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Venda por lives vira tendência no país e deve liderar comércio no Natal

Rappi inicia venda de produtos por meio de vídeos, modelo de negócio que gira mais de US$ 100 bi na China; diversas varejistas pretendem explorar conceito

Por Felipe Mendes Atualizado em 4 jun 2024, 14h36 - Publicado em 30 out 2020, 15h23
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  • Há uma revolução silenciosa no comércio eletrônico brasileiro. Em meio à profusão de lives que tomou o lugar das reuniões presenciais no ambiente corporativo durante a pandemia do novo coronavírus, uma nova tendência de consumo desponta no país. Muitos chamam de “live commerce“, alguns de “live shopping“, outros de “shopstreaming“. Embora o termo ainda não esteja claro e dado, o conceito é um só: aproveitar transmissões em vídeo de artistas, influenciadores e formadores de opinião em geral para comercializar os produtos apresentados. Imagine, por exemplo, assistir ao São Paulo Fashion Week e, em meio à transmissão, poder tirar dúvidas e adquirir o vestido da modelo sem abandonar a tela. Ainda que inicial no país, esse tipo de modelo de negócio virou lugar-comum na China. Em 2020, o mercado de live commerce deve sair da faixa dos 60 bilhões de dólares alcançados no último ano e movimentar cerca de 170 bilhões de dólares, segundo a consultoria iResearch. No Brasil, o superapp de entregas Rappi iniciou, na última quarta-feira 28, sua atuação por meio desse modelo, o que tende a impulsionar a adoção da nova tecnologia por diversos varejistas. Datas importantes para o comércio varejista nacional, como a Black Friday e o Natal, que já seriam diferentes este ano por conta da pandemia, agora podem ter um caráter ainda mais inédito.

    O pontapé inicial da Rappi nessa jornada foi por meio de uma transmissão realizada em parceria pelo e-commerce de carnes especiais Debetti com a marca de cerveja artesanal Colorado, da Ambev. Na ocasião, um chef preparou receitas de hambúrgueres que harmonizam com a bebida. Em meio à transmissão, os produtos citados eram vendidos pela metade do preço de catálogo. Esse tipo de ação será cada vez mais comum num futuro próximo. A ideia é que o espectador possa adquirir os ingredientes durante uma live gastronômica e recebê-los em questão de minutos para que acompanhem o passo a passo, literalmente, com a “mão na massa”. “Estamos implementando uma proposta inovadora, que é ter, de fato, o live shopping no Brasil, da mesma forma como acontece hoje na China”, diz Julia Canalini, head de entretenimento da Rappi. Como as transmissões são feitas pelo aplicativo móvel, o cliente não precisa deixar o ambiente para finalizar a compra, já que tem seus cartões de crédito registrados no app. “Algumas marcas falam que estão nesse modelo de negócio, mas o consumidor ainda não consegue fazer a compra sem deixar a live. Mas é claro que isso deve mudar. Ainda estamos no começo dessa história.”

    Na última quinta-feira, 29, foi a vez da Polishop endossar a plataforma com uma live para a comercialização de esteiras. A proposta é ter transmissões diárias num futuro próximo, mas, por ora, as videoconferências servem como uma “feira de testes”. Nesse modelo de negócio, a agilidade para a entrega é determinante e a empresa pretende usar suas lojas para fazer com que os produtos cheguem ao consumidor em um curto espaço de tempo. “Como é um projeto em fase de testes, ainda estamos verificando a aderência dos produtos para ajustar as nossas ofertas ao consumidor. É tudo muito novo ainda, mas eu acredito que, com a capilaridade da nossa rede, conseguiremos entregar os produtos com a agilidade que os clientes desejam”, afirma o empresário João Appolinário, CEO da Polishop.

    Quem também prepara sua inserção no modelo de venda por lives é a Delivery Center, empresa que usa os shopping centers para a entrega de alimentos e produtos. Em parceria com os locatários do MorumbiShopping, empreendimento da Multiplan, em São Paulo, a companhia está em fase final para a implementação de três estúdios localizados no complexo comercial por onde as varejistas alocadas poderão realizar suas videoconferências para a oferta de produtos. A ideia é usar redes sociais, como Facebook, Instagram e WhatsApp, para difundir as transmissões. Muito em breve, com a possível aprovação do sistema de pagamentos instantâneo WhatsApp Pay pelo Banco Central, a compra poderá ser finalizada na própria mídia social. Segundo pessoas próximas ao desenvolvimento, o projeto da Delivery Center será lançado logo após a Black Friday com o intuito de impulsionar as vendas do Natal. Mais de 40 lojistas do shopping center devem participar da fase inicial do programa.

    Para Pedro Guasti, cofundador da Ebit, agência de pesquisas que faz parte da Nielsen, os sistemas de pagamentos instantâneos do Facebook e do Banco Central serão fundamentais para a popularização do modelo de negócio no país. “Como o WhatsApp está instalado em 99% dos smartphones no Brasil e ele é de uso intensivo, vai ser uma ferramenta de transferência financeira muito potente. Como o brasileiro gosta muito de novidades, quem adotar as vendas por meio de artistas e influenciadores poderá ver um crescimento interessante em volume e faturamento”, projeta. Ele acredita ainda que é o momento ideal para esse movimento por parte das empresas, já que a pandemia de Covid-19 impulsionou o potencial de consumo na internet, fazendo com que pessoas que nunca haviam comprado de forma on-line, adotassem essa alternativa devido à sua comodidade.

    Agora, algumas varejistas deram passos significativos para a implementação de live commerce no país. Em junho, a B2W, dona dos site virtual da Lojas Americanas e do Submarino, lançou o Americanas Ao Vivo, inspirado no que a plataforma de e-commerce chinesa Alibaba faz há alguns anos. Para isso, contou com a influenciadora Camila Coutinho e decidiu replicar o modelo ao Shoptime, que, assim como a Polishop, surgiu como um canal de vendas na televisão brasileira. Outras redes como a fabricante de chocolates Dengo, a franquia de óculos Chilli Beans e o Grupo Soma, dono das marcas Farm e Animale, resolveram impulsionar suas vendas on-line com lives de artistas. Acontece que, como ainda não conseguem finalizar as vendas na própria transmissão, suas propostas não oferecem a mesma experiência vista no varejo eletrônico chinês. Isso tende a mudar, sobretudo com a inserção do WhatsApp Pay nesse jogo. “Essa corrida vai ser emocionante. E o melhor de tudo é que tem mercado para todo mundo”, afirma Julia, da Rappi.

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