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Mundo

Eleição em Israel

por Julia Braun, de Jerusalém Atualizado em 9 abr 2019, 15h42 - Publicado em
9 abr 2019
07h00

Os israelenses vão às urnas nesta terça-feira, 9, para decidir o futuro do país em uma eleição cujo resultado promete ser muito apertado. Apesar dos escândalos de corrupção que envolvem seu nome, das acusações de racismo e de sua política cada vez mais truculenta com os palestinos, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e seus aliados ainda aparecem como os favoritos para formar o novo governo.

O premiê está há dez anos seguidos no comando do país, sustentado pela imagem construída de político forte, capaz de proteger os israelenses das ameaças externas, o que lhe rendeu o codinome de “Mr. Security” – em português, Senhor Segurança. Trata-se de apelido bem menos suave do que Bibi, como sempre foi tratado no seu círculo mais próximo.

Desde o ano passado, contudo, Netanyahu é alvo de fortes críticas pela forma como vem lidando com o conflito na Faixa de Gaza. Foguetes vêm sendo lançados contra Israel do enclave palestino – muitos em reação à truculência do Exército israelense – e parte dos cidadãos israelenses acredita que sua abordagem não foi suficiente para impedir a escalada da violência.

Para alavancar sua campanha nestas eleições, Mr. Secutity decidiu posar como bom diplomata. Bibi serviu como representante de Israel nas Nações Unidas entre 1984 e 1988. Só nas últimas semanas, com ambições mais eleitorais do que diplomáticas, reuniu-se com o presidente americano Donald Trump, em Washington, e com o líder russo Vladimir Putin, em Moscou, e recebeu Jair Bolsonaro em uma visita oficial a Israel. De Trump, conseguiu o reconhecimento formal à soberania de Israel sobre as Colinas de Golã, território sírio ocupado desde 1967, a quinze dias da eleição.

Netanyahu e seu partido, o Likud, concorrem na eleição desta terça-feira contra o ex-chefe do Estado-Maior do Exército, Benjamin Gantz, líder da nova legenda Kahol Lavan. A fim de derrotar o primeiro-ministro, o militar formou uma aliança com outros dois ex-chefes das Forças Armadas, Moshe Yaalon e Gabi Eshkenazi. Também fortaleceu seu partido com o ex-âncora de TV e líder do partido político Yesh Atid, Yair Lapid.

As últimas pesquisas de opinião, divulgadas na sexta-feira 5, mostram o Likud e o Kahol Lavan empatados em número de assentos no Knesset. Uma única sondagem, feita pelo jornal Yediot Acharonot, mostra Gantz à frente, com quatro assentos a mais do que Netanyahu.

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O presidente americano, Donald Trump, presenteia o aliado Benjamin Netanyahu na Casa Branca: reconhecimento da soberania de Israel sobre as Colinas de Golã, da Síria – 25/03/2019
O presidente americano, Donald Trump, presenteia o aliado Benjamin Netanyahu na Casa Branca: reconhecimento da soberania de Israel sobre as Colinas de Golã, da Síria – 25/03/2019 (Leah Millis/Reuters)

Para Noah Slepkov, consultor político e ex-assistente parlamentar do Knesset, os dois principais adversários desta eleição não se distanciam nos principais tópicos eleitorais, como a segurança, a diplomacia e a economia.

“A votação não está focada em pontos específicos da sociedade israelense, mas sim na personalidade dos candidatos”, afirma. “A grande questão é se Netahyanu se reelegerá ou não”, completa Slepkov.

O premiê, contudo, viu sua campanha ser abalada por uma série de escândalos nos últimos meses. Netanyahu está envolvido em acusações de corrupção, fraude e quebra de confiança que podem ter consequências nos resultados e, se vencer, em seu futuro governo.

Ao todo, os investigadores apuram três casos contra Bibi. Em um deles, acreditam que o governo de Netanyahu teria concedido favores correspondentes a milhões de dólares para o Bezeq, o maior grupo de telecomunicações do país, em troca de uma cobertura favorável dos atos de seu governo.

