Enquanto os alunos duelam do lado de cá do computador, do lado de lá da tela os professores tentam se virar como podem para dar aulas em um terreno no qual quase nenhum deles havia pisado antes. Frustrações se acumulam no meio do percurso, seja porque os mestres percebem não estar prontos para o desafio que lhes surgiu de forma tão repentina, seja porque a rotina posta do avesso os abalou emocionalmente. Esse aspecto pouco visível da corrida para ensinar a distância aparece em uma pesquisa feita com 7 700 docentes de escolas públicas e particulares, do ciclo fundamental ao médio, pelo Instituto Península. A franqueza dos entrevistados chama atenção: 83% reconhecem estar despreparados para a missão, 67% chegam a apresentar quadros de ansiedade e apenas 7% expressam satisfação com o resultado final. “No início, chorava constantemente. A falta dos alunos drenou minha criatividade, mas consegui restabelecer o vínculo com eles e, juntos, já fazemos planos para quando a vida voltar ao normal”, conta Carla Brenes Teixeira, 46 anos, do Colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo, que, como outros colegas, teve de improvisar uma “sala de aula” em casa com os filhos em volta. Muitos revelam angústia diante de classes virtuais “mornas, apáticas, por vezes caóticas” e se ressentem da baixa participação da garotada. Sem formação nem prática para atuar no universo on-line (só 12% já haviam lecionado a distância), eles estão tendo de aprender tudo sobre esse admirável mundo novo quase que em tempo real — aliás, para o bem do ensino. “Essa grande mudança forçada pode deixar uma herança valiosa”, avalia Maria Elizabeth Almeida, professora da Faculdade de Educação da PUC de São Paulo. Certo é que, depois desta temporada, os professores nunca mais serão os mesmos.
Publicado em VEJA de 1 de julho de 2020, edição nº 2693