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Ideb: Educação básica no país vive estagnação, e aprendizagem é gargalo

Especialistas dizem que pandemia freou avanços, e dados hoje seguem próximos aos vistos em 2019

Por Ludmilla de Lima Atualizado em 14 ago 2024, 17h15 - Publicado em 14 ago 2024, 17h13
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  • Os números do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) para 2023 mostram que a pandemia freou avanços na qualidade do  ensino em todo o país. Para especialistas, o momento é de estagnação, com índices próximos aos vistos em 2019. De acordo com os dados do Ideb apresentados pelo Ministério da Educação e o Inep nesta quarta, 14, nos anos iniciais do fundamental, a taxa nacional oscilou de 5,9 em 2019 para 6 no ano passado. Das três etapas consideradas no levantamento, esta foi a única em que o Brasil atingiu a meta, que era 6. Nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, o país ficou abaixo, com pouca diferença em relação aos resultados pré-Covid. 

    Nos anos finais do fundamental, passou de 4,9 para 5 – o objetivo era 5,5 -. Já no ensino médio, foi de 4,2 para 4,3 – a meta era 5,2. Os dados de 2021, da época da pandemia, não são usados na comparação por especialistas devido ao baixo comparecimento às provas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e à adoção da aprovação automática em muitas redes. O cálculo do Ideb, índice que norteia as políticas públicas de educação, considera os resultados em leitura e matemática do Saeb – para alunos do 5º e do 9º ano do fundamental e da 3ª série do ensino médio – e os dados de fluxo escolar, ou “taxa de aprovação”. 

    “A sensação geral é de estagnação. As médias nacionais de aprendizagem, após o choque da pandemia, voltaram aos patamares de 2019. Os piores resultados são em matemática nos anos finais e ensino médio, onde nem mesmo voltamos ao resultado de 2019. Ou seja, persistem efeitos deletérios da pandemia sobre um resultado que já era ruim. Mas é bom lembrar que há muita variação entre os estados”, analisa Daniel de Bonis, diretor de Conhecimento, Dados e Pesquisa da Fundação Lemann. Ele destaca que alguns estados retomaram a tendência de crescimento de antes da pandemia e até superaram os resultados de 2019, enquanto outros ainda correm atrás dos prejuízos. “Uma hipótese plausível é que as redes de ensino que investiram nesse período de forma efetiva e intencional em estratégias de recomposição de aprendizagem reconhecidas pelos especialistas, como cargas horárias estendidas, tutorias ou práticas de nivelamento de grupos de alunos, conseguiram avançar mais”, completa ele. 

    Baixa na aprendizagem é desafio

    A aprendizagem é apontada como o grande gargalo na análise dos números. Houve queda no indicador, que hoje se encontra em patamares menores do que os de 2019. Observando esse resultado apenas para as redes públicas, Ivan Gontijo, gerente de Políticas Educacionais do Todos pela Educação, ressalta que alguns estados apresentaram melhorias. “Nos anos iniciais do fundamental, em que a educação está mais de 80% nas mãos dos municípios, os que mais avançaram na aprendizagem foram Alagoas, Maranhão e Ceará. São estados que apostaram muito em programas de regime de colaboração, com estados apoiando os municípios”. Os destaques negativos são Mato Grosso do Sul, São Paulo e Roraima. Sobre a aprendizagem nos anos finais do fundamental, no recorte do ensino público, Amapá, Alagoas e o Pará chamam a atenção com avanços. Na outra ponta, estão Mato Grosso do Sul, Rondônia, Minas Gerais e Bahia. 

    Gontijo aponta que o Amapá e o Pará, no Norte do país – região que historicamente tem índices ruins -, ainda se destacaram com avanços no aprendizado no ensino médio, junto com o Amazonas e o Piauí. Já Distrito Federal, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul estão na lista dos que retrocederam. “O grande desafio do Brasil segue sendo aprendizagem. Nossos alunos aprendem muito pouco. Dois pontos importantes para superarmos isso são gestão pedagógica que funcione e investimentos nos professores”, completa o gerente do Todos pela Educação. 

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    Anos finais do fundamental e ensino médio

    Na análise de Patricia Mota Guedes, superintendente do Itaú Social, as políticas educacionais devem evidenciar uma preocupação com os anos finais do ensino fundamental. “Neste ano, o programa Escola das Adolescências, uma iniciativa articulada entre o governo federal, estados e municípios, pela primeira vez, foca nos estudantes dos anos finais do ensino fundamental, uma etapa historicamente esquecida e que o Ideb reforçou que é um dos gargalos da educação básica. Os anos finais têm especificidades pois são ofertados em uma bola dividida entre estados e municípios”, afirma Patricia, reforçando a necessidade de um olhar mais atento para esses estudantes em transição. O ensino médio – etapa em que a taxa de conclusão no país é de 70%, considerada ruim – , também coloca desafios. “A estagnação do desempenho nos anos finais é preocupante, pois não se pode esperar bons resultados no ensino médio se nossos pré-adolescentes e adolescentes enfrentam dificuldades de aprendizagem e até mesmo em manter uma trajetória escolar regular. Questões como permanência, repetência, reprovação, abandono e evasão escolar continuam sendo desafios sérios nessa etapa”, explica a superintendente do Itaú Social.

    Para Claudia Costin, ex-diretora global de Educação do Banco Mundial, é preciso que o Brasil caminhe com mais velocidade na direção de escolas de tempo integral, com um currículo mais alinhado à realidade dos jovens. “É preciso ter uma educação mais mão na massa, com mais experimentação”, afirma a ex-secretária municipal de Educação do Rio. Ela diz que o programa Pé-de-Meia, do governo federal, que dá incentivos financeiros aos alunos do ensino médio na rede pública, é positivo ao motivar esses estudantes. Mas, para fazer a educação básica brasileira avançar, é preciso outros investimentos. “A gente tem que ter materiais didáticos que se conectem bem com as habilidades que a base nacional comum curricular estabeleceu. Outro ponto importante é mudar a formação inicial do professor, que na universidade ainda é muito teórica e distante do chão da escola”, acrescenta. 

    Tanto Claudia Costin quanto outros especialistas ouvidos pela reportagem questionam a não divulgação pelo MEC dos resultados do Saeb para a alfabetização, a partir das provas aplicadas para alunos do segundo ano do ensino fundamental.

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