Os preços dos alimentos foram os principais impulsionadores da inflação no mês de abril. Conforme os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nesta quarta-feira, 11, produtos como carnes, tomates, óleo de soja e pão francês apresentaram aumentos variáveis, fechando a média total de 2,06%, na categoria de alimentos e bebidas. Os preços no setor de transporte ficaram logo atrás, fechando na média de 1,91% de aumento, com forte influência dos combustíveis.
Os dois grupos, juntos, contribuíram com cerca de 80% do índice de preços nos mês de abril, segundo o IBGE. Para especialistas ouvidos pela VEJA, a pressão inflacionária dos setores é justificada por fatores climáticos, a desvalorização cambial e o aumento dos preços das commodities.
Nos últimos dois anos, o setor agropecuário brasileiro foi impactado pelo efeito La Niña, aliado à geadas e excesso de chuvas. Os resultados do clima desfavorável ainda respingam em 2022. Segundo estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na safra de 2021/2022, a produção de grãos no país poderá atingir um volume de 269,3 milhões de toneladas, uma redução de 6,7% em relação à primeira estimativa. Com menos grãos disponíveis para o mercado, o resultado é aumento nos preços.
Para além de fatores climáticos, Matheus Peçanha, economista e pesquisador da FGV/IBRE, destaca a desvalorização do real em relação ao dólar como outro fator na escalada de preços dos alimentos. “Depois de sucessivos choques na estrutura produtiva, não houve trégua na escalada de preços. Em um país agro-exportador, a desvalorização cambial (principalmente a partir da pandemia) incentiva a exportação (que fica mais barata para os países que operam no dólar, por exemplo). Portanto, há uma redução da disponibilidade dos produtos (no mercado interno); ajudando na aceleração dos preços”, avalia Peçanha. Considerando esse contexto, o Governo Federal já anunciou o corte ou isenção nas taxas de importação para diversos produtos.
O aumento nos preços dos combustíveis e aumentos nos preços da commodities são outros fatores que prejudicam o consumidor brasileiro neste momento. O diesel, por exemplo, é componente da produção agrícola, pois é utilizado como combustível dos maquinários ou no transporte da produção. Logo, oaumento nos preços dos combustíveis (em abril foi de 3,20%) impacta diretamente o preço final dos produtos.
Guerra
As commodities, em complemento, tiveram preços impactados pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Para Piter Carvalho, economista na Valor Investimentos, os valores mais altos geram estímulos para os produtores, almejando maior rentabilidade. “Com a alta das commodities, cotadas em dólar, há a rotação de culturas, isto é, alternância de cultivos. O produtor produz o que é melhor para ele, tanto do ponto de vista climático, quanto do ponto de vista da rentabilidade”, diz. Nesta alternância, pode haver maior ou menor disponibilidade de alguns produtos em detrimento de outros. “Quem sobre são as famílias mais pobres. A cesta básica já passou dos 700 reais e as famílias não encontram um produto substituto que não tenha apresentado aumento de preços”, menciona Carvalho.