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Voo arriscado: Fusão entre Azul e Gol cria uma gigante fragilizada

A união das empresas cria uma líder no setor com 60% do mercado, mas tão gigante quanto o tamanho também é a dívida, que soma R$ 59 bilhões

Por Luana Zanobia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 jan 2025, 10h40 - Publicado em 16 jan 2025, 12h58

O Grupo Abra, controlador da Gol e da Avianca, assinou um memorando de entendimento com a Azul, marcando o início de uma possível fusão entre as duas maiores companhias aéreas do país. Contudo, as dificuldades enfrentadas por ambas as empresas sugerem que os benefícios dessa fusão podem não vir sem desafios substanciais.

A combinação de Azul e Gol, embora mantenha suas marcas e operações de forma independente, pode criar um player dominante no mercado brasileiro, com mais de 60% de participação em passageiros transportados. 

A Azul, fundada por David Neeleman em 2008, cresceu rapidamente ao atender a mercados regionais negligenciados pelas grandes companhias; e a Gol, por sua vez, construiu uma reputação como operadora de baixo custo. Juntas, as empresas teriam uma frota de mais de 500 aeronaves, consolidando sua presença em rotas domésticas e expandindo sua rede internacional. 

A expectativa das duas companhias é expandir rotas, aumentar a conectividade e oferecer mais destinos aos consumidores. Em teoria, essa sinergia traria mais eficiência operacional, maior poder de negociação com fornecedores e redução de custos. No entanto, a nova empresa vai operar sem concorrência em 260 rotas nacionais e concentrar 80% das operações de alguns aeroportos, o que poderá resultar num aumento nas tarifas aéreas, contrariando as promessas feitas pelas companhias.

Há também uma dura realidade financeira por trás dessa fusão. A união de passivos pode dificultar ainda mais a capacidade da nova empresa de captar recursos ou renegociar suas dívidas a termos favoráveis. Ambas as empresas enfrentam pesadas dívidas que, somadas, chegam a 59 bilhões de reais no acumulado de 12 meses até junho de 2024. A Gol está em processo de recuperação judicial nos EUA, o chamado Chapter 11, enquanto a Azul recentemente passou por negociações para estabilizar suas operações. Para os analistas, o grande desafio não está apenas em unir duas companhias com redes complementares, mas em lidar com o peso financeiro e a deterioração operacional de ambas.

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Segundo o especialista em reestruturações financeiras e fusões e aquisições Flavio Málaga, o endividamento e as dificuldades econômicas das duas empresas são significativos. “A soma de duas companhias que já estão fragilizadas financeiramente não gera, automaticamente, uma operação saudável. O esforço de integração será colossal, e os resultados podem demorar a aparecer”, afirma ele. O endividamento conjunto é acompanhado por um prejuízo líquido estimado em 10 bilhões de reais e um passivo a descoberto de 49 bilhões de reais no acumulado de 12 meses até junho de 2024.

Além disso, a fusão se dá em um contexto de um setor aéreo latino-americano já fragilizado pela pandemia de covid-19. Embora o mercado de aviação tenha mostrado sinais de recuperação, os problemas estruturais no Brasil permanecem, e a fusão pode postergar uma discussão necessária sobre o que torna o ambiente tão desafiador para o setor. A volatilidade dos preços dos combustíveis, que representa cerca de 40% dos custos operacionais das companhias aéreas, continua sendo um fator de risco. A incerteza política e econômica no Brasil também complica o cenário. O setor aéreo é especialmente sensível às oscilações do dólar — que atualmente supera 6 reais — e à inflação, agravando-se com o recente aumento nos custos de insumos essenciais, como o querosene de aviação, o que pressiona ainda mais as margens operacionais. Os desafios da infraestrutura aeroportuária no Brasil, com os principais terminais operando próximo ao limite de capacidade, resultam em frequentes atrasos e maior tempo de solo para as aeronaves, dificultando a eficiência operacional. Fatores esses que também contribuem para o aumento dos preços das passagens.

No âmbito regulatório, a transação ainda precisa ser aprovada pelos órgãos antitruste, que certamente avaliarão com cautela os impactos dessa fusão em um mercado já concentrado. Além disso, a conclusão dessa fusão depende do sucesso do processo de recuperação judicial da Gol e da sua capacidade de renegociar dívidas com credores. Ambas as empresas já conquistaram um respiro com a renegociação de dívidas com o governo brasileiro, que resultou em uma redução de cerca de R$ 7,5 bilhões de reais nas obrigações fiscais das companhias.

O sucesso da fusão entre Azul e Gol pode redefinir o mercado de aviação no Brasil. Os próximos meses serão cruciais para entender se esse voo conjunto será de fato bem-sucedido ou se enfrentará turbulências que ameaçam o percurso. 

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