A Volkswagen, maior montadora de automóveis da Europa, enfrenta uma de suas crises mais severas em décadas. A empresa avalia fechar três fábricas na Alemanha, demitir milhares de funcionários e cortar salários em até 10%. As medidas marcam um ponto de inflexão dramático para uma das gigantes da indústria automotiva global.
Com mais de 300 mil funcionários no país, a empresa busca desesperadamente maneiras de conter os crescentes custos operacionais enquanto lida com a concorrência chinesa e a redução da demanda.
A montadora tem enfrentado semanas de negociações com os sindicatos, que têm tentado proteger empregos e evitar o fechamento de fábricas em solo alemão – algo inédito nos 87 anos de história da Volkswagen. As plantas de Osnabrück e Dresden são apontadas como as mais prováveis candidatas ao fechamento. A empresa, no entanto, não confirmou quais plantas serão fechadas e nem o tamanho do corte do quadro de funcionários.
Segundo o jornal alemão Handelsblatt, a empresa está considerando um corte salarial universal e a suspensão de aumentos até 2026. A medida traria uma economia de cerca de € 4 bilhões, uma cifra reveladora da pressão enfrentada pela empresa. A diretoria da Volkswagen, sob o comando do CEO, Oliver Blume, tem defendido que esses cortes são cruciais para garantir a viabilidade financeira da montadora diante de uma mudança estrutural no mercado global.
A Volkswagen não está sozinha nessa tempestade. A demanda por carros na China, o maior mercado automotivo do mundo, desacelerou acentuadamente, afetando diretamente as vendas da montadora. Além disso, a crise energética e o impacto da guerra na Ucrânia contribuíram para um aumento dos custos de produção, especialmente na Europa, onde a economia enfrenta seu segundo ano consecutivo de contração.
A pressão por cortes é também uma resposta à rápida transição para os veículos elétricos (EVs). Embora a Volkswagen tenha investido bilhões em sua linha de EVs, ela enfrenta forte concorrência de fabricantes chineses e da Tesla, que conseguiram produzir modelos mais acessíveis e avançados. A desaceleração da economia alemã só agrava o cenário, com o governo do chanceler Olaf Scholz sendo pressionado a agir para salvar a indústria automobilística – pilar central da economia do país.
“O ambiente econômico tornou-se ainda mais difícil e novos players estão entrando na Europa”, disse Oliver Blume, CEO da Volkswagen, em um comunicado. “A Alemanha, como ambiente de negócios, tem ficado cada vez mais para trás em termos de competitividade.”
O fechamento das fábricas na Alemanha é emblemático de uma empresa que, por muito tempo, foi associada à força industrial do país. No entanto, os tempos mudaram, e a Volkswagen, agora, enfrenta uma necessidade urgente de se adaptar.
A crise na Volkswagen ecoa um desafio maior para a economia alemã. A chefe do conselho de trabalhadores, Daniela Cavallo, alertou que a indústria nacional está em risco de “ir para o ralo” se o governo não apresentar um plano para proteger o setor.