O Comitê de Política Monetária (Copom) deve anunciar nesta quarta-feira, 6, a decisão sobre a taxa básica de juros, a Selic. É consenso no mercado que o colegiado do Banco Central (BC) subirá a taxa em 0,5 ponto, um novo aumento após o ajuste de 0,25 ponto na última reunião. Com isso, a Selic passará para 11,25% ao ano.
Desde 2023, a Selic passou por cortes significativos, saindo de 13,75% para 10,50%, em agosto. No entanto, o cenário mudou significativamente nos últimos meses. Agora, a previsão é que a Selic encerre o ano em 11,75%, o que implica dois aumentos de 0,50 ponto percentual nas últimas duas reuniões do ano.
O aperto monetário está ligado à piora das expectativas de inflação. Analistas consultados pelo BC elevaram pela quinta semana consecutiva suas projeções de inflação para 2024. De acordo com o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 4, o IPCA deve fechar o ano em 4,59%, uma alta de 0,04 ponto percentual em relação à previsão da semana anterior. A projeção supera o teto da meta, que tem um centro de 3% e uma margem de tolerância de até 4,5%.
A desancoragem das expectativas inflacionárias está sendo alimentada pela desvalorização cambial e pelo aumento do risco fiscal. O dólar recentemente atingiu seu maior valor em quatro anos, aproximando-se de R$ 5,90, o nível mais alto desde o início da pandemia, em 2020. Com a vitória de Donald Trump nas eleições americanas, a moeda tem tendência maior de valorização, o que deve pressionar ainda mais o câmbio. A alta do dólar preocupa, pois intensifica a pressão inflacionária, ao encarecer produtos importados.
No quadro fiscal, a expectativa é pelo anúncio do pacote de corte de gastos prometido pelo governo. Adotar uma postura mais austera é fundamental para a sustentabilidade do arcabouço fiscal. Porém, a demora no anúncio tensiona ainda mais a expectativa de inflação e, consequentemente, os juros.
PIB
O crescimento econômico também é outro ponto que tensiona a política monetária. O Boletim Focus prevê um crescimento de 3,10% para 2024, o que indica um cenário de aquecimento da economia, mas também uma possível complicação no controle da inflação. Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, alerta que “esse crescimento, embora bem-vindo, pode intensificar as pressões inflacionárias, tornando a tarefa do Banco Central ainda mais desafiadora”.