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‘Eu já sofri muito com racismo’, diz Grafite sobre praga que acomete futebol

Ex-jogador do São Paulo e da seleção também foi vítima do crime em 2005, em jogo contra time argentino

Por Natalia Tiemi Hanada Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 mar 2025, 19h17 - Publicado em 23 mar 2025, 16h00

No dia 13 de abril de 2005, Grafite, então jogador do São Paulo, foi alvo de insultos racistas na Libertadores. O argentino Leandro Desábato ofendeu o brasileiro no meio de uma partida contra a equipe Quilmes. Quase 20 anos depois, o jogador do sub-20 do Palmeiras, Luighi Hanri, é vítima de cuspes e ofensas racistas do público na na categoria de base da mesma competição em jogo no Paraguai contra o Cerro Porteño. É de se esperar que em duas décadas, a situação tenha mudado, mas se o presidente da Conmebol continua dando sinais de retrocesso, o questionamento do jovem atleta alviverde persiste: “Até quando?”

Como um episódio de racismo, como o que aconteceu com os jogadores do sub-20 do Palmeiras, afeta um jogador de futebol? Eu falo por experiência própria que no momento da partida, quando acontece, o jogador perde a razão. O jogo fica em segundo plano, você não consegue raciocinar direito, tu perde a razão, age com a emoção, com a raiva, com o sentimento de impotência, com o sentimento de inferioridade. Porque se você é julgado pela cor da sua pele, não pela pessoa que você é ou pelo que você desempenha em campo, infelizmente é muito difícil manter o foco. É muito difícil você se manter resiliente. O Luighi já tava saindo do jogo, ele não conseguiu mais se concentrar no jogo, no que tava acontecendo dentro do jogo, talvez se ele tivesse dentro de campo, certamente, ele perderia a concentração.

Você foi alvo de um episódio de racismo como jogador em 2005. Como isso te afetou? Eu fui expulso da partida que eu fui ofendido. Naquele momento me afetou bastante, porque o que aconteceu após o episódio ainda não havia acontecido, um jogador de futebol ser preso por conta de ofensas racistas dentro de um campo de futebol. Eu já sofri muito com racismo ao longo da vida, não só dentro de campo, mas ao longo da minha infância e adolescência. Só que naquela época, final dos anos 90, começo dos anos 2000, era normal ficar dentro de campo quando aquilo acontecia dentro de campo. Hoje em dia não é mais. Mas no momento foi bem difícil porque tinha muita gente do meu lado me apoiando, mas também muita gente criticando.

Você enxerga melhoras para lidar com esse crime? A melhora que teve foi muito insignificante. Hoje a ofensa racial é crime. Mas poucos foram presos até agora. A gente teve na Espanha o caso dos torcedores que hostilizaram o Vinícius Júnior, que foram condenados, iam ser presos, mas fizeram acordo, e estão em liberdade. Eles não podem frequentar o estádio, mas estão levando a vida como se nada tivesse acontecido. Devem estar na casa deles, agora xingando o Vinícius Júnior. Aqui no Brasil existe o crime, mas toda vez que acontece, fica a palavra de um contra o outro. Foi assim no caso de Denilson. E acaba não acontecendo nada. É um crime cometido todos os dias, não só com pessoas conhecidas como eu, mas também com pessoas anônimas no dia a dia. Tem que haver punição, porque é fundamental para que possamos diminuir cada vez mais os casos, mas tem que haver uma prevenção também.  Infelizmente, o racismo aqui no Brasil, na América do Sul é como botar fogo no jornal. Quando acontece todo mundo se comove, manda mensagem de apoio. “Tamo junto, Luighi, Grafite, goleiro Aranha”, mas passam alguns dias, uma semana, e ninguém mais fala sobre, até acontecer um outro caso, que agora acontece com muita frequência. Mesmo sendo um crime no Brasil é um episódio que é esquecido. Hoje em dia, as pessoas já estão falando bem menos do que deveria do caso Luighi. 

O Luighi denunciou o ocorrido, mas segue sendo um indivíduo contra uma organização inteira que não pune com rigidez casos de racismo. Como você acha que jogadores como ele, o próprio Vini Jr. podem ajudar nesses casos? No caso do Luighi, no caso do Vinícius, no meu caso, a gente tem que denunciar, tem que levar a fundo. Eu me arrependo muito de não ter levado o caso adiante em 2005. Quando foi para prestar queixa crime, eu recuei, não dei continuidade porque eu estava sozinho na luta. No começo, quando acontece um caso como esse, tem muita gente ao lado apoiando tudo, mas com o tempo as pessoas vão saindo, acaba virando uma luta injusta porque é você contra o sistema. Minha família e minha filha já estavam sofrendo algumas pequenas retaliações. Minha filha chegava chorando em casa porque as crianças estavam tirando sarro dela. Então não estava sendo benéfico para mim e para minha carreira.  Eu fui egoísta de pensar em mim mesmo. Não pensei nas outras pessoas que sofrem com isso. Se fosse hoje eu levaria adiante. A gente tem que levar adiante para dar voz àquelas pessoas que não tem essa voz, esse palanque que eu tenho, que não tem a condição de ser ouvido da maneira que eu sou ouvido.

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Se posicionar nesses casos, afeta a carreira deles? Quando as coisas não andam bem dentro de campo, a bola começa a não entrar, o time começa a perder, viver uma má fase, o jogador não vive um bom momento, tudo que é feito fora de campo é um estopim, um culpado para ele estar mal dentro de campo. Então, dentro do futebol é muito difícil os atletas se posicionarem muito por conta da falta de conhecimento, da retaliação, de dirigentes, de torcedores.

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