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Tesouro Direto registra recorde de investidores e se prepara para crescer mais

Em janeiro de 2025, mais de 3 milhões de cidadãos estavam cadastrados no programa de venda de títulos de dívida do governo

Por Juliana Machado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 29 mar 2025, 08h00

Investir em títulos de dívida do governo é algo que está na palma da mão. Em qualquer corretora ou banco, via aplicativos, a oferta de papéis do Tesouro tem uma diversidade de indexadores e vencimentos, atendendo praticamente a todos os perfis. Nem sempre foi assim. Antes de 2002, a maioria das pessoas não tinha a possibilidade de negociar esses que são os produtos mais seguros do mercado, pois investir em dívida pública era assunto para os mais endinheirados e para as grandes instituições. Naquele ano, tudo mudou: com a criação do Tesouro Direto, mais e mais pessoas passaram a usar a plataforma para negociar emissões soberanas — movimento que virou tendência nas duas últimas décadas. Em janeiro de 2025, mais de 3 milhões de cidadãos estavam cadastrados no Tesouro Direto. Há vinte anos, esse número era de apenas 18 000.

Com a evolução do mercado, da educação financeira e do acesso a produtos mais sofisticados, ter investimentos em ativos de maior risco, como ações, tornou-se mais frequente. Mas o investimento em renda fixa sempre foi o queridinho do brasileiro, sobretudo daqueles com menor poder aquisitivo ou com perfil conservador, com baixa tolerância a perdas. Afinal, historicamente, as taxas de juros no país sempre foram altas, afastando o aplicador de alternativas de maior risco. Isso fez com que os títulos do governo conquistassem seu lugar em um mercado com opções cada vez mais complexas.

B3: a bolsa oferece a solução de liquidação e custódia do Tesouro Direto
B3: a bolsa oferece a solução de liquidação e custódia do Tesouro Direto (Tuane Fernandes/Bloomberg/Getty Images)

“Trabalhar para que as pessoas comecem a investir é algo constante para nós”, diz Paulo Marques, coordenador-geral do Tesouro Direto. “Oferecemos uma oportunidade de investimento que é segura e se encaixa para todos, do conservador ao mais arrojado.” O Programa Tesouro Direto foi criado pelas equipes da Secretaria do Tesouro Nacional (STN), com o apoio do Ministério da Fazenda, inspirado em experiências internacionais, como o TreasuryDirect dos Estados Unidos. À época, Fabio de Oliveira Barbosa era o secretário. No início, 23 anos atrás, o Tesouro Direto permitia aplicações a partir de 30 reais, barreira que foi removida em novembro de 2024, quando passou a não haver mais um valor mínimo de aplicação. Quem oferece a solução de liquidação e custódia são os sistemas da B3.

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Apesar de vir ganhando tração ano após ano desde o lançamento, o Tesouro Direto teve um salto significativo de investimentos após 2015. Foi o ano em que o Tesouro implementou a primeira onda de melhorias no programa, com mudança do nome dos títulos públicos. Antes, a sopa de letrinhas afastava o pequeno investidor pela sua complexidade. As Notas do Tesouro Nacional — Série B (NTN-B), Letras do Tesouro Nacional (LTN) e Letras Financeiras do Tesouro (LFT) deram lugar aos hoje conhecidíssimos Tesouro IPCA+, Tesouro Prefixado e Tesouro Selic, respectivamente.

Cada produto tem a sua finalidade: o Tesouro Selic é o título mais indicado para liquidez imediata, ou seja, acesso rápido aos recursos, ou para quem quer começar investindo em algo mais simples e com o menor risco possível. Já o Tesouro IPCA+ paga ao investidor a inflação acrescida de um prêmio, uma “taxa extra” que permite ao aplicador ter um ganho real. Tal valor, vale lembrar, só está garantido caso o investidor carregue o papel até a data de seu vencimento; se vender antes, receberá o que o mercado estiver pagando por ele no dia. O Tesouro Prefixado, por sua vez, “trava” uma taxa para o investidor no ato da compra, que também só terá validade se carregado até a data final.

Agência do Banco do Brasil: o Tesouro Direto ajuda no aumento da inclusão bancária
Agência do Banco do Brasil: o Tesouro Direto ajuda no aumento da inclusão bancária (Lucas Landau/Bloomberg/Getty Images)
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Os títulos públicos sempre são atrativos, mas não deixam de dar dor de cabeça na hora de entender como funcionam. Isso porque as taxas oscilam ao sabor da precificação que o mercado está praticando no momento, que é ditada justamente pela piora ou melhora na percepção de risco. Se a economia vai mal, por exemplo, e os investidores exigem mais prêmio para emprestar para o governo, as taxas sobem e os preços dos títulos caem. É a famosa marcação a mercado, o terror dos desavisados.

“O fator educacional é grande”, diz Felipe Paiva, diretor de Relacionamento com Clientes, Pessoa Física e Educação Financeira da B3. “O caminho é divulgar a informação para que a pessoa que estiver investindo saiba o que está acontecendo.”

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Os títulos soberanos não reinam sozinhos no vasto mercado de renda fixa que se desenvolveu no Brasil na última década. Aos poucos, os investidores foram cercados de opções com isenção de imposto de renda, como as letras de crédito imobiliário (LCI) e as letras de crédito do agronegócio (LCA), além das dívidas bancárias, representadas pelos certificados de depósito bancário (CDB), distribuídos tanto pelos grandes bancos quanto pelas fintechs e instituições menores. São a prova de que a disputa pelo bolso do investidor ganhou ímpeto.

O Banco do Brasil, que tem a gestora com maior volume de recursos do país e protagonismo na distribuição de títulos, vê uma evolução dos produtos de renda fixa, mas não necessariamente uma disputa de espaço com os títulos públicos, dada suas diferentes finalidades. “Quando falamos na inclusão e bancarização de clientes, o Tesouro Direto é um produto mais palatável e mais confortável para o investidor”, afirma Fabrício Reis, chefe da área de captação e investimentos do Banco do Brasil.

Sede do Banco Central, em Brasília: o país tem um longo histórico de manutenção de juros altos
Sede do Banco Central, em Brasília: o país tem um longo histórico de manutenção de juros altos (Rafa Neddermeyer/Agência Brasil)
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Para se firmar na vanguarda do mercado financeiro brasileiro, o Tesouro continua estudando medidas para atrair mais investidores, inclusive os mais jovens, e se aproximar de um público cada vez mais seletivo. Foi assim na criação dos títulos Educa+ e RendA+. Ambos têm formatos muito parecidos ao Tesouro IPCA+, com a diferença do fluxo de pagamentos. No Educa+, o investidor faz aplicações no título durante um período de acumulação para, no vencimento, receber de volta os recursos com rendimentos, voltados para gastos com a educação dos filhos, como faculdade. É a mesma dinâmica do RendA+, com a diferença que o período de acumulação é bem mais longo, para aposentadoria. Outra novidade é a liberação da negociação do Tesouro Direto 24 horas por dia, em sete dias da semana — uma iniciativa a ser implantada no segundo semestre. “Os mais de 20 milhões de pessoas que possuem mais de 10 000 reais na poupança estão começando a entender que estão perdendo dinheiro”, diz Paiva, da B3. Financiar o governo nunca foi tão importante para quem quer ter rendimentos melhores.

Publicado em VEJA, março de 2025, edição VEJA Negócios nº 12

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