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Presidente do Banco Central alerta o mercado: inflação à vista

Fala de Roberto Campos Neto assustou os investidores e derrubou o desempenho da bolsa

Por Machado da Costa Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Victor Irajá Atualizado em 4 jun 2024, 14h01 - Publicado em 9 jul 2020, 12h37
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  • O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem muito a aprender com o avô. Celebre frasista, o economista Roberto Campos sabia sempre o que — e o que não — falar. “Deus nos livre dos bens intencionados, eles causam danos irreparáveis”, vaticinou aquele que é considerado por muitos o maior economista já nascido no país. Apesar das expressas boas intenções do neto, é de uma falha quase infantil o presidente da instituição responsável pela política monetária do país manifestar-se sobre as taxas de juros fora das atas do Comitê de Política Monetária, o Copom. E ainda de forma atabalhoada. Em entrevista à agência Reuters, Campos Neto assustou os investidores com uma leitura inesperada dos acontecimentos: o fantasma inflacionário passada a pandemia. “O que eu tenho dito é que a gente tem que entender o impacto do crescimento na inflação”, argumentou ao comentar uma possível continuidade do ciclo de cortes da taxa básica de juros, a Selic. A pergunta que paira é: qual inflação? “O presidente do BC não deveria falar sobre Selic nem sobre inflação. Ele pode dar as diretrizes, indicar que está identificando pressões inflacionárias, é complicado. E ninguém está enxergando isso”, afirma Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda.

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    Como o Brasil vai afundar mais de 5% este ano e o potencial de crescimento é de mais de 2%, há um espaço enorme para ser preenchido antes de o crescimento da economia começar uma pressão inflacionária. Assim, as pressões podem vir de outros setores, como alta de commodities e dólar. Contudo, a demanda por consumo está tão deprimida que as empresas não conseguem fazer qualquer repasse para seus clientes. E o que coloca a declaração de Campos Neto em situação mais condenatória: o câmbio não está subindo, muito menos as commodities. A pressão inflacionária, nos escombros do pior momento da paralisação das atividades econômicas por causa da pandemia de Covid-19, é uma utopia. O câmbio parou de oscilar, montanha-russa com a qual os brasileiros acostumaram-se nos últimos dias, e oscila nos mesmos patamares há mais de uma semana. Só para se ter ideia, o dólar está estacionado na faixa entre 5 reais e 5,30 reais há mais de um mês. E mais, este é um patamar muito inferior à máxima de 5,91 reais registrada em 12 de maio. Em nenhum momento, na reunião do Copom encerrada em 17 de junho, foi alertado para um risco sistêmico de contaminação da inflação por meio do dólar. Roberto Campos traz uma novidade que não estava no radar de ninguém.

    A recuperação econômica ainda é lenta e gradual. As atividades, graças à doença, não retomaram os patamares anteriores à pandemia, muito menos navegam de vento em popa. À medida em que a economia se recuperar, é natural que surja uma pressão inflacionária — mas não agora. A expectativa de diretores e ex-membros do Banco Central é de que este processo só seja minimamente sentido a partir do ano que vem. Na ressaca da declaração e dos movimentos externos dos mercados, a Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, repercutiu. Ao meio-dia, o Ibovespa recuava 0,65%, fazendo com que o índice perdesse o tão sonhado patamar dos 100.000 pontos, retomados pela manhã, depois do meses após o estrago causado pelo coronavírus, que, em março, fez as bolsas mundiais entrarem em parafuso. “A oscilação do mercado mostra o grau de tensão que permeia os investidores. Qualquer fumaça vira fogo”, avalia André Perfeito, economista-chefe da Necton.

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    Desde o início da gestão de Jair Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, é expresso em suas intenções de conviver com juros mais baixos em detrimento de patamares mais elevados para o dólar. Escolhido pelo chefe da Economia, Campos Neto, ao que parece, segue as diretrizes. A Selic está nos patamares mais baixos da história, em 2,25% ao ano. O real, por sua vez, foi a moeda que mais desvalorizou durante a pandemia. No longínquo março, Guedes fez um prenúncio dos tempos. “É um câmbio que flutua. Se fizer muita besteira pode ir para esse nível. Se fizer muita coisa certa, ele pode descer”, quando indagado se a moeda americana romperia a casa dos 5 reais. A frase persegue Guedes até hoje porque ministros da Economia não devem falar a torto e a direito sobre câmbio. Assim como presidentes do BC não devem adotar essa prática sobre inflação. 

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