A projeção da inflação continua a subir, refletindo o impacto da alta dos preços no país, que passaram a acelerar com a retomada das atividades econômicas e o aquecimento do consumo. Pela sétima semana consecutiva, analistas do mercado financeiro revisaram para cima a estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Segundo dados do Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira, 28, a inflação deve encerrar o ano em 2,05%, acima do previsto na semana passada, 1,99%. O valor segue abaixo da meta definida pelo governo, de 4% neste ano, e também abaixo da tolerância da meta, que varia entre 2,50% e 5,50%. Apesar disso, as revisões consecutivas ligam o alerta para a pressão inflacionária na retomada da economia. No desafio da recuperação da crise do novo coronavírus, é preciso ter a inflação em vista para que a alta dos preços não saia do controle.
Apesar de sete semanas seguidas de revisão para cima, com a alta sentida principalmente em itens de cesta básica, o que faz com que a previsão para a inflação não dispare é o relativo controle dos preços nos núcleos. Gastos relacionados a serviços e educação estão menos voláteis, reflexo da desaceleração provocada pela pandemia, mesmo com a retomada gradual das atividades em todo o país. Em abril e maio, período mais agudo da crise provocada com a pandemia, com o fechamento de atividades não essenciais, houve deflação. Com a reabertura das atividades e a injeção de recursos transferidos pelo auxílio emergencial, a demanda aumentou e essa aceleração causa a pressão nos preços sentida atualmente.
ASSINE VEJA
Clique e AssineMesmo com a aceleração, o mercado não espera alteração na política monetária do Banco Central, que mantém a taxa básica de juros em 2% neste ano. A projeção tanto para a Selic quanto para a inflação continuam as mesmas para 2021 e 2022 – 2,5% e 3,01% no ano que vem e 3,5% e 4,5% no seguinte. Apesar de o BC admitir a inflação em curto prazo, como sinalizado na ata da última reunião do Copom e no relatório trimestral de inflação, a autoridade monetária vê risco de desaceleração porque ainda há muita ociosidade na economia e há dúvidas sobre como será a retomada após o fim das medidas de socorro a economia no período da pandemia, como o auxílio emergencial, que se encerra em dezembro.
Apesar do alerta sinalizado pela inflação, a projeção para o desenvolvimento da economia melhora semana após semana. Segundo os economistas consultados pelo Banco Central, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve fechar o ano em -5,04%, ligeiramente acima da semana passada, quando a previsão foi de 5,05%. Com as melhoras consecutivas na projeção, a cada semana fica mais claro que a fase mais aguda da crise provocada pelo coronavírus ficou para trás na economia.
Após dezoito semanas de revisões para baixo, acompanhando a escalada do novo coronavírus no Brasil, as projeções do PIB que chegaram a -6,54%, se estabilizaram em junho e passaram a melhorar em julho e agosto com a reabertura gradual das atividades. Os dados do Focus não indicam uma recuperação em “V”, jargão econômico para mostrar uma volta rápida, mas, mesmo com a revisão desta semana, há indicativo de recuperação da economia, mesmo que lenta. Alguns setores, entretanto, mostram retomada mais rápida, como o comércio, beneficiado diretamente pelo auxílio emergencial.
Vale salientar, porém, que a recessão é significativa e atinge o país no ano em que se esperava uma reação da economia, que dava sinais de recuperação da crise vivida entre 2015 e 2016. No início do ano, a expectativa do mercado financeiro era de que a economia brasileira crescesse 2,3%, acima dos desempenhos de 2017 e 2018 (+1,3%) e 2019 (1,1%).
A expectativa do mercado para projetar o crescimento da economia para os próximos anos é a retomada da agenda reformista. Na semana passada, o governo enviou a reforma administrativa ao Congresso Nacional. Atualmente, a previsão do PIB para 2021 e 2022 continua estável em 3,50% e 2,5%.