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Também é acusado de tentar fechar um acordo com o principal proprietário do maior jornal financeiro do país em troca de uma lei para limitar a distribuição de seu principal concorrente. Em outro caso, os investigadores tentam determinar se alguns milionários deram ao primeiro-ministro e a sua família, em troca de favores financeiros e pessoais, presentes como charutos, garrafas de champanhe e joias.

Prazeres do poder

Ofer Ycwov em seu açougue no mercado Mahane Yehuda, em Jerusalém: ‘acusações falsas contra Bibi’.
Ofer Ycwov em seu açougue no mercado Mahane Yehuda, em Jerusalém: ‘acusações falsas contra Bibi’. (Julia Braun/VEJA.com)

Gantz criticou o governo “viciado nos prazeres do poder, da corrupção e do hedonismo”. Também acusou Netanyahu de cobrar 16 milhões de shekels (cerca de 17,2 milhões de reais) por ações de uma empresa que se beneficiou da compra, por Israel, de submarinos alemães.

Para a maior parte dos eleitores de Netanyahu, contudo, os escândalos não parecem ter importância. Em um dos maiores redutos eleitorais do Likud em Jerusalém, o mercado Mahane Yehuda, o nome do atual governante está na boca de vendedores e clientes.

“Bibi é o melhor”, diz Ofer Ycwov, dono de bancas de carnes, frutas e especiarias no tradicional mercado de Jerusalém. “As acusações de corrupção não são verdadeiras, foram inventadas para prejudicar ele. Ele é bom para o Estado, para a economia, para a segurança, para tudo”.

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Para esse comerciante de 49 anos, Netanyahu tem o que mais falta a seu principal adversário: experiência. “Gantz não é bom o suficiente ainda, não tem o que um bom líder precisa”, afirma.

Itamar, de 24 anos, também declarou seu apoio ao Likud. “Ele (Netanyahu) fala sobre Israel ao mundo e é bom para nós aqui no país”, diz o vendedor da banca de frutas secas. “Ele é muito violento em Gaza, não gosto muito disso. Mas é a melhor opção.”

O general Benjamin Gantz, do Kahol Lavan, em campanha em Rehovot: acusações a Netanyahu, mas promessas tão conservadoras quando as do concorrente – 05/04/2019
O general Benjamin Gantz, do Kahol Lavan, em campanha em Rehovot: acusações a Netanyahu, mas promessas tão conservadoras quando as do concorrente – 05/04/2019 (Thomas Coex/AFP)

Aproveitando-se das críticas direcionadas contra Bibi pela sua má gestão em relação à Palestina, o Kahol Lavan também quer levar Israel à dianteira nos processos de paz. Porém, assim como a maioria dos partidos nacionais, essa legenda nova defende a proposta de que Jerusalém deve permanecer unificada como capital israelense e que as Colinas do Golã também sejam parte do território do país. Trata-se de tópicos em disputa e de posições contrariadas pelas Nações Unidas.

Gantz define-se como centrista e promete, por meio de uma nova agenda econômica, reduzir a desigualdade social no país. Porém, acredita que a identidade judaica deva ser preservada em debates sobre o papel do Estado e da religião.

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O partido da oposição liderado por ex-chefes do Estado-Maior vem conquistando apoio entre os jovens militares, que tradicionalmente votam pela direita. Em Israel, o serviço militar é obrigatório a todos os cidadãos: dois anos e oito meses para os homens, e dois anos para as mulheres.

O período nas Forças Armadas tende a tornar os jovens mais conservadores, explica o professor de Ciência Política da Universidade Hebraica de Jerusalém e membro do centro de pesquisas Israel Democracy Institute, Gideon Rahat. “Quando saem do Exército e começam seus estudos em universidades, muitos mudam de opinião”, diz.

“Bibi soube sustentar bem o governo até agora e é a melhor opção para todos”, diz um soldado que pediu para não ser identificado.

O rapaz judeu de 18 anos acabou de começar o serviço militar, mas já anda armado com um fuzil pelas ruas de Jerusalém. Ele minimiza as acusações de corrupção contra o primeiro-ministro.

