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Por que o alto número de criação de empregos não é uma boa para Biden

Entenda como a maior empregabilidade da economia pressiona a inflação e eleva a perspectiva de aumento da taxa de juros, que pode trazer recessão no futuro

Por Renan Monteiro Atualizado em 8 jul 2022, 17h58 - Publicado em 8 jul 2022, 17h19

Se estivesse em um cenário sem inflação, o aumento mensal de mais de 300 mil empregos consecutivamente, desde junho de 2021, seria motivo de euforia e comemoração para o governo de Joe Biden. Sobretudo, às vésperas das eleições de meio mandato, que acontecem neste ano. Só em junho foram novas 372 mil ocupações adicionadas à economia americana, conforme relatório do Departamento do Trabalho divulgado nesta sexta-feira, 8. Porém, no atual contexto, o registro representa um aquecimento maior do que esperado no mercado de trabalho e um risco para o governo ter sucesso no combate aos elevados índices inflacionários no país, o grande fator que prejudica atualmente a popularidade do presidente.

Por um lado, o crescimento da taxa de empregabilidade alivia os temores de recessão por lá, no curto prazo. De outro lado, em tempos de escalada geral de preços, uma forte elevação do número de empregos é sinônimo de uma economia ainda pulsante, afinal, o elevado consumo da população abre espaço para as empresas continuarem contratando mais trabalhadores e aumentando os seus gastos trabalhistas, repercutindo na inflação. “A demanda por trabalho nos EUA está bem aquecida, e a oferta de trabalho está bem aquém da demanda. Dado que as empresas precisam dos trabalhadores, elas acabam pagando salários mais altos para atraí-los e isso gera pressão de custos. Esses maiores custos são repassados ao consumidor, nos preços dos produtos e serviços”, explica Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.  

O desequilíbrio entre oferta e demanda no mercado de trabalho (um dos dilemas da economia americana) é complementado por outro grande problema: a oferta de bens e serviços está em choque global. Os motivos principais são a guerra na Ucrânia, que impactou diretamente a oferta de combustíveis, e os problemas logísticos na cadeia mundial, ainda como consequência da pandemia. O petróleo, por exemplo, é um insumo para a produção de diversos bens, como a gasolina, e também encarece os serviços, como o transporte. Um desequilíbrio entre a sua oferta e demanda eleva, dessa forma, os preços no mercado mundial. 

Em uma análise geral, os preços de bens e serviços estão crescendo pelo mundo porque, embora a oferta esteja prejudicada, a demanda continua a mesma ou até mais elevada. Nos EUA, há ainda o fator de que os auxílios financeiros, criados após as restrições sociais, estimularam uma demanda forte. Tal boom inflacionário virou preocupação da população e de governos mundo afora. O presidente Biden enfrenta uma taxa de rejeição de 56,4%, segundo pesquisa da FiveThirtyEight, e o seu Partido Democrata corre o grande risco de perder cadeiras no Senado (atualmente com uma leve maioria) e na Câmara dos Representantes. Hoje, 8, o anúncio do aumento da taxa de emprego recebeu pouco alarde, valendo, no máximo, para um tweet genérico do presidente.

Juros

Buscando controlar a inflação, o Federal Reserve aposta na estratégia mais tradicional: subir a taxa básica de juros. A mais recente elevação foi em junho, com uma subida de 0,75 ponto porcentual, movimento inédito desde 1994. Com a perspectiva de mais aumento neste mês, a taxa por lá está no intervalo de 1,5 a 1,75%. Para o consumidor comum, juros altos significam aumento no custo do crédito e a consequente redução da demanda por bens e serviços. Para as empresas, causam aumento no custo de empréstimos e, portanto, uma redução do investimento e do crescimento empresarial. E, por fim, trariam uma redução na taxa geral de emprego. Considernado a lógica tradicional, para reduzir a inflação e “esfriar a economia”, há um custo social, a chamada “taxa de sacrifício”.

Na análise do professor Carlos Caixeta, das instituições de ensino FGV e Ibmec, a redução do emprego nos Estados Unidos será melhor percebida entre o último trimestre de 2022 e o primeiro de 2023. “Há um espaço relativamente grande de tempo entre o aumento dos juros e a consequente redução da atividade econômica e posteriormente dos níveis de emprego. Muitas vezes esse ‘gap de impacto final no emprego’ fica entre 6 e 9 meses”, explica Caixeta, também membro do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

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