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Judith Butler escreve sobre sua teoria e a passagem pelo Brasil

"Desde o começo, a oposição à minha presença no Brasil esteve envolta em uma fantasia", escreveu no jornal Folha de S. Paulo.

Por Da redação
Atualizado em 4 jun 2024, 18h56 - Publicado em 19 nov 2017, 12h12
Judith Butler, filósofa, durante o seminario Queer, no Sesc Vila Mariana, em São Paulo (SP) - 09/09/2015
Judith Butle: “Desde o começo, a oposição à minha presença no Brasil esteve envolta em uma fantasia”. (Moacyr Lopes Junior/Folhapress)

Em artigo publicado hoje no jornal Folha de S. Paulo, a filósofa americana Judith Butler escreve sobre sua recente e tumultuada passagem pelo Brasil, onde chegou a ser agredida no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, por uma manifestante. “Desde o começo, a oposição à minha presença no Brasil esteve envolta em uma fantasia. Um abaixo-assinado pedia ao Sesc Pompeia que cancelasse uma palestra que eu nunca iria ministrar. A palestra imaginária, ao que parece, seria sobre “gênero”, embora o seminário planejado fosse dedicado ao tema “Os fins da democracia” (“The ends of democracy”). Ou seja, havia desde o início uma palestra imaginada ao invés de um seminário real”, escreveu.

Leia mais no blog Intervenção.

Judith faz um longo apanhado ainda sobre sua teoria de gênero.

“No final de 1989, quase 30 anos atrás, publiquei um livro intitulado Gender Trouble (lançado em português pela editora Civilização Brasileira, em 2003), no qual propus uma descrição do caráter performativo do gênero. O que isso significa? A cada um de nós é atribuído um gênero no nascimento, o que significa que somos nomeados por nossos pais ou pelas instituições sociais de certas maneiras. Às vezes, com a atribuição do gênero, um conjunto de expectativas é transmitido: esta é uma menina, então ela vai, quando crescer, assumir o papel tradicional da mulher na família e no trabalho; este é um menino, então ele assumirá uma posição previsível na sociedade como homem. No entanto, muitas pessoas sofrem dificuldades com sua atribuição —são pessoas que não querem atender aquelas expectativas, e a percepção que têm de si próprias difere da atribuição social que lhes foi dada. A dúvida que surge com essa situação é a seguinte: em que medida jovens e adultos são livres para construir o significado de sua atribuição de gênero?”

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A filósofa ainda lembrou do episódio ocorrido em Congonhas, em São Paulo. “Uma das mulheres que me confrontaram começou a gritar coisas sobre pedofilia. Por que isso? É possível que ela pense que homens gays são pedófilos e que o movimento em favor dos direitos LGBTQI nada mais é do que propaganda pró-pedofilia. Então fiquei pensando: por que um movimento a favor da dignidade e dos direitos sexuais e contra a violência e a exploração sexual é acusado de defender pedofilia se, nos últimos anos, é a Igreja Católica que vem sendo exposta como abrigo de pedófilos, protegendo-os contra processos e sanções, ao mesmo tempo em que não protege suas centenas de vítimas?”

No encerramento do texto, mostrou suas impressões da última passagem pelo Brasil:

“Eu vou me lembrar do Brasil por todas as pessoas generosas e atenciosas, religiosas ou não, que agiram para bloquear os ataques e barrar o ódio. São elas que parecem saber que o “fim” da democracia é manter acesa a esperança por uma vida comum não violenta e o compromisso com a igualdade e a liberdade, um sistema no qual a intolerância não se transforma em simples tolerância, mas é superada pela afirmação corajosa de nossas diferenças. Então todos começaremos a viver, a respirar e a nos mover com mais facilidade e alegria —é esse o objetivo maior da corajosa luta democrática que tenho orgulho de integrar: nos tornarmos livres, sermos tratados como iguais e vivermos juntos sem violência”.

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