“Existe um ditado em Israel que diz algo como: ‘Um homem sábio não é aquele que não se envolve em problemas, mas aquele que sabe sair deles’. Netanyahu se envolveu com corrupção, mas todos cometem erros. E ele é sábio, vai conseguir resolver”.

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Ao seu lado, outro soldado do Exército israelense discorda e diz que votará no Kahol Lavan. “Em dez anos, Bibi não fez nada de positivo para o país e está envolvido em muita corrupção”, diz o soldado de 21 anos, que nasceu em Honduras, mas mora com a família em Israel há cinco anos.

“Acho que Gantz é a melhor opção porque é uma cara nova e foi general. Ele pode melhorar o país e torná-lo mais seguro.”

Identidade religiosa

Judeus ultraortodoxos rezam no Muro das Lamentações, em Jerusalém: ‘Seguros com Netanyahu’ – 06/12/2017
Judeus ultraortodoxos rezam no Muro das Lamentações, em Jerusalém: ‘Seguros com Netanyahu’ – 06/12/2017 (Lior Mizrahi/Getty Images)

Na maior parte dos casos, a forma como os israelenses votam pode ser explicada por sua identidade religiosa. “Quanto mais religiosas as pessoas são, mais elas tendem a apoiar os partidos de direita, e quanto mais seculares, mais votam pela esquerda”, explica o professor de ciência política da Universidade Hebraica de Jerusalém e membro do centro de pesquisas Israel Democracy Institute, Gideon Rahat.

Entre os chamados judeus religiosos, israelenses de famílias judaicas que seguem as práticas em seu dia a dia, Netanyhu costuma contar com grande apoio. Já os membros da comunidade Haredi, ou ultraortodoxa, votam nos seus próprios partidos.

É o caso de Yakov, de 32 anos, que vive com os pais. Ele decidiu apoiar o Agudat Yisrael, partido ultraortodoxo que faz parte da aliança Yahadut HaTorah, liderada pelo rabino Yaakov Litzman, atual vice-ministro da Saúde.

“Mas acredito que Netanyhu é um bom primeiro-ministro para o Estado de Israel. Estamos seguros com ele”, pondera Yakov no portão de Jafa, em Jerusalém.

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Como funcionam as eleições

Voto no papel na terra da inovação

Soldado israelense deposita sua cédula de votação em urna seção eleitoral próxima da Faixa de Gaza – 07/04/2019
Soldado israelense deposita sua cédula de votação em urna seção eleitoral próxima da Faixa de Gaza – 07/04/2019 (Amir Cohen/Reuters)

As seções eleitorais abrem às 8 horas (2h em Brasília) desta terça, 9, para um universo de mais de 6 milhões de israelenses com direito ao voto – ainda no papel nesta terra da inovação tecnológica. Doze horas depois, as urnas serão fechadas. As primeiras pesquisas de boca de urna devem ser divulgadas às 22 horas, mas os resultados oficiais costumam ser divulgados no dia seguinte.

Assim como nos Estados Unidos, a participação do eleitor não é obrigatória. Os principais candidatos têm feito grande campanha para os cidadãos dispenderem parte do feriado na missão de ir às urnas. Em especial, para convencer os 30% dos eleitores ainda estava indeciso até o último final de semana.

Além do Likud, de Netanyahu, e do Kahol Lavan, de Gantz, quase quarenta partidos estão concorrendo pelos 120 assentos do Knesset, o Parlamento israelense. Espera-se que, no máximo, catorze deles consigam os votos suficientes para superar a cláusula de barreira e entrar na Casa.

Nas urnas, os eleitores escolhem o partido de sua preferência, não um candidato específico. Os assentos do Knesset são divididos proporcionalmente com base no porcentual de votos em cada legenda.

Desde que o Estado Israel foi fundado, em 1948, nenhum partido conseguiu maioria absoluta. Por isso, as negociações sobre a formação de coalizões são normais e esperadas.

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Após o anúncio dos resultados, o presidente se reúne com as lideranças de todos os partidos para definir qual terá o direito de tentar formar um gabinete. O partido escolhido deve ser aquele com mais chances de compor alianças.

