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Cultura

Harry Potter, 20

Série de J.K. Rowling soma cifras milionárias e prova que bruxinho se consagrou como clássico da literatura e do cinema, como a Alice de Lewis Carroll

por Heloísa Noronha Atualizado em 13 jan 2021, 12h54 - Publicado em
24 jun 2017
05h00

Série de J.K. Rowling soma cifras milionárias e prova que bruxinho se consagrou como clássico da literatura e do cinema, como a Alice de Lewis Carroll

Capa da 1ª edição britânica do livro ‘Harry Potter e a Pedra Filosofal’
Capa da 1ª edição britânica do livro ‘Harry Potter e a Pedra Filosofal’ (Divulgação/Divulgação)

Há vinte anos, mais precisamente no dia 26 de junho de 1997, algumas livrarias do Reino Unido recebiam o primeiro livro de uma autora desconhecida. Obscura a ponto de usar iniciais para abreviar Joanne Kathleen, seus dois primeiros nomes, e assim ocultar que se tratava de uma mulher. Na época, o mercado literário se baseava em um suposto preconceito de adolescentes contra escritoras. O título, Harry Potter e A Pedra Filosofal, teve uma modesta tiragem inicial de 500 exemplares, bancada pela Bloomsbury. Antes de a editora britânica aceitar publicar a história de um órfão que se descobre bruxo e vai estudar em uma escola de magia, o romance havia sido recusado por diversas casas editoriais – cujos profissionais provavelmente vão levar o arrependimento para o túmulo. Nas duas décadas que transcorreram desde o lançamento, Harry Potter não só revolucionou o mercado literário como emplacou nove blockbusters no cinema com a Warner, se tornou uma marca de produtos avaliada em 25 bilhões de dólares e inscreveu o seu nome na galeria dos clássicos universais da literatura, ao lado da Alice, de Lewis Carroll, e de Huckleberry Finn, de Mark Twain. Clique aqui para ler um trecho de A Pedra Filosofal.

Capa da edição brasileira de ‘Harry Potter e a Pedra Filosofal’
Capa da edição brasileira de ‘Harry Potter e a Pedra Filosofal’ (Reprodução/VEJA)
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Os números que permeiam o universo criado por JK são extraordinários. Publicada ao longo de dez anos, a saga foi traduzida para 79 idiomas e vendeu 450 milhões de exemplares em 200 territórios. Só no Brasil, onde o primeiro volume foi lançado em 1999, foram vendidos quatro milhões de exemplares. As aventuras do bruxinho ainda deram origem a duas franquias no cinema. A primeira, de oito longas baseados nos sete romances da série original, teve bilheteria total de 7,7 bilhões de dólares e alçou ao estrelato o trio Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint.

Agora, está em curso Animais Fantásticos e Onde Habitam, franquia decalcada de um livro derivado da série. O filme de estreia, com Eddie Redmayne, saiu em 2016 e faturou mais de 800 milhões de dólares. O segundo dos cinco previstos, programado para 2018, começa a ser rodado em duas semanas no Reino Unido. Johnny Depp, astro de Piratas do Caribe, já confirmou presença.

Cena do filme ‘Animais Fantásticos e Onde Habitam’, do diretor David Yates
Cena do filme ‘Animais Fantásticos e Onde Habitam’, do diretor David Yates (Reprodução/Divulgação)
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Harry Potter ainda ganhou parques temáticos em Orlando (EUA) e Osaka (Japão), uma vasta gama de produtos licenciados e uma peça de sucesso, Harry Potter e A Criança Amaldiçoada, que mostra a vida do herói na idade adulta. Em cartaz em Londres com casa sempre lotada (os ingressos estão esgotados até julho de 2018) e alvo de críticas positivas, o espetáculo deve ser encenado também na Broadway quando encerrar a temporada inglesa.

Cena da peça de teatro ‘Harry Potter e A Criança Amaldiçoada’, em cartaz em Londres
Cena da peça de teatro ‘Harry Potter e A Criança Amaldiçoada’, em cartaz em Londres (Reprodução/Divulgação)

Em 2003, a fortuna da escritora J.K. Rowling já ultrapassava o patrimônio da rainha Elizabeth II, segundo reportagem do jornal britânico The Sunday Times. Somava, então, 442 milhões de dólares. Hoje, é estimada em algo superior a 2 bilhões de dólares, segundo o New York Times. De acordo com a Forbes, revista americana que se dedica a listar os mais ricos do mundo em diferentes áreas e atividades, só nos doze meses entre junho de 2016 e junho de 2017, a autora faturou 95 milhões de dólares, graças em boa parte à venda do roteiro da peça Harry Potter e A Criança Amaldiçoada. Lançado em forma de livro, ele teve 4,5 milhões de cópias comercializadas no Reino Unido.

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J.K. Rowling
J.K. Rowling (Ray Tang/Anadolu Agency/Getty Images)

Por suas doações a organizações de caridade e pelo pagamento de impostos para o governo britânico, em 2012 a revista Entertainment Weekly chegou a “rebaixar” JK da galeria dos bilionários de destaque do planeta. Isso antes da peça e da nova franquia cinematográfica — e dos muitos livros adultos que escreveu sob o pseudônimo de Robert Galbraith, mas que não tiveram sucesso comparável ao do bruxinho que criou. Seja qual for a real fortuna da escritora, é garantido que se trata de uma quantidade “razoável” de dinheiro em comparação aos tempos de penúria em que criava sozinha a filha pequena em um minúsculo apartamento em Edimburgo, à base do que recebia como seguro-desemprego.

Manuscrito de Harry Potter que foi roubado e se tornou caso de polícia
Manuscrito de Harry Potter que foi roubado e se tornou caso de polícia (Reprodução/Twitter)
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É ainda dessa época o hábito de escrever a mão — coisa rara hoje, em o computador já cabe na palma da mão, em formato de celular, um manuscrito de Harry Potter vale muito. Com tino comercial afiado, que a leva a diversificar os produtos que lança ela mesma com a marca Harry Potter, agora JK Rowling prepara um livro com originais da série. Harry Potter: A Journey Through A History of Magic (Harry Potter: uma jornada pela história da magia), ainda sem título ou data de lançamento no Brasil, vai reunir escritos, rascunhos, esboços e ilustrações exclusivas feitas por J.K Rowling e por outros profissionais que trabalharam na saga. A pré-venda dos livros já está disponível no site da Bloomsbury, no clima do aniversário de 20 anos da saga.

Produtos licenciados da franquia Harry Potter em loja do parque temático em Orlando
Produtos licenciados da franquia Harry Potter em loja do parque temático em Orlando (Divulgação/Divulgação)

O fato é que Rowling merece cada pence que ganhou. Seu sucesso deve-se a vários fatores, entre os quais a habilidade em se desdobrar em diferentes plataformas, a facilidade para se comunicar pelas redes sociais, a coragem de se posicionar diante de temas relevantes, como a ascensão de Donald Trump nos Estados Unidos, e a preocupação em corresponder às expectativas dos fãs. Em 2011, ela lançou o site Pottermore.com, que oferece conteúdo exclusivo e diferenciado para os admiradores da série, que podem, assim, permanecer conectados com ela.

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O fator mais relevante, porém, é mesmo o talento para reunir personagens instigantes e humanos o suficiente para provocar identificação com o público em aventuras cheias de suspense, reviravoltas e, claro, magia, personagens capazes de conquistar novos leitores e admiradores a cada geração. Mais do que fazer com que jovens do mundo inteiro se dedicassem à leitura, Rowling lançou sobre eles um feitiço irreversível: o prazer de ler.

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