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Por que o Brasil não pode depender da OMC para lidar com o tarifaço de Trump

Eventual vitória do Brasil na OMC contra as tarifas de Trump dificilmente teria efeito prático

Por Márcio Juliboni Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 14 fev 2025, 18h51 - Publicado em 14 fev 2025, 18h42

Em entrevista à Rádio Clube do Pará nesta sexta-feira 14, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil pode recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra os Estados Unidos, caso o presidente Donald Trump leve adiante os planos de aplicar tarifas recíprocas sobre as importações e de 25% sobre o aço e o alumínio que abastecem os americanos. Grande arena dos embates internacionais nos anos 1990 e 2000, a OMC  é bombardeada por Trump desde seu primeiro mandato. Por isso, é improvável que tenha condições de ajudar o Brasil a frear a ofensiva protecionista do republicano.

“A OMC é um dos organismos internacionais que o trumpismo tem dinamitado”, explica o economista Euzébio de Sousa, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fespsp). Fiel ao movimento MAGA (Make America Great Again), Trump encarna uma guinada dos Estados Unidos, cada vez mais preocupados com assuntos internos, como o crescimento econômico, a inflação e a imigração ilegal. Nesse cenário, a palavra de ordem “America First” (América em primeiro lugar) indica como os americanos enxergam o tabuleiro internacional agora: como um campo minado de nações dispostas a prejudicá-los por quaisquer meios, inclusive o comercial.

Desde 2001, a China é um país-membro da OMC. A animosidade dos americanos com a organização cresceu ao longo dos anos, à medida que a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo desembocava cada vez mais em decisões favoráveis da OMC aos chineses. Em 2020, durante o primeiro mandato de Trump, a OMC declarou que as sobretaxas impostas pelo republicano a cerca de 230 bilhões de dólares em importações chinesas eram ilegais e violavam as regras do direito comercial internacional.

Enquanto Pequim aplaudia a decisão, Trump decidiu sufocar a OMC. Sua estratégia foi bloquear a nomeação de juízes para a entidade. Com isso, o órgão de apelação, a instância máxima de resolução de conflitos da OMC, tornou-se incapaz de julgar os casos e emitir decisões vinculantes. Na prática, isso significou a paralisia da organização.

OMC apoia China e irrita Trump

O apoio da OMC às queixas da China serviu ainda para alimentar as teorias conspiratórias dos apoiadores do republicano. “Trump construiu uma retórica contra os organismos internacionais”, diz Sousa, da Fespsp. A hostilidade é expressa pela retirada dos Estados Unidos de entidades como a Organização Mundial da Saúde, o Acordo de Paris e o Conselho dos Direitos Humanos da ONU.

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“A crise na OMC sugere que o Brasil considere novas plataformas de resolução de disputas, como acordos regionais ou arbitragem direta”, recomenda Alexandre Coelho, professor de relações internacionais da Fespsp. “Com o enfraquecimento da instituição e a paralisação do seu órgão de apelação, processos na OMC terão efeitos políticos e simbólicos apenas”, acrescenta Coelho.

Assim, mesmo que Lula leve a guerra tarifária para a organização e vença Trump, será uma vitória apenas moral, com nenhum efeito prático. A melhor solução, nesse momento, é manter o sangue-frio e os canais abertos com Washington. “A diplomacia brasileira deve continuar apostando no pragmatismo e no diálogo bilateral”, diz Coelho. Transformar a questão das tarifas recíprocas e da taxa de 25% sobre o aço e o alumínio em uma rinha de galos para satisfazer as bases eleitorais de Lula só prejudicará o lado mais fraco – o próprio Brasil.

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