Trump prepara-se para aliviar sanções contra Rússia e Europa reage
O governo americano parou de frequentar reuniões internacionais que servem para fazer valer sanções; a EU quer ampliar restrições econômicas contra os russos

O presidente americano, Donald Trump, já deu mostras mais do que claras de que está disposto a facilitar a vida do ditador Vladimir Putin, ou seja, colocá-lo em vantagem na mesa de negociação, para acabar com a Guerra na Ucrânia, iniciada em 2022 pela Rússia. Trump estabeleceu uma linha de contato direta com Putin, à revelia dos líderes europeus, e anunciou a suspensão da ajuda militar e financeira dos Estados Unidos à Ucrânia. Além disso, deu uma bronca pública no presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em reunião na Casa Branca, acusando-o de não querer o fim da guerra. Mas algo que Trump ainda não fez foi eliminar oficialmente as sanções econômicas contra empresas e indivíduos da Rússia. Esse é um trunfo que Trump pretende usar para atrair Putin para a mesa de negociação.
Nos bastidores, porém, o novo governo americano está fazendo corpo mole para fazer valer as sanções. Segundo a agência Bloomberg, a gestão Trump não está enviando representantes para reuniões técnicas com os pares europeus que servem para colocar em prática as sanções e para garantir que a Rússia não esteja conseguindo contorná-las. A ausência americana se faz sentir, por exemplo, em um grupo de trabalho que monitora as tentativas de empresas russas de adquirir, no mercado internacional, peças e equipamentos necessários para a produção de armas. Nesses casos, quando se descobre que uma empresa, digamos, na Ásia está fornecendo esse material aos russos, ela pode, por exemplo, ser proibida de fazer negócios nos Estados Unidos ou na Europa. Para que isso aconteça, é preciso que europeus e americanos estejam alinhados sobre como colocar de pé essas punições. Sem a participação dos americanos nessas reuniões, a reação às tentativas de burlar as sanções fica capenga.
Além disso, em fevereiro, Trump encerrou uma força-tarefa estabelecida no governo anterior, de Joe Biden, para impor sanções a oligarcas russos. Ele não titubeou, no entanto, em criar sanções financeiras, incluindo o bloqueio de contas-correntes nos Estados Unidos, contra integrantes do Tribunal Penal Internacional que investigam crimes de guerra cometidos pelo governo de Israel.
Estima-se que existam mais de 16.000 restrições comerciais ou financeiras em vigor contra empresas e indivíduos russos nos Estados Unidos e na Europa. Cerca de 70% dos recursos depositados em bancos russos estão sob sanção, o que significa que não podem ser movimentados no sistema financeiro internacional, segundo o Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, dos Estados Unidos. Membros do governo, bilionários e militares russos tiveram suas contas no exterior congeladas e estão impedidos de viajar para diversos países. Com tudo isso, a Rússia foi privada de acesso a 500 bilhões de dólares que poderiam ser usados em seu esforço de guerra. A economia do país enfrenta diversos problemas, entre os quais uma inflação alta, que obrigou o banco central de lá a elevar as taxas de juros para 21% ao ano.
Putin, no entanto, não tem pressa para fechar um acordo de cessar-fogo com a Ucrânia, sob a mediação americana. Aproveitando a vantagem oferecida por Trump, está fazendo exigências ainda maiores. Depois de tantos soldados russos mortos diante da inesperada resistência feroz das forças ucranianas, é difícil imaginar que ele vai se contentar em sair dessa guerra apenas anexando a Crimeia e mais uma faixa de território ucraniano ao longo da fronteira russa.
De fato, segundo o jornal The Moscow Times, Putin se encontrou com empresários de seu país nesta semana, a portas fechadas, e disse que as negociações pelo fim da guerra serão “difíceis e lentas” e que é para eles se prepararem para continuar sob sanções do Ocidente por um bom tempo.
Se depender das potências europeias, é exatamente isso que vai acontecer. Depois de um encontro de cúpula nesta quinta-feira 20, em Bruxelas, a União Europeia anunciou que está disposta a aumentar suas sanções contra a Rússia. O único que não concordou com a ideia foi o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, um aliado de Donald Trump e do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ainda não há detalhes sobre quais restrições serão criadas ou renovadas.
Separadamente, o Reino Unido divulgou, nesta sexta-feira 21, os números de suas sanções, com o congelamento de 25 bilhões de libras esterlinas (o equivalente a 185 bilhões de reais) em ativos pertencentes a 2.000 empresas e indivíduos da Rússia. O governo britânico estima que o impacto das suas sanções equivalem a quatro anos de gastos militares russos.
Aliviar as sanções sem obter concessão de Putin significaria ampliar sua capacidade de causar danos e de obter avanços de suas tropas na Ucrânia.