As atividades não remuneradas feitas pelas mulheres, que incluem os trabalhos domésticos e de cuidados dos filhos e de outras pessoas da família, poderiam representar entre 8% e 15% do Produto Interno Bruto (PIB) caso fossem remunerados, de acordo com um trabalho feito pelas economistas Isabela Duarte Kelly, pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Hildete Pereira de Melo, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF).
O peso desse trabalho não remunerado para as mulheres é o dobro do que para os homens, que acrescentariam de 3,5% a 7,5% ao PIB caso a quantidade de horas que eles dedicam à casa e à família fossem também remuneradas. As proporções variam de acordo com o tamanho do salário considerado por cada hora trabalhada.
Para chegar aos números, as pesquisadoras consideraram as quantidades de horas de trabalho doméstico dedicada por semana, em média por cada um dos sexos, conforme declarado por eles às pesquisas de mercado de trabalho do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No primeiro cenário, com os valores mais baixos, foi considerado quanto cada grupo ganharia se recebesse pelas atividades domésticas, por hora, o mesmo que o salário médio recebido atualmente pelas empregadas domésticas. No segundo cenário, foi considerado o salário médio recebido pelo total de mulheres trabalhando. O levantamento considerou o histórico de dados entre 2016 e 2019. “É difícil encontrar uma forma de valorar esse trabalho não pago, mas usamos essas referências”, explica Hildete, que é coordenadora do do Núcleo de Pesquisa em Gênero e Economia da UFF e também integrou a equipe da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República entre 2009 e 2014.
De acordo com o IBGE, em 2019, as mulheres dedicavam, em média, 21,4 horas por semana (21 horas e 24 minutos) em afazeres domésticos e de cuidados não remunerados, enquanto, no caso dos homens, essa média era de 11 horas. “Em 2001, as mulheres declaravam dedicar 29 horas por semana nessas tarefas, número que veio caindo desde então e, nos últimos anos, empacou nessa faixa de 20 a 21 horas”, diz Hildete. “Já no caso dos homens houve muito pouca mudança e eles sempre ficaram em torno das 10 horas semanais.” O artigo, intitulado “A riqueza geara pelo trabalho não-remunerado” foi publicado neste ano na revista da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (Abet).