Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
ASSINE VEJA NEGÓCIOS

Quem paga a conta: COP30 consolida o protagonismo do capital privado no esforço climático

Movimento tem impacto positivo na imagem e nos lucros das empresas

Por Diogo Schelp, de Belém
Atualizado em 14 nov 2025, 16h48 - Publicado em 14 nov 2025, 06h00

Na abertura da COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, na segunda-feira 10, em Belém (PA), comemorou-se a aprovação de uma agenda consensual de pontos a ser negociados. Pode parecer banal, mas foi um feito significativo. Em nenhuma das últimas quatro COPs se conseguiu aprovar a agenda no primeiro dia, o que atrasou os trabalhos. Quatro tópicos sensíveis, no entanto, ficaram de fora e passaram a ser discutidos em “consultas informais” entre as delegações dos países. Um deles é o tema do financiamento. Um grupo de países, no qual se inclui o Brasil, quer ampliar de 300 bilhões para 1,3 trilhão de dólares o montante que as nações ricas devem destinar todos os anos para a redução de emissões de gases de efeito estufa e para a adaptação climática nas regiões menos desenvolvidas do globo. Há resistências de todo tipo. Um dos nós da questão é como atrair mais recursos privados para os mecanismos oficiais de financiamento.

arte COP30

A verdade é que a iniciativa privada já paga a maior parte da conta das ações climáticas. Para além dos fundos vinculados à COP, existem muitos outros instrumentos financeiros dedicados ao tema. No total, 65% dos recursos destinados ao financiamento climático vêm de investidores ou doadores privados (veja o quadro). A distribuição desse dinheiro, no entanto, nem sempre alimenta projetos em países emergentes. Mas esse cenário está mudando rapidamente, mesmo sem estímulos públicos, pela simples lógica de retorno financeiro que rege o mercado. Segundo uma estimativa da ONG Natural Resources Defense Council, se continuar no ritmo atual de crescimento, o volume de recursos privados para projetos climáticos nos países em desenvolvimento vai aumentar 2,7 vezes até 2030.

A participação de empresas e entidades setoriais na COP30 demonstra que a iniciativa privada já virou a chave da transição climática. “Se, para a humanidade, meio ambiente e clima são um tema de desenvolvimento socioeconômico sustentável, para as empresas é também questão de competitividade”, diz o empresário brasileiro Dan Ioschpe, Campeão de Alto Nível para o Clima da COP30, cargo ligado à ONU que tem a missão de mobilizar empresas e a sociedade civil em torno das metas do Acordo de Paris. “Não para de pé a ideia de que não haverá custos relacionados à emissão de carbono ou que não existirão oportunidades decorrentes de novas tecnologias e de formas de fazer as coisas de um jeito mais sustentável.”

arte COP30

Continua após a publicidade

Na linguagem corporativa, a virada de chave das empresas é descrita por duas expressões: proteção de valor e geração de valor. “Um exemplo de como a proteção de valor entra na estratégia das companhias são episódios como o tornado no Paraná, que exigem entender os cenários climáticos futuros para garantir a perenidade do negócio”, diz Felipe Salgado, sócio da consultoria KPMG no Brasil, referindo-se ao recente drama ocorrido no estado do sul do país. Já a geração de valor está ligada à capacidade de transformar a agenda de descarbonização — como a redução das emissões de gases de efeito estufa — em vantagem competitiva, seja por diminuição de custos, inovação ou criação de novas fontes de receita.

EFICIÊNCIA - Unidade da Suzano na cidade de Ribas do Rio Pardo (MS): redução de cerca de 80% nos custos com energia
EFICIÊNCIA - Unidade da Suzano na cidade de Ribas do Rio Pardo (MS): redução de cerca de 80% nos custos com energia (Suzano/Divulgação)

Um exemplo de geração de valor vem da empresa de papel e celulose Suzano, que investiu em uma fábrica em Ribas do Rio Pardo (MS) movida por um processo termoquímico que converte a biomassa (material orgânico, como resíduos de madeira) em uma mistura de gases combustíveis. Com isso, houve uma redução de 97% no consumo de derivados de petróleo e uma economia superior a 82% nos custos de energia. Já um caso de proteção de valor é o da petroquímica Braskem, que precisou paralisar as atividades de suas unidades no Rio Grande do Sul durante a enchente que afetou o estado no início de 2024. “Além de termos reduzido as emissões anuais em 1,1 milhão de toneladas de carbono desde 2020, a adaptação aos extremos climáticos também é um tema estratégico para nós”, diz Jorge Soto, diretor de desenvolvimento sustentável da Braskem.

Continua após a publicidade
DESTRUIÇÃO - Rio Bonito do Iguaçu (PR) após tornado: riscos para empresas
DESTRUIÇÃO - Rio Bonito do Iguaçu (PR) após tornado: riscos para empresas (Daniel Castellano/AFP)

Empresas que incorporam a agenda climática em suas estratégias são mais valorizadas pelos investidores, por serem vistas como capazes de atenuar riscos, reduzir custos e gerar novas receitas. “Essas companhias também são as mais preparadas para se adequar a novas leis e regulamentações ambientais”, diz Jessica Rosani, gerente de sustentabilidade da B3. A partir de 2027, todas as empresas listadas em bolsa no Brasil precisarão divulgar relatórios de riscos e oportunidades financeiras relacionadas à sustentabilidade. Neste ano, duas se anteciparam à obrigação e apresentaram seus documentos: a mineradora Vale e a rede de varejo de moda Renner. “Nossa iniciativa teve uma recepção muito positiva do mercado”, diz Regina Durante, vice-­presidente de Gente e Sustentabilidade da Renner. As empresas que pagam a conta da transição climática têm mais chances de sobreviver e prosperar em um mundo em transição.

Publicado em VEJA de 14 de novembro de 2025, edição nº 2970

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

PRORROGAMOS BLACK FRIDAY

Digital Completo

O mercado não espera — e você também não pode!
Com a Veja Negócios Digital , você tem acesso imediato às tendências, análises, estratégias e bastidores que movem a economia e os grandes negócios.
De: R$ 16,90/mês Apenas R$ 1,99/mês
PRORROGAMOS BLACK FRIDAY

Revista em Casa + Digital Completo

Veja Negócios impressa todo mês na sua casa, além de todos os benefícios do plano Digital Completo
De: R$ 26,90/mês
A partir de R$ 9,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$1,99/mês.