A trajetória de crescimento do varejo brasileiro no início do ano reflete o aquecimento da atividade econômica do país. Na passagem de janeiro para fevereiro, o setor varejista nacional não apenas manteve sua curva ascendente, mas também atingiu um novo patamar. O comércio varejista no registrou aumento de 1,0% em fevereiro, atingindo o maior patamar da série histórica iniciada em janeiro de 2000. Essa também é a segunda alta consecutiva, após o índice ter registrado crescimento de 2,8% em janeiro.
A perspectiva para este ano aponta para uma continuidade do crescimento, fundamentada em pilares como a robustez do mercado de trabalho, a valorização do salário mínimo e um ambiente de inflação controlada, apesar dos desafios impostos por um cenário de juros reais ainda elevados. Este cenário otimista é corroborado pela expectativa de expansão do crédito e aumento na massa de rendimentos, fatores estes que têm sido catalisadores do consumo doméstico.
Um dos propulsores mais significativos desse avanço tem sido a melhora contínua no mercado de trabalho, com uma taxa de desocupação em queda, alcançando o menor nível em uma década. Isso, somado ao aumento dos rendimentos e à injeção de recursos via pagamentos de benefícios tem fornecido às famílias uma maior capacidade de consumo.
Além disso, o Programa Desenrola Brasil do governo federal, que renegociou mais de 35 bilhões de reais em dívidas da população, tem ajudado a diminuir o endividamento e estimular a economia. Paralelamente, a política monetária tem desempenhado um papel fundamental, com a redução da taxa Selic, atualmente em 10,75%, estimulando o crédito e tornando o consumo de bens de maior valor mais acessível às massas. As projeções indicam a Selic em 9% ao final do ano, com potencial para estimular ainda mais o consumo.
O governo Lula busca alternativas de estímulo de crédito para tentar aquecer mais ainda a atividade econômica e melhorar a popularidade do presidente, que patina conforme as últimas pesquisas divulgadas. Nesta terça-feira ele se reuniu com o ministro Fernando Haddad e representantes de bancos públicos para discutir propostas para o crédito.
Essa combinação de fatores, de mercado de trabalho aquecido e crédito, não apenas impulsiona o varejo, mas também configura um maior crescimento econômico do país. Há preocupações quanto à sustentabilidade desse crescimento a longo prazo, especialmente considerando o potencial inflacionário de um consumo elevado sem o correspondente aumento da capacidade produtiva, tema abordado recentemente em reportagem de VEJA. Na última reunião ata do Banco Central, a autarquia demonstrou preocupação com a inflação gerada via crescimento econômico, inclusive alterando o “forward guidance”, o que pode indicar uma diminuição no ritmo de cortes após seis cortes consecutivos de 0,5 ponto percentual na taxa Selic.