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Disputa entre Simone Biles e Rebeca Andrade deixou ginástica melhor, diz cineasta

Em entrevista a VEJA, a americana Katie Walsh falou sobre bastidores das filmagens da segunda parte da série sobre ginasta americana

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 2 nov 2024, 10h34 - Publicado em 2 nov 2024, 10h32

Na primeira parte de O Retorno de Simone Biles, documentário em dois episódios disponível na Netflix, a ginasta americana fala sobre a desistência de continuar competindo na Olimpíada de Tóquio e sobre os problemas de saúde mental que a fizeram tomar essa atitude drástica. No desde o fim de outubro, a segunda parte da série documental, que foi ao ar no fim de outubro, mostra os bastidores de como foi a conquista do ouro olímpico em Paris 2024. O Brasil aparece brevemente no fim, representado pela ginasta brasileira Rebeca Andrade, com quem a americana estabeleceu uma relação de respeito e amizade. Além de revelar detalhes inéditos sobre as filmagens e a relação especial com a atleta, a diretora Katie Walsh destaca a importância da saúde mental na vida da campeã. A seguir, um resumo de como foi a conversa:

Que diferenças você notou em Simone ao filmar a primeira e a segunda partes do documentário. Qual a sua visão sobre isso? O ponto alto deste projeto foi poder filmar Simone ao longo de um ano inteiro, incluindo sua entressafra, quando ela tem menos competições, e sua temporada competitiva. Tentamos organizar nossa agenda e entrevistas com base nisso. A primeira metade da série se passa, em parte, durante sua entressafra, quando ela tinha mais tempo e espaço mental. Conseguimos nos aprofundar em sua história, falar sobre seu passado e assuntos mais sensíveis ou emocionais. Ela não tinha a pressão de competir na semana seguinte.

O que nos traz a segunda parte? Já a segunda parte da série se passa durante a temporada competitiva, com todo o estresse e intensidade que isso acarreta. Tentamos nos manter focados no momento presente. Fui muito cuidadosa com o tempo que pedia a ela para entrevistas, pois sabia que seu tempo era precioso, especialmente durante a temporada competitiva. Queria ter certeza de que estávamos colocando suas necessidades acima das nossas.

Essa organização foi planejada? Sim, planejamos. Tínhamos tempo suficiente para acompanhar os altos e baixos da entressafra e da temporada. Além disso, comecei a filmar com Simone em 2019, então já tínhamos uma relação de confiança estabelecida quando começamos a filmar a segunda parte da série. Eu já entendia melhor sua rotina de treinos e competições, o que me permitiu antecipar suas necessidades em cada etapa do ano.

É difícil perguntar, mas como você sentiu Simone durante os Jogos Olímpicos de Paris? Simone sempre foi muito generosa com seu tempo, e isso não mudou durante as Olimpíadas. Tentamos ser cuidadosos para não tomar muito tempo dela e respeitar suas necessidades. Ela obviamente não tinha muito tempo livre entre competições e treinos, os dias eram corridos e agitados, mas ela sempre encontrava tempo para nós quando precisávamos. Trabalhamos em colaboração, eu conversava com ela para ver o que funcionava melhor. Se não fosse um bom momento, ela me dizia e remarcávamos. As necessidades dela como atleta eram nossa prioridade.

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Você acha que Simone superou tudo o que aconteceu com ela, como a depressão? Como você a sentiu durante esse processo? Estou impressionada com a força dela. Foi uma grande luta para Simone após Tóquio, descobrir como cuidar de sua saúde mental e decidir se queria e podia voltar a competir. Ela priorizou sua saúde mental durante todo o processo, inclusive nas Olimpíadas. Ela faz terapia regularmente e encara as sessões como parte de seu treinamento. Se ela treina duas vezes por dia, também tem uma sessão de terapia, como parte da rotina. Percebi uma grande mudança em sua capacidade de lidar com a pressão e as expectativas. É claro que as expectativas continuariam lá, mas acho que ela usou as ferramentas certas para cuidar de si mesma e colocar sua saúde mental em primeiro lugar.

Simone Biles, Rebeca Andrade e Jordan Chiles - Olimpíada de Paris 2024
Simone Biles, Rebeca Andrade e Jordan Chiles – Olimpíada de Paris 2024 (Jean Catuffe/Getty Images)

Você certamente teve contato com a equipe brasileira de ginástica. Qual a sua opinião sobre a relação entre as equipes americana e brasileira? Simone e Rebeca Andrade são atletas incríveis e seres humanos maravilhosos. Rebeca é muito elegante e segura de si, e sei que Simone a respeita e admira muito sua ginástica. Você pode ver a relação delas no ginásio, se abraçando, parabenizando e apoiando uma à outra. É uma rivalidade saudável, pois ambas se tornam atletas melhores por causa da outra, buscando sempre o seu melhor. Elas criaram uma competição incrível para nós, pois ambas são excepcionais. Sei que elas se respeitam muito, é ótimo de se ver.

Como você vê os filmes sobre esportes hoje em dia, tanto documentários quanto ficção? Você acha que o cinema ainda não explorou o esporte o suficiente? Posso ser um pouco tendenciosa, mas acho que documentários, especialmente sobre esportes, são fascinantes e interessantes de assistir. Não podemos nos conectar com atletas como Simone e Rebeca em termos de habilidade, pois elas são muito melhores do que jamais poderíamos ser, mas podemos nos conectar com elas como pessoas. Muitas pessoas no mundo lutam com sua saúde mental, e ver alguém como Simone encontrar um caminho pode ser inspirador. Essa é a beleza dos documentários esportivos: às vezes não se trata apenas do esporte, mas das pessoas, dos seres humanos. E esse é um tema universal.

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