Seu líder terá um prazo inicial de 28 dias para as negociações de seu gabinete de coalizões, que pode ser estendido por mais catorze dias se for necessário. Caso o partido falhe em suas tentativas, uma segunda legenda ganhará o direito de tentar estruturar um gabinete.

“Se o segundo falhar também, o Knesset tem que convocar novas eleições”, explica o professor Gideon Rahat.

Nas eleições deste ano, ainda há muita indefinição em torno das possíveis coalizões. As últimas pesquisas de opinião, contudo, preveem maiores chances para Netanyahu e seu partido formarem um governo.

“Se o primeiro-ministro e o bloco dos partidos da direita religiosa ganharem, juntos, mais de sessenta assentos, eles devem formar uma coalizão que será muito similar à atual”, afirma Shmuel Rosner, analista do think tank The Jewish People Policy Institute (JPPI), de Jerusalém.

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Coalizão conservadora

Atualmente, Netanyahu já conta com o apoio dos partidos conservadores que integram o Knesset, entre eles os ultraortodoxos Shas, Bait Yehudi e Yahadut HaTorah e o centrista Kulanu.

Para conseguir formar sua própria coalizão, Benny Gantz precisará conquistar o apoio de algumas legendas conservadoras ou se aliar aos partidos árabes que também concorrem por vagas – o que não está em seu radar.

Os membros da direita religiosa já rejeitaram um governo com o ex-chefe das Forças Armadas. Porém, os mais moderados poderiam ceder e aceitar uma aliança em troca de propostas financeiras vantajosas.

Uma união com os partidos de origem árabe, entretanto, significaria uma mudança radical na política adotada até agora pelo Kahol Lavan que, apesar de se definir como uma legenda de centro, propõe uma política tão dura quanto a de Netanyahu em relação aos palestinos.

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A direita em defesa da maconha

Legalização da cannabis e ocupação total dos territórios palestinos

Moshe Feiglin, líder do partido Zehut, cumprimenta eleitores em Jerusalém – 04/04/2019
Moshe Feiglin, líder do partido Zehut, cumprimenta eleitores em Jerusalém – 04/04/2019 (Thomas Coex/AFP)

Na contramão dos partidos conservadores, o Zehut vem conquistando votos da juventude liberal israelense, que se cansou da política mainstream defendida pelo Likud de Netanyahu. Comandado pelo ativista Moshe Feiglin, a legenda tem como uma de suas principais pautas a legalização da maconha.

Apesar de se definir como membro da direita, a legenda apoia pautas consideradas progressistas, como a liberdade de escolhas educacionais, culturais e de saúde e a separação completa entre religião e Estado. Ao mesmo tempo, acredita no enxugamento do sistema de bem-estar social e defende a identidade judaica, o controle de Israel sobre os territórios palestinos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza e os valores tradicionais religiosos.

Feiglin foi membro do Likud e parlamentar no Knesset entre 2013 e 2015. Chegou a ser vice-presidente do Parlamento, mas foi expulso da legenda de Netanyahu e decidiu formar seu próprio partido. Até agora, ainda não declarou se pretende se aliar ao seu antigo partido em um novo governo.

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Daniel Zenoviv, no mercado Mahane Yehuda, reduto de Netanyahu em Jerusalém: voto para o Zehut – 06/04/2019
Daniel Zenoviv, no mercado Mahane Yehuda, reduto de Netanyahu em Jerusalém: voto para o Zehut – 06/04/2019 (Julia Braun/VEJA.com)

Com o slogan “Liberdade. Propósito. Identidade judaica”, o Zehut atrai eleitores com a promessa de legalização da maconha. Um comício recente em Tel Aviv reuniualguns milhares de eleitores.

Daniel Zenoviv, de 18 anos, votará pela primeira vez nesta terça. Ele já declarou seu voto para o partido conservador liberal. “Escolhi eles principalmente porque defendem a legalização da maconha, ao mesmo tempo em que são capitalistas”, afirma o jovem, que trabalha em uma banca de azeitonas e condimentos no mercado Mahane Yehuda. “A direita é o que Israel precisa. Seus políticos são mais fortes e sabem controlar melhor o país”, completa.

