Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Os robôs estão indo à escola

Aplicar a inteligência artificial para personalizar o ensino é uma chance de tornar o colégio um lugar mais atraente

Por Maria Clara Vieira Atualizado em 4 jun 2024, 16h50 - Publicado em 12 out 2018, 07h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Nos últimos tempos, o termo inteligência artificial (IA) vem deixando de ser associado às distopias de cinema, em que robôs pensantes exterminam a humanidade, e começa a ingressar no vocabulário de diferentes departamentos da vida cotidiana. De máquinas capazes de processar milhões de dados simultaneamente e amoldar-se a hábitos e demandas de quem as manipula, surgiram sistemas de busca como o Google, aplicativos de trânsito como o Waze e assistentes virtuais como a Siri, que até conversa, embora em uma zona limitada de interação. Uma nova fronteira dessa cada vez mais estreita relação homem-máquina começa a se abrir agora na sala de aula, impulsionando uma mudança que, ainda tímida, se promete definitiva no jeito de ensinar e aprender.

    A inteligência artificial tem o potencial de desbravar o modo como o aluno conectado a um computador absorve a informação, os pontos em que ele tropeça e os que o atraem com base em códigos sofisticados — os algoritmos. O diagnóstico sobre cada um é apenas a primeira parte da história, seguida de outra que, aí sim, pode revolucionar a educação tal como a conhecemos: conforme o estudante vai avançando na matéria, o sistema inteligente se adapta e muda o rumo da lição, enfatizando pontos mal assimilados, em que persistem dúvidas, ou dando complexidade às tarefas para estudantes que precisam ser mais desafiados. Em outras palavras, a máquina personaliza o aprendizado, mesmo em uma classe cheia. “A diferença entre a IA e os velhos métodos de cruzamento de dados está não só no fato de as máquinas aprenderem sozinhas, mas em sua capacidade de prover respostas elaboradas e precisas”, diz o engenheiro Carlos Pedreira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

    Colégio Objetivo
    CADA UM NA SUA - Colégio Objetivo: o sistema corrige e indica como melhorar (Jefferson Coppola/VEJA)

    A aplicação de inteligência artificial nas escolas está no princípio, no Brasil e no mundo, até porque esse é um campo em franca pesquisa. Mas a tendência é de crescimento, segundo mostra um recente relatório da consultoria americana Research and Markets: nos próximos três anos, a previsão é que a IA se expanda quase 50% em escolas dos Estados Unidos. Na China, onde um plano nacional de investimento injetará quase 80 bilhões de dólares em pesquisas na área até 2025, o uso de inteligência artificial nas escolas será aos poucos obrigatório. No Brasil, veem-se experiências aqui e ali que já revelam o seu po­tencial. Em unidades do grupo Objetivo, um desses algoritmos servirá em breve para a correção de provas feitas on-line: dali sairá, além da nota, um diagnóstico individual dos pontos altos e baixos do aluno, acompanhado de recomendações sobre textos, vídeos e exercícios para suprir as lacunas caso a caso.

    Pode-se pensar, a essa altura, que o velho mestre perderá o emprego para as máquinas, mas não. O que elas farão com intensidade crescente é impor ao professor um ajuste aos novos tempos: ele terá de ensinar não só a classe, como também o próprio sistema. “Os professores precisarão aprender a supervisionar a inteligência das máquinas, fazendo adaptações caso elas estejam limitando o aprendizado no lugar de estimulá-lo, por exemplo”, diz Alcely Strutz, da área de educação da IBM no Brasil. Cabe ainda aos docentes desta era digital utilizar o computador naquilo que ele já se provou útil (porém nunca milagroso, é bom lembrar): colocar as crianças para trabalhar em colaboração umas com as outras e lhes dar o caminho das pedras para o conteúdo de alto nível. Tudo serve de combustível para a aula.

    Continua após a publicidade

    Um nicho em alta no setor educacional trabalha justamente com o propósito de criar plataformas digitais cada vez mais inteligentes. A matéria-­prima desses sistemas é o valioso conhecimento acumulado com base em milhões de dados sobre como o aluno aprende. Os grandes, como edX e Coursera — que permitem acesso on-­line gratuito às lições dos melhores professores do mundo —, processam as informações e fazem uso delas para aprimorar as aulas. Em escala, isso pode representar um salto na educação. Outras empresas investem em tutoria digital, usando a inteligência da máquina para indicar conteúdos, propor testes, corrigi-los e dar aos alunos um retorno compreensível.

    No Brasil, cerca de 20 000 escolas das redes pública e particular estão se beneficiando de um programa, o Letrus, que consegue depreender de uma redação erros de gramática, riqueza de vocabulário e até capacidade de coesão. A celeridade dada à correção é boa para o aprendizado — evita que se formem nós que, mais tarde, serão difíceis de desatar. “O futuro próximo do ensino será completamente personalizado e mais efetivo”, avalia a americana Emi­ly Sands, do Coursera.

    Seymour Papert
    VISIONÁRIO - O matemático Papert: ele dizia que a guinada no ensino viria quando a máquina aprendesse a aprender (The Boston Globe/.)
    Continua após a publicidade

    A ideia de criar sistemas inteligentes para alavancar a educação é antiga. Nos anos 1960, o psicólogo americano ­Burrhus Skinner (1904-1990) inventou um aparelho em que as perguntas subiam de nível conforme a pessoa cravava acertos — muito distante da engenharia envolvida nos modelos atuais. Uma década depois, o doutor em matemática Seymour Papert (1928-2016), do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), elaborou outro sistema bem mais avançado, em que o aluno fazia sua trilha no computador entre uma infinidade de opções. Esbarrou em um problema: o professor era relegado ao papel de coadjuvante. Mas Papert foi visionário. Previu, acertadamente, que uma revolução no ensino ocorreria quando a máquina aprendesse por si mesma.

    Com tanta pesquisa na área, muito ainda está por vir. “A tendência é que o computador seja capaz de entender se um aluno aprende melhor lendo ou jogando, se rende mais à noite ou de dia, de modo que o sistema se adapte a ele e otimize o tempo”, prevê Marcello Vannini, diretor de tecnologia do grupo Objetivo. A ciência aponta para um momento não tão longínquo em que as máquinas entenderão melhor a personalidade de quem está à frente da tela, outra informação útil à customização do ensino. A leitura de expressões já é realidade em salas de aula da China, onde há a maior concentração de engenheiros especializados em IA do mundo. Em uma escola de ensino médio da cidade de Hangzou, o rosto dos alunos é monitorado a cada trinta segundos em busca de manifestações de entusiasmo, dúvida, tédio. A máquina, aliás, entrega quem está divagando ou cochilando. Os desatentos que se cuidem.

    Publicado em VEJA de 17 de outubro de 2018, edição nº 2604

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.