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Segunda onda do coronavírus: “Temos plano B? Temos”, diz Paulo Guedes

Ministro da economia diz, no entanto, que aposta mesmo no Plano A: pandemia arrefecendo e a economia se recuperando

Por Josette Goulart 30 out 2020, 06h00

O plano A é que a economia volte a crescer e os números da Covid-19 continuem a baixar. Mas o ministro da economia, Paulo Guedes, afirmou nesta quinta-feira, 29, que tem um plano B caso exista uma segunda onda da doença no Brasil. Na Europa, alguns governos como os da França e Alemanha anunciaram nesta semana novos confinamentos para tentar impedir o avanço de uma nova onda da doença. Mas qual é o plano B de Guedes? Ele não detalhou. “Temos plano B? Temos. Mas não se fica falando de plano B quando tem que reforçar o plano A. Precisamos de reformas para abrir espaço para plano A até para ter plano B lá na frente”, disse o ministro na Comissão mista do Congresso que acompanha as medidas para combate ao coronavírus. Guedes não detalhou quais seriam as alternativas, mas já indicou o raciocínio do governo: “Se vier essa segunda onda, o nosso fôlego fiscal está substancialmente mais curto”. O ministro não diz com todas as letras, mas já deixa claro que um auxílio emergencial, em especial, de 600 reais, não deve se repetir. 

O fôlego fiscal é o que tem preocupado investidores e tem deixado o mercado financeiro tenso. O governo elevou seu endividamento — que deve chegar em torno dos 100% do PIB ao fim do ano — com os gastos da pandemia. Mas o mercado ficou receoso quando começou a se falar em furar o teto de gastos, segundo o próprio Guedes. A regra começou a se tornar uma barreira para aprovar a implementação do Renda Brasil, programa para substituir e incrementar o Bolsa Família, criado durante o governo Lula. Guedes se mostra contrário a alterar o orçamento, mesmo que para criar um auxílio que possa suprir perda de renda, sem que se tenha uma necessidade provocada por um momento de calamidade pública como a que foi causada pela pandemia. Mas ele garante que, se vier uma segunda onda, o governo vai ter ação tão fulminante e decisiva como a que teve na primeira onda. Os gastos estão estimados na casa do trilhão.

Pela conversa de Guedes, a ideia é corrigir erros e excessos da primeira fase da pandemia. Ele não especificou que excessos foram esses, mas deixou implícito que um deles foi o valor de 600 reais do auxílio emergencial aprovado pelo Congresso. Guedes disse mais de uma vez durante as quase quatro horas em que esteve na audiência pública que, se antes havia o Bolsa Família de 200 reais para a família inteira, o auxílio emergencial botou de repente, 600 reais na mão de cada integrante da família. Uma família de três pessoas no Nordeste, que antes recebia 200 reais por mês, no dia seguinte passou a ter renda de 1.800 reais. O resultado foi mais consumo. Isto também elevou os preços dos alimentos, causando inflação. O ministro acredita, entretanto, que a alta de preços dos alimentos é momentânea. Ele dá o exemplo do arroz, em que novas safras já estão sendo plantadas e devem reduzir o preço do alimento nos próximos meses.

Para enfrentar a segunda onda, se ela vier, o ministro diz que as reformas precisam ser aprovadas. Ele também insiste na aprovação da PEC emergencial, que permite a desindexação dos gastos públicos e transfere o poder do orçamento para os políticos. Guedes reforça também que é preciso haver desoneração da folha de pagamentos das empresas, mas que será preciso a criação de um novo imposto para reequilibrar as contas. Ele diz que a nova CPMF, ou o imposto digital, como ele chama, é um imposto morto e que já até derrubou seu secretário da Receita Federal, no ano passado, o Marcos Cintra, por conta da proposta. Mas, nas entrelinhas, Guedes reforça mais de uma vez que o imposto é necessário para se ter uma arrecadação que faça frente à diminuição do imposto na folha de pagamentos, mostrando que ainda não desistiu da briga por ele.

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SUS

O ministro também disse que espera que a agenda de privatizações seja retomada e garantiu que não quer privatizar o SUS. Ele disse que a proposta do governo era apenas usar dinheiro privado para terminar obras de unidades de saúde que estavam paradas, mas, já que ninguém quer o dinheiro privado para arrumar as UBS (unidades básicas de saúde), então o dinheiro irá para outra coisa. O presidente Jair Bolsonaro revogou ontem o decreto que permitia estudos para estabelecer parcerias público-privadas em UBS, e que gerou forte reação da sociedade. Ele disse que o decreto tinha sido sugerido há mais de mês quando a pandemia ainda estava mais forte.

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