Real desvalorizado e demanda por commodities encarecem custo da indústria
Inflação ao produtor marca 4,78% em março, a vigésima alta mensal seguida; dólar alto e aumento das exportações de alimentos têm impacto
A cada novo indicador divulgado, a pressão inflacionária é mostrada. Nesta terça-feira, 4, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que os preços da indústria subiram 4,78% em março frente a fevereiro, a segunda maior alta da série histórica do Índice de Preços ao Produtor (IPP), iniciada em 2014. A inflação dos produtos na “porta da fábrica” indica o custo sem impostos e sem frete, isto é, antes de seguir para o consumidor.
Segundo o IBGE, o resultado de março reflete a depreciação do real frente ao dólar, que afeta tanto os preços dos produtos exportados pelo Brasil quanto os preços dos produtos importados, em particular das matérias primas. No caso do aumento de custo, isso gera um efeito em cascata em diversas cadeias industriais. Até março, o real havia acumulado desvalorização de quase 9% em relação ao dólar, cotado a 5,62 reais ao fim daquele mês. Na última segunda-feira, 3, o dólar fechou a 5,41 reais.
A inflação ao produtor acumula recordes de 14,09%, no trimestre, e de 33,52%, nos últimos 12 meses. Este é o vigésimo mês consecutivo que os preços para a indústria sobem. Das 24 atividades das indústrias extrativas e da transformação, 23 apresentaram variações positivas em março, repetindo o desempenho apresentado nos meses de fevereiro e janeiro. Nesta semana, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decide sobre a taxa básica de juros da economia, a Selic, e há expectativa de nova alta. Atualmente, o índice está em 2,75% ao ano.
“Muitas matérias-primas estão com os preços majorados e essas altas se espalham por diversas cadeias. Se aumenta o preço do óleo bruto de petróleo, aumentam os preços dos derivados; se a nafta sofre aumento, alguns produtos químicos que a utilizam como matéria prima também têm seus preços elevados e isso acaba impactando o setor de plásticos, que processa alguns desses produtos químicos. O mesmo é válido em relação ao preço do minério, que tem impacto na metalurgia e, num segundo momento, em indústrias como a automotiva ou a produtora de eletrodomésticos”, explica Alexandre Brandão, gerente de análise e metodologia da coordenação de indústria do IBGE.
Outro fator que contribuiu para a elevação de preços no mês de março foi o aumento da demanda internacional, especialmente da China, impactando o preço das commodities, sobretudo agrícolas. “As commodities têm aumentado de preço porque o mercado internacional está pressionado pela demanda, em particular a exercida pela China por produtos da agroindústria, como os derivados da soja e as carnes, em particular bovina. Mas também há pressões sobre produtos siderúrgicos e de celulose”, diz Brandão.
A pesquisa destaca que os alimentos, setor mais pesado da economia, não apareceu entre as principais influências nem em janeiro nem em fevereiro, quando foram os recordes da série. Todavia, voltou a essa posição em março e, na perspectiva do indicador dos últimos 12 meses, é a maior influência no índice de 33,52%, seguido por indústrias extrativas, refino de petróleo e produtos de álcool e outros produtos químicos. Na inflação ao consumidor, os alimentos que foram os grandes vilões de 2020, apresentaram desaceleração, mas esse aumento já reapareceu. No IPCA-15 de abril, considerado a prévia da inflação oficial, enquanto os preços dos combustíveis desaceleraram, os alimentos voltaram a subir.