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“Coloquei dinheiro do meu bolso”, diz presidente do Fortaleza

Marcelo Paz conta como tirou o time da Série C para levá-lo a uma final internacional

Por Pedro Gil Atualizado em 4 jun 2024, 10h17 - Publicado em 21 out 2023, 08h00

Sempre fui apaixonado por futebol. Tudo relacionado ao esporte me fascinava, do jogo de botão ao videogame. Como quase toda criança, meu sonho era ser jogador. Até que fui longe: cheguei a treinar no sub-17 do Fortaleza, mas meus pais queriam que eu estudasse. Como sempre tive perfil de liderança, escolhi prestar administração de empresas. Anos depois, dirigir o meu time do coração foi o encontro da paixão com a vocação.

Como torcedor, acompanhei da arquibancada os oito anos consecutivos que disputamos a terceira divisão. Foi um período terrível. Eu não suportava ver o Fortaleza ser chacota de rivais e, por isso, pensei em fazer algo pelo time que amo. Comecei a me aproximar do clube em 2014, ainda na terceira divisão. Em 2015, assumi meu primeiro cargo como diretor de futebol. Em 2017, virei vice-presidente. No fim do ano, me tornei presidente.

Naquela época, o clube tinha um déficit estrutural muito grande. Do vestiário ao campo. Cheguei a participar de uma vaquinha para comprar material de treino, como cone e colete. Os campos não tinham drenagem. A academia, meu Deus do céu, era muito antiga. A sala de preleção, improvisada. O hotel dos jogadores, péssimo. Ao longo da caminhada, tivemos seguidos apuros financeiros, o fluxo de caixa não fechava. Eu mesmo emprestei dinheiro do meu bolso para o clube.

Quando assumi, meu objetivo era apenas que o time saísse da Série C. E olha aonde chegamos: à final da Copa Sul-­Americana. O Rogério Ceni, o primeiro treinador que contratei, foi muito importante no processo de profissionalização do futebol. Ele chegou em 2018, o ano de nosso centenário. Dali por diante, começou a entrar um pouco mais de recursos e o torcedor se reaproximou do clube. Tínhamos então 7 500 sócios-torcedores, agora são 42 000. Saímos da Série C, sem cotas de patrocinadores, para a Série A, com cotas de clubes de primeira divisão. Nosso orçamento anual saltou de 24 milhões para 300 milhões de reais. Por isso eu digo que o camisa 10 do Fortaleza é o salário em dia. Aqui, os jogadores sabem que o mês tem trinta dias e que a premiação vai sair direitinho. Isso atrai e retém talentos.

Com essa política, conseguimos dar passos importantes. Vencemos duas Copas do Nordeste, cinco estaduais e fomos para a Libertadores. Mas a vida não é uma linha reta e é claro que existem percalços. No campo esportivo, também passamos por questionamentos após uma sequência complicada de jogos sem ganhar. A própria saída do Ceni, em 2020, foi um momento bem difícil, no meio do campeonato, e sem tempo para contratar jogadores. Sofremos bastante e quase caímos para a segunda divisão.

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No ano passado, participamos pela primeira vez da Libertadores, mas não conseguimos conciliar o principal campeonato do continente com o Brasileirão. Para mim, foi muito simbólico. Ficamos vinte rodadas na zona de rebaixamento. Viramos o turno com 15 pontos, na última posição. Até então, todos com essa pontuação tinham sido rebaixados. Muitos pediram a demissão de nosso técnico, o Juan Pablo Vojvoda, mas confiei no trabalho dele — e deu certo. No final, escapamos do rebaixamento. Este é um dos segredos de nossa gestão: continuidade e confiança.

Nas dificuldades, algumas pessoas são cruéis. Fui chamado de desonesto. Até meu filho de 12 anos recebeu amea­ças pelas redes sociais. Em certos momentos, pensei em largar o clube. Felizmente, continuei. No final de 2024, quero entregar um clube melhor para o sucessor, saudável financeiramente e com práticas modernas de gestão. A cereja no bolo seria um título internacional, a Copa Sul-Americana. Estou vivendo um sonho. Tudo valeu a pena.

Marcelo Paz em depoimento dado a Pedro Gil

Publicado em VEJA de 20 de outubro de 2023, edição nº 2864

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