Presidente do BNDES: ‘JBS foi um dos negócios mais bem bolados’
Paulo Rabello de Castro disse que a empresa passa por momento delicado e que a delação de Joesley Batista foi uma "lambança"
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro, afirmou nesta sexta-feira que a JBS foi “um dos negócios mais bem bolados e bem sucedidos da BNDESPar”, braço de participações do banco. A instituição de fomento tem 21,32% de participação na companhia.
Rabello de Castro citou ainda que a companhia teve projeção mundial com a compra da Pilgrims Pride Corporation, em 2009. O negócio recebeu apoio do BNDES.
“A compra da Pilgrims, em plena crise mundial, com a colaboração financeira, societária do BNDES, foi absolutamente decisiva. Ali a empresa JBS realmente ganhou a dimensão mundial”, disse, destacando que falava não como presidente do BNDES, mas sim como consultor econômico. “Foi num momento em que todos estavam vendendo ativos”, afirmou.
O BNDES divulgou nesta sexta-feira o “Livro Verde”, no qual traz balanços das atividades do banco entre 2001 e 2016. O apoio do BNDESPar via mercado de capitais à empresa e à Bertin, posteriormente associada à JBS, somou 8,1 bilhões de reais. “Como resultado, as operações de mercado de capitais já renderam cerca de 5,04 bilhões de reais entre dividendos, comissões, prêmios e alienação de ativos”, traz o livro.
Rabello de Castro destacou que o resultado líquido das operações do BNDES com a JBS até dezembro tinha sido positivo em 3,56 bilhões de reais. O banco colocou 8,1 bilhões de reais na empresa.
O presidente do banco disse ainda que a empresa passa por momento delicado. “Quem mais sofre é o mercado pecuário brasileiro, com diminuição de liquidez ou capacidade de comprar pela JBS”. Ele diz que vê com urgência a regularização dos créditos. “É uma companhia dos brasileiros, antes de ser de qualquer controlador”.
Entre 2005 e 2016, a JBS foi quem mais recebeu no setor de carnes individualmente apoio do BNDES e BNDESPar, com 26%.
Rabello de Castro disse ainda que, “até a lambança da delação” de Joesley Batista, a ação da JBS “estava cotada a mais de 10 reais e o BNDES entrou com ela a 7 reais”. Há pouco, os papéis eram negociados a 7 reais e 13 centavos.
Prejuízos
Rabello de Castro afirmou que a assembleia geral extraordinária (AGE) de acionistas da JBS, ainda sem data, irá apurar possíveis prejuízos à companhia por conta de algum ato do administrador. Segundo o executivo, a AGE foi solicitada pelo BNDESPar e deve ser marcada nos próximos dias.
“Não significa dizer que a gente tem qualquer ‘parte pri’ de que o administrador causou qualquer dano. Mas o que é fundamental é que haja uma apuração”, afirmou.
O presidente do BNDES disse que na verificação pode não ser apurado dano significativo. “Pode ter sido algum dano político, isso não tem nada a ver com a companhia. Queda de preço momentânea não é prejuízo”, disse.
Sobre uma destituição de membros da família Batista da gestão, afirmou que está estudando, em conjunto com os demais acionistas, inclusive o controlador, uma nova composição do conselho de administração. No entanto, disse que a palavra “destituição” é muito forte e que a assembleia é para apurar prejuízos. O executivo destacou que esse é um assunto “interna corporis” dos sócios. “Nem eu posso responder porque estamos agindo em bloco”.
Segundo Rabello de Castro, o conselho já se antecipou a mudanças e anunciou novos comitês do colegiado. Ele destacou o de governança, finanças e executivo como os mais importantes.
TLP
Paulo Rabello de Castro voltou a negar que teria feito críticas à nova Taxa de Longo Prazo (TLP) —taxa de juros para empréstimos do BNDES—, em discussão no Congresso, e disse não só estar alinhado com o Ministério da Fazenda, como estar costurado. “Sou completamente aderente”.
O posicionamento ocorre após ter criticado abertamente a TLP, o que gerou um mal estar com a equipe econômica do governo. Na primeira audiência pública sobre o tema, realizada nesta semana, o governo escalou um time de peso para defender a TLP.
Rabello de Castro nega conflitos. “O BNDES é executor da política econômica do governo. Nós não temos que ficar pensando exageradamente em nada, a não ser que formos chamados para isso. O comum e corrente da nossa atividade é executar”, afirmou em entrevista coletiva.
(Com Estadão Conteúdo)