No atual contexto de gastos do governo federal, é “praticamente impossível” que o Banco Central consiga trazer a inflação de volta à meta de 3%. A dura opinião é de Luis Otavio Leal, economista-chefe da G5 Partners, casa que lidera o segmento de empresas independentes na gestão de patrimônio, assessoria em fusões e aquisições e reestruturação de crédito privado para famílias e empresas.
Segundo Leal, algumas atuações do governo no sentido contrário ao controle de gastos reforçam a leitura de o espaço para controle da inflação é pequeno. Um dos temas relevantes é o reajuste do salário mínimo, cuja previsão do governo é de aumento de 6,9% em 2025 ante o atual. “Não estamos falando do reajuste apenas para o setor privado, mas para 40 milhões de beneficiários do INSS”, afirma. “É difícil imaginar que, só com isso, não tenha uma pressão inflacionária importante.”
O economista também comenta a expectativa de analistas com quem teve contato a respeito das despesas obrigatórias, para a qual há expectativas de alguma proposta de controle do governo após as eleições. “Mas teremos que aguardar”, diz. “Se não forem resolvidas essas questões, como a desvinculação do salário mínimo, o arcabouço fiscal não fica de pé.”
Segundo pesquisa recente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), as despesas obrigatórias do governo podem chegar a 100% do orçamento disponível nos próximos cinco anos, o que deve exigir dos próximos governos a necessidade de uma reforma administrativa para liberar uma parcela dos gastos obrigatórios. O governo atual até chegou a dar sinais de que se preocupa com o tema, mas sem grandes indicações de como resolver a questão.
O controle inflacionário no Brasil passa também pela chegada de Gabriel Galípolo à presidência do Banco Central, no lugar de Roberto Campos Neto. O nome de Galípolo ainda precisa ser referendado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, mas é dado como certo. Para Leal, embora ele tenha dados passos corretos na mensagem de que vai perseguir a independência e tecnicidade nas decisões do órgão, o mercado financeiro “não comprou o discurso”.
“Galípolo terá uma trégua durante algum tempo, até o fim de 2025. Isso porque, por enquanto, elevar a Selic não é tarefa tão difícil. O ponto é: se ele não começar a cortar a taxa de juros no fim de 2025, com o Planalto mirando eleições, talvez ele enfrente um grande teste”, diz o economista. “Se chegar em uma situação de expectativas de inflação ainda desancoradas, baixo crescimento e piora fiscal do Brasil, será que ele vai resistir à pressão? O mercado sempre ficará com essa pulga atrás da orelha.”