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Por que o preço do petróleo entrou em colapso e o impacto para o Brasil

Excesso de oferta faz preço do barril fechar no negativo pela primeira vez na história; empresas dos EUA correm risco de falência, e Petrobras sentirá baque

Por Alessandra Kianek e Felipe Mendes
20 abr 2020, 19h37
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  • Pela primeira vez na história, o barril de petróleo foi negociado com preço negativo. Com as principais atividades econômicas do planeta paradas e, consequentemente, com a demanda pelo combustível congelada em todo o mundo, devido ao avanço da pandemia do coronavírus, a cotação da commodity do tipo West Texas Intermediate (WTI), referência no mercado americano, entrou em colapso. O contrato futuro de maio, que expira amanhã, despencou, nesta segunda-feira, 20, dos 17,73 dólares da abertura para fechar negociado a -37,63 dólares o barril. Isso aconteceu porque os investidores começaram uma corrida para vender os contratos, porque ninguém quer receber a entrega física, já que a capacidade de armazenamento nos Estados Unidos está chegando ao limite. Os preços negativos significam que os produtores estão pagando para que os seus óleos sejam retirados – algo que nunca aconteceu desde que os contratos futuros de petróleo começaram a ser negociados em 1983. “Tem gente dizendo: ‘Leva o meu petróleo, que eu não tenho o que fazer com ele, literalmente'”, explicou David Zylbersztajn, professor da PUC-Rio e ex-diretor geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

    O contrato de junho do WTI, o mais comercializado, terminou a sessão em nível muito superior ao de maio, cotado a 20,43 dólares o barril. Já o petróleo do tipo Brent, negociado em Londres, também recuou – uma queda de 9%, para 25,57 dólares o barril –, mas longe da ladeira abaixo do preço dos Estados Unidos, uma vez que globalmente há mais espaço disponível para armazenamento. As refinarias americanas estão processando muito menos petróleo que o normal, o que faz com que milhões de barris fiquem presos em instalações de armazenamento em todo o mundo. Grande comercializadoras de petróleo já contrataram navios apenas para ancorá-los e enchê-los do combustível. Um recorde de 160 milhões de barris está estocado em navios-tanque no mundo. Há pouco mais de uma semana, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados anunciaram um acordo com o maior corte de produção de todos os tempos, com o objetivo de conter os preços, porém, a medida não foi suficiente.

    Especialistas prevêem que a volatilidade deve permanecer forte por algum tempo. “Mesmo com o mundo começando a afrouxar as medidas de contenção, a economia leva um tempo para se recuperar. Ainda vai ter muita incerteza por muito tempo. Não há um futuro promissor para o longo prazo”, prevê Zylbersztajn. Mesmo o barril do contrato de junho estar sendo negociado em torno de 20 dólares, o valor ainda é muito baixo para as empresas produtoras, que assumiram dívidas e não conseguem ter fluxo de caixa para pagá-las. Algumas dessas empresas americanas não serão capazes de sobreviver a esta crise histórica e poderão ir à falência.

    Impacto para o Brasil

    A queda do preço do petróleo impacta todas as petroleiras, inclusive a Petrobras, que terão de rever seus modelos de negócios, reduzir custos e adiar investimentos. “A Petrobras reduziu sua projeção de investimento em 30%, de 12 bilhões de dólares em 2020, para 8,5 bilhões. Isso é ruim para o Brasil. Estamos falando da maior empresa brasileira. Além disso, uma série de empresas petrolíferas estrangeiras também irão adiar os investimentos no Brasil”, afirmou Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). No curto prazo, outras consequências virão, como a redução da arrecadação do governo com o setor de óleo e gás – ainda mais num momento de aumento de despesas públicas para tentar mitigar os efeitos da Covid-19 na economia. A arrecadação de royalties em 2020 vai diminuir algo entre 35% a 40% em relação a 2019, segundo cálculos realizados por Pires. Como o petróleo, o cenário é negro pela frente.

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