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Como a IA entra em cena para os estudantes que se preparam para o Enem

A turma que vai enfrentar o tão temido exame usa a inteligência artificial como nunca. E ela pode ser muito valiosa

Por Caio Saad e Sara Salbert
Atualizado em 25 out 2024, 12h32 - Publicado em 25 out 2024, 06h00
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  • A inteligência artificial (IA) esteve fortemente presente nos trabalhos laureados com o Nobel de Química e Física, prêmio máximo da ciência recentemente concedido em Estocolmo, na Suécia. Mas engana-se quem pensa que ela se mantém circunscrita às altas rodas acadêmicas. Na verdade, a IA vem adentrando a educação em muitos níveis e camadas do aprendizado — com especial intensidade agora, nestas semanas que antecedem o Enem, passaporte de entrada para universidades públicas e particulares no país, em 3 e 10 de novembro. O uso de ferramentas como ChatGPT, da OpenAI, e Gemini, do Google, se disseminou rapidamente, para tirar dúvidas pontuais e auxiliar na confecção de resumos. Porém, a grande novidade para o batalhão de 5 milhões de brasileiros às vésperas de encarar uma das mais desafiantes etapas da vida estudantil (71% engajados na IA) são plataformas que ajudam no preparo para a tão temida prova, como o Tutor IA e a Iara Chat, vastamente adotados em colégios, cursinhos ou por conta própria.

    Um dos grandes impulsos da inteligência artificial nos estudos reside numa característica valiosa ao ensino — a possibilidade de dar um retorno instantâneo aos jovens, de modo que dificuldades simples não se convertam naqueles nós apertados, difíceis de desatar. Uma redação pode ser corrigida pelo sistema em minutos e com os mesmos critérios aplicados pelos humanos, já que os padrões de um texto de Enem são muito bem estabelecidos. Também explicações sobre disciplinas diversas vêm num patamar de profundidade que passa pelo crivo de especialistas — embora jamais possam substituir o mestre. A ideia é justamente servir de combustível para as aulas, contribuindo para fazer pensar e sedimentar o saber. “As ferramentas de IA disponíveis estão mais prontas do que nunca para o árduo treinamento do Enem”, avalia André Neves, da Universidade Federal de Pernambuco e à frente da equipe voltada para IA na plataforma strateegia.digital.

    DOMINANDO A MÁQUINA - O paulistano Rodrigo Galego, 16 anos, conta que precisou “adestrar” o chat para tirar melhor proveito dele, aprendendo a fazer as perguntas certas. “Minhas notas nas áreas de exatas e humanas melhoraram e hoje me sinto mais seguro”, diz
    DOMINANDO A MÁQUINA – O paulistano Rodrigo Galego, 16 anos, conta que precisou “adestrar” o chat para tirar melhor proveito dele, aprendendo a fazer as perguntas certas. “Minhas notas nas áreas de exatas e humanas melhoraram e hoje me sinto mais seguro”, diz (//Arquivo pessoal)

    Sabidamente, quanto mais a máquina é acionada, maior é sua capacidade de reproduzir informação de qualidade, feita sob medida para o usuário, reduzindo assim as chances de erros, que sempre aparecerão pelo caminho. Uma interessante iniciativa dá uma amostra do potencial da inteligência artificial diante de um teste da envergadura do Enem: no cursinho IntegralMind, de São Paulo, o professor e CEO Marcel Raminelli Costa desenvolveu uma plataforma para armazenar todos os exames realizados até hoje, além de colocar em escaninhos fáceis de acessar 100% do conteúdo escolar ensinado para a turma vestibulanda. “Isso agiliza muito todo o processo”, explica.

    Um pulo do gato aí é a personalização no percurso de aquisição do conhecimento — a IA direciona o estudo de acordo com as habilidades, os gargalos e a disponibilidade de cada um. Neste último caso, funciona quase como um organizador de tarefas, sugerindo horários de dedicação a diferentes matérias e quais devem ser revisadas, tudo com base no desempenho ali registrado. Com o tempo correndo e uma maciça carga de tópicos a assimilar, a carioca Ana Claudia Ramos, 18 anos, recorreu à IA, como tantos colegas, sobretudo para ajudá-la nos temas em que acumula mais fragilidades. “Desse jeito, consegui otimizar o estudo e abarcar mais assuntos”, diz.

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    Algumas redes públicas também andam incorporando a inteligência artificial, como no Paraná, onde são justamente as rotas individualizadas que têm contribuído para a excelência — o estado, aliás, cravou no país o melhor Ideb, um termômetro do nível escolar. Desde agosto, os estudantes de lá contam com algo que, não muito tempo atrás, soaria distópico: um “tutor digital”. Seguindo as aulas e exercícios da Khan Academy, a escola virtual criada pelo geniozinho egresso do MIT, Salman Khan, os jovens vão sendo conduzidos a novas lições, a depender de sua performance. Pensador da tecnologia em prol do aprendizado, Khan costuma dizer: “Se soubermos usá-la, teremos menos salas de aula onde o aluno se sente perdido e entediado diante de um professor palestrante”.

    selo estudos AI

    Já está bem comprovado que a tecnologia, desde que seja vista não como um fim, mas um meio para atingir a excelência, pode dar um bom empurrão para a existência de escolas mais arejadas, em que o aluno seja um ativo participante de sua esticada jornada pelo saber. No Piauí, que fez da inteligência artificial uma disciplina, os jovens estão sendo ensinados a elaborar boas perguntas ao chat, condição básica para uma resposta consistente e certeira. “Quando bem utilizada, a IA pode nos dar superpoderes”, brinca o brasileiro Seiji Isotani, pesquisador da Universidade Harvard e presidente da Sociedade Internacional de Inteligência Artificial na Educação. Talhar a habilidade de perguntar é um daqueles exercícios cognitivos de valor para toda a vida. “Precisei aprender a adestrar a máquina”, conta o paulistano Rodrigo Galego, 16 anos, que vai tentar o curso de direito.

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    Um dos maiores visionários nesse campo foi o matemático Seymour Papert, do MIT, que, nos anos de 1970, bolou um criativo sistema pelo qual os alunos iam traçando suas trilhas acadêmicas ao seu ritmo e gosto, sempre incentivados a ir mais longe. A meta era que criassem, eles também, os próprios desafios intelectuais. Mas para Papert a verdadeira revolução viria quando as máquinas começassem a aprender sozinhas, tal qual se vislumbra nos dias de hoje. Educadores de todo o canto têm o justificado temor de que o aluno delegue responsabilidades, deixando de lapidar o pensamento crítico e confiando demais em robôs, altamente falíveis. São ponderações válidas, que devem permear o emprego de qualquer tecnologia, mas não encerram o assunto. “Estamos diante de uma oportunidade única de repensar a educação nos tempos atuais”, acredita Seiji Isotani, de Harvard. Certo é que ela jamais irá prescindir da inteligência humana.

    Publicado em VEJA de 25 de outubro de 2024, edição nº 2916

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