Confira mais mensagens trocadas por Bruno Henrique e familiares sobre apostas
Relatório da PF com as conversas será enviado ao MP-DF e se encaminhado à justiça, os indiciados viram réus

Novas mensagens do irmão do jogador Bruno Henrique deram mais informações sobre o esquema de apostas investigado pela Polícia Federal que indiciou o atleta e outras nove pessoas. O programa Fantástico revelou neste domingo, 20, conversas entre Wander Júnior, apelidado de Juninho e irmão do atacante do Flamengo, com familiares e apostadores. O conteúdo está no relatório da PF que será encaminhado ao Ministério Público do Distrito Federal, onde aconteceu a partida investigada, e se o caso for levado à justiça, os indiciados se tornam réus. No âmbito desportivo, Bruno Henrique pode ser suspenso ou até eliminado do futebol profissional pelo STJD.
Antes do confronto
A disputa entre Flamengo e Santos, no dia 1º de novembro de 2023, chamou a atenção extra-campo com uma alta concentração de apostas em cartão amarelo para Bruno Henrique, da equipe rubro-negra, o que se confirmou nos acréscimos do segundo tempo. Dois meses antes, em 29 de agosto de 2023, Wander conversou com o irmão sobre a quantidade de cartões amarelos que o atleta havia recebido e o jogador indicou que “Contra o Santos” receberia uma punição. Em 16 de outubro, o irmão pergunta: “Tá com dois de novo, hein? Quando for tomar o terceiro, avisa”, mas recebeu “Me chamou para falar isso? Tá de brincadeira” do atacante.
Em 9 de novembro, o irmão de Bruno Henrique trocou mensagens com a esposa, Ludymilla Araújo Lima, indiciada no caso por estelionato, sobre valores em conta de aposta. “Tem mais de 360 reais de crédito de aposta nessa conta sua para jogar, se eu não jogar eu vou perder”, Wander enviou à mulher. Em seguida, ele pede a troca da senha da conta para que ele possa jogar. A Polícia Federal investiga se a conta era operada pelo marido.
Três dias antes da partida, Bruno Henrique procurou Wander questionando por mensagem se ele se lembrava do que tinham conversado. O irmão parece não entender muito bem e recebe uma ligação do jogador. A polícia acredita que a chamada abordou a possibilidade de o atleta receber um cartão amarelo contra o Santos.
Na véspera da partida, em 31 de outubro de 2023, Wander trocou mensagens com a mãe sobre não conseguir mais fazer apostas para que Bruno Henrique recebesse o cartão amarelo: “Não está mais aparecendo dele.” A mãe pergunta se não há a possibilidade de abrir no dia seguinte, mas o filho afirmou não poder “ficar dando muita informação” por mensagem. Antes do jogo, ambos também trocaram dados de CPF, emails e datas de nascimento para abrir novas contas, além de Wander enviar à mãe boletos de pagamentos das casas de apostas.
Durante a partida
A investigação da PF também encontrou mensagens trocadas entre Wander e amigos apostadores durante a disputa com o Santos no Mané Garrincha. Na conversa, os integrantes do grupo reclamam do árbitro da partida e o irmão do jogador escreve “Já era para ter dado” e outro membro afirma que “Deve tomar agora”, em que estariam insatisfeitos com a demora para Bruno Henrique levar o cartão.
Até o dia do jogo, a PF localizou 14 apostas para que o atacante rubro-begro recebesse cartão amarelo contra o Santos, de 13 casas de apostas diferentes, sendo que seis contas foram criadas na véspera do confronto. A suspeita de manipulação também se intensificou pela alta concentração dessas apostas na cidade natal do jogador, em Belo Horizonte.
Pós-jogo
Após o apito final, o pai de Wander mandou mensagem: “Oi ganhou aí”. O filho respondeu que sim, e quando o pai escreveu “Ganhou uns 5 mil”, respondeu “O pai dá para ficar falando aqui não, mas foi 4”.
Os pais de Bruno Henrique e Wander não foram indiciados pela Polícia Federal, pois a investigação não encontrou evidências de que os dois tiveram benefícios financeiros com as apostas.
Em 12 de dezembro, Juninho, mandou mensagem para o irmão pedindo um empréstimo, pois o dinheiro da aposta do cartão amarelo foi bloqueado, e os R$3 mil que havia apostado iriam render R$12 mil, mas a aposta estava sob análise. Wander pediu um empréstimo de R$10 mil reais ao jogador que retornou com “Vou ver isso aí Juninho”.
Um ano após o jogo, Bruno Henrique virou alvo da Polícia Federal em novembro de 2024. A operação Spot-Fixing cumpriu mandados de busca e apreensão na casa do jogador, no centro de treinamento do Flamengo e na sede do clube após uma comunicação da Unidade de Integridade da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) arquivou o caso em setembro do mesmo ano por não ver irregularidades.
Com o relatório da PF enviado ao Ministério Público do Distrito Federal, dez pessoas foram indiciadas, incluindo o atleta e seu irmão. O MP agora irá decidir se encaminha a denúncia à Justiça, o que tornaria os indiciados em réus. O STJD também irá analisar a documentação no âmbito esportivo, e o jogador pode atuar normalmente se não houver pedido de suspensão preventiva, porém, a Procuradoria pode suspender ou até eliminar Bruno Henrique do futebol profissional ao final do processo.
A defesa do jogador divulgou uma nota ao Fantástico em que afirma: “O atleta Bruno Henrique é conhecido e respeitado por sua simplicidade e comprometimento com o esporte. Nunca esteve envolvido em esquemas de apostas. Pelo contrário, acredita que o negócio de apostas deveria sofrer cada vez mais restrições pelas autoridades. As distorções que estão sendo causadas pela interpretação e divulgação indevida de mensagens privadas, fora de contexto, serão esclarecidas no curso do processo. O atleta confia que o Poder Judiciário oportunamente corrigirá a injustiça que está sendo cometida.”
O Flamengo também se pronunciou por meio de nota na última terça, 15: “O Flamengo não foi comunicado oficialmente por qualquer autoridade pública acerca dos fatos que vêm sendo noticiados pela imprensa sobre o atleta Bruno Henrique. O Clube tem compromisso com o cumprimento das regras de fair play desportivo, mas defende, por igual, a aplicação do princípio constitucional da presunção de inocência e o devido processo legal, com ênfase no contraditório e na ampla defesa, valores que sustentam o estado democrático de direito.” O contrato com o clube tem duração até dezembro de 2026.