Voa Brasil tem baixa adesão um ano após lançamento
Programa que oferece passagens de até R$ 200 para aposentados vendeu apenas 45 mil bilhetes, 1,5% da meta de 3 milhões
Há pouco mais de um ano, o governo lançou o Voa Brasil, programa que tem como objetivo democratizar o acesso ao transporte aéreo com passagens de até R$ 200 para aposentados do INSS que não viajaram de avião nos últimos 12 meses, uma parcela da população muitas vezes invisível nas estatísticas do setor aéreo.
Um ano depois, os dados mostram que o voo não alçou a altura esperada. Das 3 milhões de passagens esperadas pelo Ministério de Portos e Aeroportos, apenas 45 mil bilhetes foram efetivamente reservados até a última quinta-feira, 24. O volume representa apenas 1,5% da meta inicial. O número, embora pequeno comparado à meta, seria suficiente para encher mais de 340 aviões.
Com 87 aeroportos movimentados e 510 rotas utilizadas, o programa conseguiu alguma tração em trechos bastante conhecidos do setor: os corredores entre São Paulo e Rio de Janeiro e as principais capitais nordestinas, como Recife, Salvador e Fortaleza, estiveram entre os mais requisitados. A lógica por trás do projeto faz sentido: usar os lugares ociosos dos voos para oferecer tarifas subsidiadas a quem, de outra forma, não teria acesso ao transporte aéreo. Não há subsídio direto do governo – a conta, em tese, não pesa no orçamento da União.
Mas, na prática, o programa esbarra em obstáculos que vão muito além da oferta de passagens baratas. Falta de informação, dificuldades no processo de compra, baixa digitalização da população-alvo e escassa conectividade nos aeroportos regionais ajudam a explicar a baixa adesão. Outro ponto delicado é a ausência de critérios de renda, que pode ter enfraquecido o apelo social da medida ao não priorizar os mais vulneráveis financeiramente.
Enquanto o Voa Brasil tenta decolar, o restante do setor aéreo nacional segue enfrentando turbulências mais profundas. As três maiores companhias do país – Latam, Gol e Azul – recorreram nos últimos anos a processos de recuperação judicial, pressionadas por dívidas, alta nos custos operacionais (em especial com combustível) e um real persistentemente desvalorizado frente ao dólar.
Nesse cenário instável, a Latam tem sido um ponto fora da curva. A empresa chileno-brasileira registrou lucro líquido de 242 milhões de dólares no segundo trimestre deste ano, um salto de 66% em relação ao mesmo período do ano anterior. A empresa, que encerrou seu processo de recuperação judicial em 2022, é um exemplo que as demais buscam seguir. No acumulado do primeiro semestre, o lucro da companhia chega a US$ 597 milhões, reflexo do aumento de 7,6% no número de passageiros transportados.
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