O que seria de um filme sem uma trilha sonora? E o que é um podcast sem trilha sonora? É a realidade da maior parte dos produtores independentes de podcasts, que sem dinheiro para pagar por direitos autorais de músicas acabam usando aquelas trilhas genéricas, meio tecnológicas, ou músicas clássicas que já não são mais protegidas pelos direitos. Ou ficam mesmo música nenhuma. Pois o Spotify agora vai permitir que os podcasts toquem a música que quiserem, sem custo, porque a própria plataforma vai pagar pelos direitos autorais. A novidade foi lançada nesta quarta-feira, 13, junto com alguns podcasts como Hallelo Happy Hour com a DJ Shangela, Rock This com Allison Hagendorf, e 60 músicas que explicam os anos 90. O novo formato abre um mundo de possibilidades porque qualquer um poderá produzir shows muito parecidos com os programas de rádios FM. E qualquer um poderá ter seu podcast por meio da plataforma Anchor, que também pertence ao Spotify.
Apesar de o Brasil ser o segundo maior produtor de podcasts veiculados no Spotify, a novidade não poderá ser usada por aqui num primeiro momento. O uso de músicas ficará restrita a podcasters nos Estados Unidos, Reino Unido, Irlanda e Nova Zelândia. O Brasil, no entanto, consiste num mercado e tanto. Os números do próprio Spotify já mostram: durante o segundo trimestre de 2020, mais de 21% dos usuários ativos estiveram envolvidos de alguma forma com podcasts. São 1,5 milhão de podcasts. Os dados gerais do setor também mostram o potencial do setor. Segundo pesquisa Ibope, realizada no ano passado, cerca de 56 milhões de pessoas já escutaram um podcast no país e 31 milhões escutam pelo menos um podcast por mês. Uma pesquisa realizada pela Midroll, uma rede de publicidade em podcasts, mostrou que dentre os ouvintes de seus podcasts 67% poderiam nomear um produto real ou uma promoção específica mencionada em um anúncio e 61% dos ouvintes disseram que compraram um produto ou serviço que ouviram em um anúncio de podcast. Isso acontece porque os ouvintes de podcasts são engajados. E o formato também começa a dar dinheiro. Em 2019, mais de 700 mil séries de podcasts, abrangendo 29 milhões de episódios, estavam publicadas no mundo. A consultoria Deloitte prevê que o volume de investimentos neste mercado aumentará 30% em 2020, em relação a 2019, e vai movimentar US$ 1,1 bilhão.
E como o dinheiro move as empresas, a Spotify não está apenas dando de graça a música para os produtores de podcast. O modelo lançado pelo Spotify prevê que somente quem for assinante Premium poderá ouvir toda a música tocada no podcast e os ouvintes poderão interagir como já fazem hoje com as músicas no Spotify, salvando em playlists e curtindo. Quem não for assinante terá que se contentar com 30 segundos da música, já que para esses ouvintes o Spotify preza por tocar músicas em ordem aleatória.