Prestes a estrear no Brasil, Meituan é punida ‘por tempo indeterminado’ na China
Investimento no Brasil é de US$ 1 bi; órgão regulador chinês acusa empresa de prática anticompetitiva, que nega as acusações

O desembarque no Brasil da gigante chinesa Meituan, cuja plataforma de delivery Keeta pretende desbancar as rivais, ocorre em meio à crescente preocupação com eventuais práticas de concorrência desleal. Neste sábado, 5, o executivo-chefe da Keeta, Tony Qiu, deve detalhar os planos da empresa para o Brasil, durante um painel na cúpula do Brics, que ocorre no Rio de Janeiro. O histórico da empresa em seu país de origem, contudo, serve de alerta para as autoridades brasileiras antitruste. Em fevereiro, por exemplo, a Meituan foi punida “por tempo indeterminado” pela Administração Estatal para Regulação do Mercado (SAMR, na sigla em inglês), órgão equivalente ao nosso Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
A Meituan nega que a atuação da SAMR seja uma punição (leia abaixo íntegra da nota) e confirma a manutenção dos investimentos na operação do Brasil, que terá início ainda em 2025.
Na prática, a medida implica uma supervisão permanente da SAMR sobre as operações da Keeta na China. A decisão foi tomada, após as autoridades de Pequim concluírem que as punições anteriores contra a concorrência ilegal praticada pela empresa não surtiram efeito. Com um faturamento de 46 bilhões de dólares por ano, que a coloca como uma das líderes globais de seu ramo, a Meituan usava seu poder econômico para prejudicar a concorrência. Para ter acesso ao Keeta, a Meituan proibia que os restaurantes parceiros se cadastrassem nos aplicativos de delivery dos concorrentes.
Em 2021, a empresa foi punida pela primeira vez. A multa imposta foi de de 3,4 bilhões de iuanes (equivalente a 466 milhões de dólares). A penalidade foi acompanhada por “período de retificação” de três anos. Nesse prazo, a companhia deveria ajustar a sua política com os restaurantes, permitindo que se cadastrassem em outros aplicativos.
Em fevereiro de 2025, contudo, o “Cade chinês” concluiu que a Meituan ainda restringe o acesso dos parceiros a outras plataformas de delivery. Por isso, decidiu prorrogar a supervisão por tempo indeterminado. Em geral, durante um período de correção antitruste, as autoridades de Pequim intensificam a vigilância sobre possíveis abusos de mercado, e os concorrentes podem relatar práticas monopolistas às instâncias reguladoras.
A punição ocorre em um momento de aumento da concorrência pelo mercado de entregas tanto no Brasil como na China. As estratégias das plataformas para bater as rivais são diversificadas. Para lidar com os gigantes já estabelecidos, por exemplo, a chinesa JD vai começar a garantir, de forma gradual, um seguro social para os entregadores que trabalhem em tempo integral, além de outros incentivos para aqueles que prestam serviços em meio período.
A Meituan planeja começar a operar no Brasil até dezembro com a marca Keeta. A empresa promete investir 1 bilhão de dólares (cerca de 5,4 bilhões de reais, pelo câmbio atual) no país. Sua intenção é cobrir todo o Brasil até o fim de 2026. Os detalhes serão anunciados por Qiu neste sábado aos participantes da cúpula do Brics, o bloco formado por Brasil, Rússia, Índia e China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, e Irã.
Leia a íntegra da nota da Meituan:
“Isso não procede e é uma afirmação enganosa. Conforme os protocolos, após o período de retificação de três anos, a Administração Estatal para Regulação do Mercado (SAMR) necessita de um tempo adicional para revisar e verificar os resultados do processo de retificação. A Meituan permanece totalmente comprometida em apoiar a SAMR durante todo esse processo e continuará colaborando integralmente com todas as demandas relacionadas. Também confirmamos que nossa operação está confirmada para ser lançada no Brasil ainda este ano, com um investimento de 5,6 bilhões de reais ao longo de 5 anos, e planejamos alcançar presença nacional até o final de 2026.”