Duas pesquisas inéditas sobre o racismo e sobre o ambiente cultivado nas escolas revelam que a falta de disciplina, a agressividade e o preconceito são fatores com os quais alunos e professores convivem na sala de aula. Os levantamentos foram realizados em escolas das redes pública e privada pelo Observatório Fundação Itaú, em parceria com o Equidade.Info.
A pesquisa sobre o climas nas instituições de ensino mostra que a imensa maioria dos estudantes – 81% – se sente acolhida no ambiente escolar, mas que essa porcentagem diminui conforme se avança nas etapas de ensino. Nos anos iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano), o índice bate 86%. Já nos anos finais (6º ao 9º ano), cai para 77% e chega a 71%, no Ensino Médio. A percepção de acolhimento é menor entre as crianças e adolescentes negros: 78% se dizem à vontade na comunidade escolar, enquanto entre os brancos o número é de 84%.
Os resultados da pesquisa também apontam para uma percepção muito diversa entre professores e alunos. Entre os docentes, 92% disseram que os estudantes se sentem acolhidos na escola, uma diferença de 11 pontos em relação à mesma questão dirigida aos alunos. Já entre os gestores, a porcentagem sobe para 93%.
A mesma disparidade é observada em relação a temas que fazem parte do cotidiano da escola, como indisciplina e agressividade: 50% dos alunos dizem conviver com situações de desrespeito, desinteresse e vandalismo, enquanto apenas 36% dos professores têm a mesma percepção. No caso da agressividade, 33% dos alunos responderam que presenciam situações desse tipo, enquanto entre os professores são apenas 17%.
Racismo
A pesquisa específica sobre racismo indica que alunos negros e brancos também têm visões diferentes sobre o problema. Cerca de 8% das crianças e adolescentes brancos acreditam que seus colegas negros não são respeitados nas escolas, mas a cifra sobe para 13% entre os estudantes pretos e pardos. No total, 70% acreditam que os alunos negros são respeitados nas instituições de ensino.
Entre os professores, 54% reconhecem a existência de situações de racismo entre os estudantes, sendo que o número é muito maior entre os docentes do Ensino Fundamental II (67%) e do Ensino Médio (86%). Há discrepância, também, nas diferenças entre professores brancos (48%) e negros (56%). Na média, 75% dos professores disseram que na sua escola há procedimentos para lidar com casos de racismo.
“Pelos resultados, fica evidente, por exemplo, que uma oferta maior de formação dos gestores escolares e professores é um dos principais caminhos no enfrentamento ao racismo, uma vez que auxilia a comunidade escolar a reconhecer e acompanhar os problemas desta natureza, bem como de planejar ações preventivas ”, aponta Esmeralda Macana, coordenadora do Observatório Fundação Itaú.
As pesquisas
A pesquisa sobre Clima Escolar colheu dados em 144 escolas, e ouviu 2.706 alunos, 384 docentes e 235 gestores, entre março e abril deste ano. Já o levantamento Enfrentamento ao Racismo teve os dados colhidos entre abril e maio com 160 escolas, 2.889 alunos, 373 docentes e 222 gestores.
As margens de erro variam por ator e por onda, em função das diferentes amostragens. Com 95% de confiança, elas são: 1,9 p.p. (alunos), 5 p.p. (docentes) e 6,4 p.p. (gestores), para o recorte Clima Escolar e 1,8 p.p. (alunos), 5 p.p. (docentes) e 6,5 p.p. (gestores), para Enfrentamento ao Racismo.