Venho do ponto “menos 1”, nem foi do zero. Nasci em Minas Gerais e meus pais trabalhavam como camelôs. Fui criado na periferia de Vila Velha, no Espírito Santo. Aos 5 anos, meus pais se separaram. Foi uma infância muito difícil, vivendo com pouco. Aos 8 anos, vendi bolo e sacolé (também conhecido popularmente como “geladinho”) para comprar bicicleta. Eu mesmo fazia e vendia. Ter uma bicicleta foi meu primeiro sonho, então “empreendi” porque sabia que minha mãe não teria condições. Queria sair dessa situação e confiava que seria possível. Nem minha família acreditava.

Na adolescência, estudei no Senac e fui estagiário na prefeitura de Vila Velha. Aos 18, tirei minha carteira de motorista. Dirigia Kombi, carrocinha de cachorro… Percebi que, se continuasse em Vila Velha, não sairia do lugar, não teria muitas perspectivas. Então, decidi mudar para Belo Horizonte. Tentei muitas coisas que não deram certo, até que decidi virar corretor de imóveis. Ninguém me apresentou a área, fui atrás. Consegui emprego em uma rede de imobiliárias e iniciei uma experiência incrível, mas fui mandado embora após três meses de trabalho. Na ocasião, disseram que eu não tinha perfil para atuar nesse ramo. No mesmo dia, fui até a incorporadora Brasil Brokers pedir emprego. Eles me aceitaram. No primeiro mês, fiz seis vendas e ganhei um carro de premiação. A minha média anual em negócios fechados era uma das mais altas. Vi que eu tinha vocação para isso. Foi então que decidi sair e criar a minha própria corretora. Abri inicialmente com sócios e chegamos a ter um grande time de vendedores.

Depois disso, em 2013, vendi a minha participação na imobiliária e fui empreender em outro segmento. Investi em caminhões, por meio de um contrato de transporte que consegui em sociedade com uma multinacional francesa, a Lafarge, que tinha a maior operação de fornecimento de concreto do Brasil. O contrato era de sessenta meses, mas os franceses, no meio do caminho, resolveram fechar as portas no país, resultando em uma rescisão de contrato e na suspensão dos pagamentos. Eu estava no começo de um novo negócio e tinha investido todas as minhas economias nisso. Como resultado, passei novamente por dificuldades financeiras graves. Cheguei ao ponto de não ter como pagar contas, nem comer direito ou simplesmente viver. Mas, felizmente, nunca desisti.

Com atraso, recebi o valor previsto no contrato. Depois de muita dificuldade para me levantar, reorganizando a minha vida, peguei minhas economias e voltei ao mercado imobiliário, investindo em uma plataforma de vendas digital e prestando consultoria. Em 2021, fundei a construtora de luxo Alumbra Empreendimentos em Balneário Camboriú, Santa Catarina. A empresa, que no ano passado alcançou Valor Geral de Vendas de 260 milhões de reais, é fruto do meu desejo de usar a construção civil para transformar a vida de famílias. Construímos empreendimentos de alto padrão e destinamos um percentual da receita a lares para pessoas que não têm onde morar e que vivem em situação de vulnerabilidade. Até 2030, vamos tirar 250 pessoas da rua, atuando em Santa Catarina e em várias outras regiões. Vamos investir 25 milhões de reais nesse projeto. Quero transformar vidas.

Eu tinha todos os pré-requisitos para nunca sair da pobreza, sem qualquer perspectiva de mudança. Atualmente, tenho uma filha de 6 anos e a chance de dar a ela um caminho melhor do que aquele que eu tive. Alcancei o meu propósito e agora quero mostrar para mais pessoas que é possível virar o jogo.

Alex Sales em depoimento a Juliana Machado

Publicado em VEJA de 17 de janeiro de 2025, edição nº 2927

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