A prévia da inflação de outubro trouxe más notícias. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) avançou 0,54%, superando a expectativa do mercado, que previa uma alta de 0,51%. A aceleração, que contrasta com o avanço de 0,13% em setembro, elevou a inflação de 4,12% para 4,47% no acumulado de 12 meses. A dispersão inflacionária atingiu 76,57%, o nível mais alto desde abril de 2022, com quase todas as categorias registrando aumentos. Este cenário reforçou as apostas de que o Comitê de Política Monetária (Copom) pode considerar um aumento de 0,50 ponto percentual na taxa Selic em sua próxima reunião.
Dos nove grupos que compõem o índice, oito registraram alta, resultado de choques pontuais e ajustes sazonais. O grupo Habitação teve a maior alta, com avanço de 1,72%, seguido por Alimentação e Bebidas, que subiu 0,87%. O aumento nos preços de aluguéis e a alta de 5,29% nas contas de energia elétrica, impactadas pela seca e pela mudança na bandeira tarifária, foram determinantes para essa pressão inflacionária. No segmento de alimentos no domicílio, a alta foi de 0,95%, acima da expectativa do mercado de 0,75%, resultado da menor oferta causada pela seca que afetou a produção agrícola.
“O dado veio acima do esperado, e a composição não foi boa. Tanto o índice cheio quanto os núcleos de inflação continuam acelerando”, afirmou André Fernandes, sócio da A7 Capital. Ele ressalta que a seca e o aumento nos custos de habitação pressionaram o resultado. O único alívio veio do grupo Transportes, que registrou uma queda de 0,33%, influenciada pela redução de 11,4% nas passagens aéreas. No entanto, essa baixa não foi suficiente para neutralizar as pressões nos demais setores.
Diante desse cenário, o consenso entre economistas é de que o Copom deverá intensificar a política monetária. “As expectativas futuras continuam sendo um dos principais desafios. O Copom deverá acelerar o ritmo e optar por uma alta de 0,50 ponto percentual na Selic na reunião de novembro”, diz Igor Cadilhac, economista do PicPay. Fernandes compartilha da mesma visão. Segundo ele, a persistência do risco fiscal e a falta de um alívio nas contas públicas também dificultam a ancoragem das expectativas inflacionárias, ampliando a complexidade do trabalho do Banco Central em trazer a inflação de volta à meta.
Apesar do cenário de piora, o PicPay ainda mantém uma projeção de 4,5% para a inflação em 2024. Contudo, os riscos são significativos, incluindo a resiliência da inflação de serviços, um hiato do produto mais apertado e o impacto prolongado da seca nas tarifas de energia elétrica. A possibilidade de uma desvalorização cambial também segue no radar, podendo agravar a situação inflacionária.
A batalha contra a inflação, portanto, está longe de ser resolvida. A alta dos juros parece cada vez mais inevitável, à medida que as forças de mercado e os choques externos continuam desafiando a política econômica.