao Facebook, o que demandou investimentos nas plataformas por parte do grupo. A defesa também pontua que há empresas não ligadas à Meta que atuam no segmento de redes sociais e, portanto, competem com ela. Alguns dos principais exemplos são YouTube, TikTok e LinkedIn. Chama atenção, no entanto, que três das cinco maiores redes sociais do mundo pertencem ao mesmo conglomerado. Juntos, Facebook, Instagram e Whats­App mantinham cerca de 7 bilhões de usuários ativos em fevereiro deste ano, enquanto o YouTube, segundo maior representante do setor, registrava 2,5 bilhões de usuários. Ao ser questionada por VEJA, a empresa enviou um posicionamento oficial no qual chama a ação judicial da FTC de “frágil” e diz que ela “ignora a realidade” da concorrência no setor.

CUSTO ALTO - Sede da autarquia FTC: ação poderá provocar muitos estragos nas finanças da companhia
CUSTO ALTO - Sede da autarquia FTC: ação poderá provocar muitos estragos nas finanças da companhia (Roberto Schmidt/AFP)

Para Ivar Hartmann, mestre em direito pela Universidade Harvard e professor do Insper, o histórico americano é negativo no combate a práticas anticoncorrenciais de redes sociais, mas recentes decisões judiciais apontam para uma mudança significativa. “A im­pressão é de que esse julgamento integra uma virada na atuação da Justiça americana diante das big techs”, afirma Hart­mann. Ele cita ainda outro caso emblemático que reflete a nova postura dos tribunais. Em agosto do ano passado, a Justiça dos Estados Unidos reconheceu que o Google detém o monopólio de buscas na internet. A empresa e o Departamento de Justiça americano discutem atualmente quais serão as consequências práticas da decisão. Embora ainda não haja clareza sobre as implicações futuras, a postura crítica em relação ao domínio de mercado seria impensável há alguns anos.

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A ofensiva da FTC poderá provocar estragos nas finanças da Meta. Uma eventual venda forçada do Instagram reduziria drasticamente o faturamento do grupo, já que a rede responde por quase metade de suas receitas publicitárias, segundo a consultoria americana eMarketer. Em 2024, os anúncios no Instagram somaram aproximadamente 32 bilhões de dólares, valor que cresce consistentemente ano após ano. A gravidade da situação levou Mark Zuckerberg a recorrer ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. No mês passado, segundo reportagem do jornal americano The Wall Street Journal, Zuckerberg reuniu-se com Trump na Casa Branca para pedir ajuda. O encontro exemplifica a recente aproximação entre o empresário e o governo republicano: depois da eleição presidencial de novembro, os dois jantaram juntos na mansão do presidente na Flórida, e, meses depois, Zuckerberg doou 1 milhão de dólares para os preparativos da posse de Trump.

arte Meta

A dificuldade em promover competição no ramo das redes sociais tem um paralelo histórico evidente. “Devido ao grau de dependência da sociedade em relação às big techs, o desafio hoje é ainda maior do que na época dos grandes barões industriais, como Rockefeller, cujo domínio motivou as primeiras leis antitruste”, afirma Patricia Peck, especialista em direito digital e fundadora do escritório Peck Advo­ga­dos. Durante boa parte do século XX, os Estados Unidos foram reconhecidos por estimular uma economia de mercado equilibrada e por combater a concentração de poder econômico. Agora, segundo Peck, a ascensão de um novo setor igualmente poderoso demanda esforços regulatórios semelhantes aos aplicados no passado. A FTC parece ter acordado para o caso, que toca no ponto crucial da fórmula da prosperidade econômica americana: a concorrência.

Publicado em VEJA de 17 de abril de 2025, edição nº 2940

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