Os cerca de 100 professores do Centro Universitário Fieo (Unifieo) que foram demitidos por “justa causa” após cinco meses sem receber salários e representantes da instituição de ensino não chegaram a um acordo sobre o pagamento dos atrasados. Em reunião feita no Tribunal Regional do Trabalho, em São Paulo, nesta sexta-feira, os docentes e o Unifieo decidiram marcar uma nova audiência, em março, para que as propostas sobre a situação dos professores sejam apresentadas e discutidas.
“Solicitamos que as demissões sejam anuladas, os professores recontratados e os seis salários que nos devem sejam, finalmente, pagos. O Unifieo nos propôs a readmissão, mas os atrasados só seriam pagos após a venda de um dos campi da instituição, em um prazo que poderia levar mais de um ano. É uma proposta que já havia sido feita, não cumprida, e decidimos, novamente, não aceitar”, afirmou o professor Antônio Carlos Roxo, que coordenava o curso de comércio exterior e foi demitido após 25 anos trabalhando na instituição de ensino. “Vamos discutir uma contraproposta e apresentá-la em um mês.”
Demissão por telegrama
Cerca de 100 dos quase 250 professores ativos do Unifieo foram demitidos pela instituição no início de fevereiro, após cinco meses sem receber os salários. Os salários do corpo docente começaram a atrasar em outubro de 2015 e, em julho de 2016, cerca de sessenta professores foram demitidos. De acordo com o Sindicato de Professores de Osasco e Região (Sinprosasco), que homologou a demissão de 44 desses professores, eles ainda não receberam as multas e verbas rescisórias.
Em setembro, os salários deixaram de ser pagos e, em novembro, os docentes entraram em greve, motivada pela ausência dos pagamentos. Segundo o Sinprosasco e os professores, foram cumpridos todos os ritos de greve e o centro universitário, bem como os alunos, foram informados. No início de fevereiro, os telegramas com o aviso da demissão por justa causa começaram a chegar aos docentes. Segundo as contas dos professores, 127 foram dispensados. A Unifieo fala em 88. Parte dos professores demitidos trabalhou na instituição por mais de duas décadas. O centro universitário, que teve início com o curso de direito, em 1967, chegou a ter trinta cursos com quase cerca de 13.000 alunos. Em 2016, de acordo com informações do Sinprosasco, em torno de 2.000 alunos estavam matriculados para o ano letivo.
“Por um ano, fomos enganados com ‘o pagamento sai amanhã’. Por um ano omitimos dos nossos alunos – por apoio e amor à instituição e aos discentes – nossa verdadeira situação. Fazíamos muito com pouco, em uma escola sem investimentos, operando com retroprojetor, sem equipamentos modernos. Havia o trabalho dos professores. Nossos telegramas de demissão começaram a chegar no dia 6 e ainda há colegas recebendo. Sinto-me triste”, afirmou Sandra Regina Petroncare, um dos docentes demitidos no início do mês. Sandra era professora do curso de Administração de Empresas há nove anos.
O pró-reitor Franco Cocuzza afirma que a Unifieo demitiu os professores que não cumpriram com seus encargos, sem saber quais deles estavam em greve. “Nós nunca recebemos do sindicato uma relação dos professores grevistas”, disse ao site de VEJA. “Com a venda do imóvel da instituição, pagaremos os salários atrasados em oito parcelas. As ofertas para a compra estão abaixo do valor de mercado porque é sabido que estamos com a corda no pescoço — é como o ’11 de setembro’. Tínhamos 5.200 alunos ao fim de 2016 em nossas torres, veio a concorrência predatória e nos derrubou. Sobraram 1.800.”
Segundo comunicado disponível no site do Unifieo, “depois de vencer inúmeras crises financeiras brasileiras, [a instituição] começou a sentir os efeitos da grave crise que assolou o país nos últimos anos e passou a atrasar sistematicamente seus pagamentos, a partir de outubro de 2015.” Ainda de acordo com a nota, em 18 de janeiro, a administração da instituição foi reformada, visando à reformulação administrativa e estratégica da instituição. “Diante dessas mudanças, algumas atitudes extremas tiveram que ser implementadas, como a redução dos cursos, do quadro de professores e de funcionários, medidas que, infelizmente, estão sendo adotadas para equacionar o orçamento do Unifieo”, afirma o comunicado.
“Ainda estamos tentamos fechar o segundo semestre de 2016. Devemos fechar oito cursos este ano, além de muitas turmas das graduações restantes”, afirmou o pró-reitor.
De acordo com o Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior no Estado de São Paulo (Semesp), devido à crise financeira por que passa o país e aos atrasos no repasse do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), o ensino superior privado tem sofrido com a queda de matrículas e aumento na inadimplência.