O presidente eleito Jair Bolsonaro disse ontem que pretende rever a metodologia de cálculo do número de desempregados do país. Esse número consta da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão do governo federal.
“Vou querer que a metodologia para dar o número de desempregados seja alterada, porque isso daí é uma farsa”, disse ele em entrevista para a TV Band. “Quem recebe Bolsa Família, por exemplo, é tido como empregado. Quem não procura emprego há mais de um ano é tido como empregado. Quem recebe seguro-desemprego é tido como empregado. Nós temos que ter uma taxa, não de desempregados, mas de empregados no Brasil.”
A taxa medida pela Pnad segue recomendações da Organização Internacional do Trabalho (OIT), das Nações Unidas, para que seja comparável com a de outros países. De acordo com a última Pnad, a taxa de desemprego caiu para 11,9% no trimestre encerrado em setembro, totalizando 12,5 milhões de desocupados.
O Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE (Assibge-SN) rebateu as críticas e disse que “pessoas que recebem Bolsa Família, que não procuram trabalho há mais de um ano ou que recebem seguro-desemprego não são classificadas automaticamente como ‘empregadas’”.
“A metodologia das pesquisas não depende da vontade de qualquer governo, pois somos um órgão de Estado, a serviço da sociedade brasileira”, afirma a entidade.
O sindicato diz que esta não foi a “primeira vez que a credibilidade do IBGE e de suas pesquisas foi atacada por políticos”. “Em 2014, os senadores Gleisi Hoffman (PT-PR) e Arthur Monteiro (PTB-PE) questionaram o cálculo da renda domiciliar per capita. Em resposta, a presidência do IBGE decidiu suspender temporariamente a divulgação da taxa de desemprego, o que levou ao pedido de exoneração do cargo de duas diretoras do Instituto e provocou uma greve dos servidores em defesa da democracia interna. Em 2016, o senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO) também atacou a imagem do IBGE, levantando suspeitas sobre a taxa de desemprego.”
Em nota, o sindicato faz um alerta ao próximo governo de que “o IBGE necessita, urgente, de concurso público para pessoal efetivo, reestruturação do plano de carreira de seus funcionários e de verbas, inclusive para dar conta das tarefas do Censo 2020, levantamento estratégico para o país”.
“Nossa missão é ‘retratar o Brasil com informações necessárias ao conhecimento de sua realidade e ao exercício da cidadania’. Continuaremos a fazê-lo com a dedicação de sempre, mesmo que isso não agrade aos governantes. Os políticos passam, a credibilidade do IBGE fica”, diz o sindicato dos funcionários do IBGE.
Procurado, o IBGE não se manifestou sobre as declarações de Bolsonaro.