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As últimas pesquisas indicam que o Zehut possa conquistar até seis vagas no Knesset, um número expressivo para um partido pequeno que inicialmente foi visto como uma piada pelos seus adversários.

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Pessimismo e abstenção entre árabes

Para maioria dos palestinos, Netanyahu e Gantz não são diferentes

Vista de mesquita em Al-Aqsa, na Cidade Velha de Jerusalém: tudo igual – 14/03/2019
Vista de mesquita em Al-Aqsa, na Cidade Velha de Jerusalém: tudo igual – 14/03/2019 (Ahmad Gharabli/AFP)

Dois grandes partidos árabes atualmente fazem parte do Knesset: a coligação Ra’am, ou Lista dos Árabes Unidos, e o Ta’al, que se separou da lista no início do ano. Os dois grupos atraem grande parte dos votos dos israelenses de origem árabe.

Segundo o Escritório Central de Estatísticas de Israel, cerca de 20% da sociedade israelense é composta por árabes que possuem cidadania. Somente aqueles que contam com esse documento de identidade participam das eleições nacionais.

Por isso, muitos dos palestinos que vivem em Jerusalém não podem votar, apesar de possuírem direito legal de viver na cidade santa.

Uma pesquisa realizada pelo Centro Palestino sobre Políticas e Pesquisas, de Ramallah, na Palestina, mostra que os árabes israelenses estão pessimistas em relação às eleições. Em torno de 51% preveem que Netanyahu será reeleito, enquanto apenas 22% esperam a vitória do Kahol Lavan.

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Ainda Benjamin Gantz e seu Kahol Lavan sejam os escolhidos, 75% do eleitorado de origem árabe acredita que a situação continuará a mesma ou que ainda vá piorar. Somente 10% dos entrevistados vislumbram melhorias em uma questão vital: o atual conflito entre Israel e Palestino.

“A maioria dos palestinos acredita que as diferenças entre Gantz e Netanyahu são muito pequenas. Por isso, não espera mudança”, explica Khalil Shikaki, diretor do centro.

Para Shikaki, a comunidade árabe em Israel vê seus partidos no Knesset como forças isoladas, que não conseguem se enquadrar nas coalizões e aprovar medidas que os favoreçam. “Eles não se sentem representados como gostariam”, diz. “Isso essencialmente marginaliza o voto dos árabes e leva a uma participação cada vez menor da comunidade nas eleições.”

O palestino Issa Fahran, de 48 anos, trabalha como motorista de táxi em Jerusalém e não tem direito ao voto em Israel. Ele se diz desiludido em relação a qualquer melhora na qualidade de vida os árabes diante da continuidade do atual governo.

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“Não posso votar, assim como muitos palestinos. Mas isso não faz diferença para nós. Tudo sempre continua igual”, diz.

A desigualdade entre árabes e judeus em Israel está presente nas universidades e no mercado de trabalho, onde há menos muçulmanos ocupando cargos de liderança ou com salários mais altos. Na educação pública, prevalece o segregacionismo. Por lei, crianças dos dois grupos não podem estudar juntas.

Para tentar burlar a política segregacionista do governo israelense e oferecer oportunidades iguais para todos, o projeto Hand in Hand abriu escolas integradas e bilíngues em seis cidades do país. Com mais de 1.900 estudantes, o grupo teve uma de suas escolas em Jerusalém incendiada por um grupo de ultra-ortodoxos extremistas em 2014. Hoje, a organização ainda se preocupa com ataques contra a comunidade árabe no país.

Lee Gordon, diretor do Hand in Hand, teme que Israel esteja cada vez mais tomada por grupos da extrema-direita e afirma que a continuidade do atual governo pode significar ainda mais violência e segregação. “Muitos árabes estão com medo do futuro”, diz. “Eles estão pessimistas e cínicos em relação aos processos de paz com a Palestina”.

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